28 fevereiro, 2007

 fotografiafalada


Sacavém, Lisboa. (© Patrícia Almeida)

Gosto de fotografar de um ponto alto. De cima para baixo. E gosto desta composição da figura no espaço e mesmo da posição dele. Interessa-me fotografar pessoas num estádio intermédio, quando estão à espera de alguma coisa, a entrar, a sair, a observar. Tento captá-las quando estão numa acção não muito concreta, que pode vir a acontecer, mas que ainda não está lá, ainda está fora da imagem. Essa acção vai acontecer a seguir, numa fase que já não vemos.
Aqui não estamos perante um personagem, mas uma figura. Tento encontrar espaços onde exista alguém, uma pessoa. Isso faz com que o espaço ou a paisagem sejam activados e se criem relações através de determinada acção. O espaço passa a ter outra leitura. Com pessoas o espaço deixa de ser apenas topográfico, é já o sítio onde acontece ou pode acontecer qualquer coisa. Isso tem a ver também com o título
Locations, uma ideia difusa de lugar, a posição de qualquer coisa em relação ao espaço.
(Patrícia Almeida)


Locations, de Patrícia Almeida
[Kgaleria]
Rua da Vinha, 43A
Tel.: 21 343 16 76
Email: kgaleria@kameraphoto.com
De quarta a sábado, entre as 15h00 e as 20h00.
Até 24 de Março

27 fevereiro, 2007

Blaufuks vence Bes Photo


I Spy, da série Collected Short Stories, 2003 ( © Daniel Blaufuks)


Daniel Blaufuks venceu a edição deste ano do Bes Photo, o maior prémio de fotografia atribuído em Portugal. O nome escolhido pelo júri foi anunciado esta noite. Para além de Blaufuks, chegaram à fase final do galardão Vasco Araújo, Susanne S. D. Themlitz e Augusto Alves da Silva. Do júri de premiação fizeram parte Kate Bush (directora da Barbican Art Gallery), Manuel Castro Caldas (director do Ar.Co), Olga Sviblova (directora e curadora do Moscow House of Photography), Pepe Font de Mora (director da Fundación Foto Colectania) e Tereza Siza (directora do Centro Português de Fotografia).
Daniel Blaufuks junta-se a Helena Almeida e a José Luís Neto, vencedores das duas edições anteriores.
Fotógrafo lisboeta descendente de judeus polacos e alemães, Blaufuks (n.1963), começou a estudar fotografia no Ar.Co (Lisboa), continuou no Royal College of Art (Londres) e na Watermill Foundation (Nova Iorque). No final dos anos 80, os jornais Blitz e Independente publicaram as suas primeiras imagens. Em 1991, colabora com o escritor americano Paul Bowles em My Tangier, projecto a partir do qual a sua fotografia fica ligada à literatura, paixão antiga à qual nunca se entregou "por falta de confiança" nos seus talentos. Para além do suporte fotográfico usa outros meios para apresentar as suas obras, como o vídeo e os diários fac-similados. Em 1994 publica os London Diaries e, um ano depois, apresenta Ein Tag in Mostar. Uma Viagem a São Petersburgo surge em 1998. Mais recentemente, em 2003, publicou Collected Short Stories, um conjunto de dípticos fotográficos que se apresentam como "uma escrita de instantâneos" para cruzar público e privado.
Tem também um trabalho paralelo como documentarista. O primeiro filme nesse registo, Sob Céus Estranhos (2002), aborda a passagem de refugiados judeus por Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial. Paisagens Invertidas (2002) reflecte sobre a arquitectura portuguesa e Um Pouco Mais Pequeno que o Indiana (2006) problematiza a paisagem e a memória colectiva em Portugal.
A série que mostrou no Centro Cultural de Belém deu a ver imagens de Terezín (antes chamada Theresienstadt, República Checa), uma localidade transformada em campo de concentração pelos nazis alemães.
As respostas de Daniel Blaufuks ao *Três perguntas a... estão aqui.

paris+londres

© Lisa Kereszi, Gael dressing, State Palace Theater, New Orleans, 2000
(cortesia da Yansey Richardson Gallery, Nova Iorque)

A Reed Exhibitions, proprietária e organizadora da Paris Photo, a maior feira de fotografia do mundo, comprou, em Novembro do ano passado, a photo-london, que se realiza durante a Primavera há três anos. Daniel Newburg, fundador do encontro da capital inglesa, permanecerá como director criativo.
Ao contrário da Paris Photo, que abarca um período muito alargado da fotografia, a photo-london vai centrar-se apenas na fotografia contemporânea desde 1970. A carta de intenções é ambiciosa: "mostrar a diversidade de temas, conceitos, estilos e técnicas exploradas por artistas desde o documental à fotografia conceptual, assim como a imagem combinada com outras formas de expressão artística como o áudio, o vídeo e a instalação".
Para mostrar os novos rumos da fotografia, a organização escolheu um espaço erguido no século XIX: Old Billingsgate, um renovado mercado que fica perto da City.

photo-london
entre 31 de Maio e 3 de Junho
Old Billingsgate
1 Old Billingsgate Walk, 16 Lower Thames Street, Londres

*Três perguntas a...


Augusto Alves da Silva, sem título, 2005-2006
(cortesia Galeria Fonseca Macedo, Ponta Delgada)

Na volta do correio ao *Três perguntas a..., Augusto Alves da Silva, um dos finalistas do Bes Photo, remete para as respostas que deu a Ricardo Nicolau publicadas no catálogo da exposição. Ficam algumas passagens dessa conversa:

Para mim, que gosto de clareza, o negócio da venda de obras de arte, o mundo galerístico, é o sistema mais turvo que conheço. O que eu valorizo nas encomendas institucionais é não ter de pensar em vendas.

A fotografia suscita sempre um grande equívoco, que sempre me fascinou: toda a gente tira fotografias, toda a gente tem máquinas fotográficas. As pessoas que me estão a encomendar um trabalho julgam que sabem exactamente o que é e para que serve a fotografia e já têm um modelo na cabeça do que pretendem, que normalmente é o modelo standard de reportagem que melhor lhes pode publicitar a instituição.

Aquele pressuposto de que a fotografia é um gerador de estereótipos, e que a forma como as imagens são contextualizadas modifica o que se vê, coloca a pessoa que trabalha com esse medium numa posição delicada, em que tem sempre de pensar nas implicações éticas de gerar determinado tipo de imagens e de as fazer circular.

Tento construir uma espécie de universo fotográfico em que não abdico da sofisticação, mas em que qualquer pessoa pode, à partida, ver alguma coisa com que se identifique. Depois ensaio formas de interferência entre as imagens que possam criar uma espécie de curto-circuito que, idealmente, deveria fazer rebentar a instalação dentro da cabeça, fazer saltar os disjuntores do quadro (...).

Quero que as minhas imagens, porque aparentemente cristalinas, possam cativar quaisquer pessoas, para depois confundi-las. Se se sentirem confusas é porque estão a raciocinar. Talvez comecem a não tomar como garantido aquilo que está à frente delas. Isto de que estou a falar, por mais perigosa que seja a palavra, é claramente da ordem da ideologia.

O enquadramento é o primeiro acto de manipulação. Não há forma mais imediata de mostrar o que é uma fotografia que mostrar alguém a fotografar.

25 fevereiro, 2007

reinventar

Print screen do ensaio The Oscar

É por sites como o da Magnum que damos graças por existir uma ferramenta como a internet. Por aqui percebe-se bem porque é que a agência de fotografia mais reputada do mundo continua viva e de boa saúde. Por aqui percebe-se que está atenta ao que de melhor se faz na net reinventando formas de divulgar o trabalho dos seus artistas.
Entre várias secções onde apetece ficar muito tempo, destaque para o longo portfolio de Raymond Depardon e a página In Motion, onde é possível encontrar ensaios temáticos organizados em exclusivo para o site e descarregar vídeo podcasts. No blog da Magnum, o último post retoma a "má" experiência que Martin Parr teve ao fotografar no Brasil e a discussão acerca do direito à imagem e a fotografia de rua.


Os vídeo podcasts podem ser descarregados de forma gratuita

24 fevereiro, 2007

viajar


Para quem, como eu, não pode ir a Washington ver a exposição Paris in Transition... pode contentar-se com este livro da Taschen, que faz, à sua maneira, uma viagem pela iconografia da capital francesa. A escolha recai sobretudo em imagens do século XX, mas há também muitas fotografias do século XIX. Jean-Claude Gautrand, fotógrafo, jornalista e historiador da fotografia, assina o ensaio Paris e a fotografia.



Paris, mon amour
Jean-Claude Gautrand, Taschen, 2004.
249 pgs, 9,99 euros

23 fevereiro, 2007

Warhol, 20 anos

Andy Warhol, Artist, Nova Iorque, 1969, Richard Avedon
(© National Gallery of Australia)

Andy Warhol morreu há 20 anos.

Richard Avedon mostra-nos o corpo mutilado, parte das feridas que sararam.
Helmut Newton revela-nos a transcendência, a pose altiva que nunca perdeu.

(Óscar Faria escreve no P2 de ontem sobre a efémeride)


Andy Warhol, Paris, 1974, Helmut Newton


entre aspas


Menina (© Colecção Particular)

Não se pode crescer? Pode. Mas já não se é mais o mesmo. Qualquer de nós, ao olhar para uma foto antiga, de chucha e fralda, dificilmente reconhecerá no estranho o seu eu. Pode adorar, enternecer-se, mas na verdade é outra criatura que sorri na foto. As etapas do crescimento geram vários ‘eus’ na voragem dos anos. A sorte, ou o azar, também se repartem de modo desigual por essas fases. Só as fotografias fixam, para a eternidade, esses seres que a vida desfigurou noutros, revolvendo-lhes os hábitos, as vestes, os pensamentos.


Nuno Pacheco, Metamorfoses, Público, 22.02.2007

21 fevereiro, 2007

samba e fotografia

As baianas com a vista do Rio de Janeiro estampada (© Agência FotoBR)

E hoje quem não é fotógrafo? (© Jorge Silva/Reuters)

E o tema dos Unidos da Tijuca deste ano foi... a fotografia.
O movimento frenético do samba tentou retratar o que é, por natureza, estático. O paradoxo é total. Só a imaginação carnavalesca do Brasil para tentar um exercício estilístico com este grau de dificuldade. Não vi o que se passou ao vivo, mas posso dizer que o resultado final é, pelo menos, muito fotogénico.
O desfile na Marquês de Sapucaí encenou momentos históricos e recordou algumas imagens emblemáticas.
Pode ouvir o samba dos Unidos da Tijuca aqui e lê-lo aqui.

O refrão da música composta por Jorge Remédio, Ivinho do Cavaco, Totonho e Silvão reza assim:

Em preto e branco ganhei a vida
O amarelo em mistério; ilusão
O azul no tom divinal
Nas fotos do carnaval
Sou a Tijuca nesta tela digital



A famosa fotografia de Steve McCurry que fez capa da National Geographic foi uma das protagonistas do desfile (© Jorge Silva/Reuters)

Embalada pelo filme de Clint Eastwood, a foto emblemática da batalha de Iwo Jima também passou pelo sambódromo (© Jorge Silva/Reuters)

19 fevereiro, 2007

 fotografiafalada

© Dean Sewell

Trabalho notável de um fotojornalista australiano que foi das primeiras pessoas a estar presente em Aceh, na Indónesia, uma das províncias que mais sofreu com o tsunami, em Dezembro de 2004. Quando se fala da fotografia de grandes catástrofes põe-se logo o problema da estetização da dor. Por um lado o fotojornalismo, que é extremamente imediato, responde logo à desgraça alheia, não dá tempo para as pessoas começarem a pensar em termos estéticos de composição da imagem. Há nesta exposição [INGenuidades...] imagens do furacão Katrina em que o ponto de vista é completamente diferente. Aqui não houve o pudor de evitar pessoas. Pelo contrário, a objectiva procura-as para dar ideia do drama desta familia que perdeu tudo e que anda por ali à procura dos restos que possam aproveitar da sua casa, todas as recordações.
(Jorge Calado)

*Três perguntas a...

© Susanne Themlitz, da série
Territórios e Estagnações Ambulatórias, 2006

Susanne S. D. Themlitz. Artista plástica lisboeta, de 38 anos. Vive e trabalha entre Lisboa e Colónia, na Alemanha. Tem formação de base de escultura e desenho (Ar.Co). À semelhança de Vasco Araújo, é uma das artistas seleccionadas para a fase final do Prémio Bes Photo que usa o suporte fotográfico em projectos não exclusivamente fotográficos (instalação, pintura). Extroversão (Agência Vera Cortês) foi a mostra que convenceu o júri a incluí-la na edição deste ano do prémio.

¿Por que é que misturas tintas com sais de prata?
Uma pergunta culinária... Metemos farinha nos crepes, alho nos bifes e sal nas batatas. Mas para chegar à resposta, o assunto parece-me menos culinário e mais existencial. Terra para o trigo, vacas para os bifes e água para as batatas, e muita outra coisa... para a série dos Errantes (entre também muita outra coisa) - tinta.

¿Dizes: Quando me vejo nos espelhos à volta, o tempo não anda, enquanto a imagem reflectida continua a crescer. A imagem do real já ultrapassou definitivamente a percepção que temos do real?
Não sou eu quem fala nos espelhos e na imagem reflectida. Escrevi sim o texto para o catálogo que funciona como peça: No Laboratório Introspectivo há duas pessoas a conversarem - Uma e Outrem. Acho que nem Uma nem Outrem se referem à ideia que a realidade é um carro na auto-estrada que pode ser ultrapassado (para usar a tua expressão) ou que ultrapassa outros que vão a passo de caracol. Trata-se menos de uma corrida, mas mais de raciocínios e de ligações sinápticas.

¿Os lugares-fábula oníricos e desconcertantes que nos dás a ver continuam a interessar-te? Para onde nos leva a seguir a tua imaginação?
Não faço ideia.

17 fevereiro, 2007

à venda 3

Álbum Salazar vendido no primeiro leilão (© David Clifford/Público)

O terceiro leilão de fotografia em Portugal já tem data marcada: 12 de Maio. Vai chamar-se Amadeo, uma referência ao pintor português que há bem pouco tempo arrastou multidões para a Gulbenkian. O local escolhido para a venda volta a ser o Centro de Convenções do Centro Cultural de Belém. Os lotes estarão disponíveis para consulta no espaço de um dos organizadores, a Potássio 4, entre os dias 9 e 10 de Maio.

16 fevereiro, 2007

molder

Jorge Molder, série Nox, 1999 (colecção particular)

O Prémio AICA/MC (Associação Internacional de Críticos de Arte/Ministério da Cultura), na categoria de artes visuais, foi este ano atribuído, por unanimidade, ao fotógrafo Jorge Molder. O júri, constituído por Ana Tostões, João Pinharanda, Nuno Crespo, Ricardo Carvalho e Rui Mário Gonçalves, afirma que Molder foi um dos artistas que “mais contribuiu para a importância alcançada por esse meio de expressão no contexto actual”. Por outro lado, “a sua coerência programática e conceptual ficou bem patente na sucessão de exposições de 2006 (Santiago de Compostela, Madrid, Coimbra e Lisboa)”.
Avesso à ideia de concursos, Jorge Molder confirma no Público de hoje que este é o primeiro prémio da sua já longa carreira. “É bom sentir que o nosso trabalho foi reconhecido pelas pessoas que estimamos”, disse congratulando-se com a sintonia entre os membros do júri.
Paulo David foi também reconhecido com o mesmo prémio na categoria de arquitectura. Os galardoados vão receber 10 mil euros cada.
No âmbito das comemorações dos 25 anos do Prémio AICA/MC, a organização prepara uma grande exposição retrospectiva que faz um balanço não só dos premiados, mas também da arte e da arquitectura portuguesa deste período.

höfer

Candida Höffer, Casa da Música Porto, 2006

No domingo, às 16h00, o sociólogo José Luis Garcia analisa as diferentes dimensões sociais, culturais e civilizacionais dos espaços intimistas fotografados por Candida Höfer. A exposição ainda pode ser vista até ao dia 25 de Fevereiro.


Local: Sala Polivalente do Centro de Exposições do CCB
Preço: entrada na exposição

15 fevereiro, 2007

como um flâneur

Charles Nègre (1820 - 1880), Tuileries Statue: Boreas Abducting Orithyia, 1859, albumina (National Gallery of Art, Washington)

Paris é a cidade da arqueologia da fotografia. As primeiras chapas de metal não foram lá sensibilizadas, mas foi lá que o daguerreótipo - o processo fundador que ficou para a história - se estreou no registo do real com a ajuda da luz.
A exposição Paris in Transition: Photographs from the National Gallery of Art foi inaugurada recentemente em Washington para mostrar as transformações da cidade e a evolução dos processos fotográficos desde as primeiras imagens conhecidas até aos anos 30. A ideia é sublinhar também a importância de Paris como cidade fotografada e como porto de abrigo de muitos pioneiros.
A National Gallery of Art afirma que o percurso foi organizado na perspectiva de um flâneur, ou aquele que vagabundeia sem destino pelas ruas e praças. A viagem começa com imagens de ruas e arquitectura, ainda de olhar extasiado, de Henry Fox Talbot, Gustave Le Gray, Auguste Mestral e Charles Nègre. A seguir, a partir de fotografias de Charles Marville, Louis-Émile Durandelle e Hippolyte-Auguste Collard, mostram-se as profundas mudanças urbanas que o barão de Haussmann, sob as ordens de Napoleão III, introduziu na capital francesa. Vem depois Eugène Atget, o fotógrafo que viu a cidade para lá da sua identidade abstracta captando o que lhe é peculiar e individual – a vida do dia-a-dia. É aqui que estão também as imagens de Alfred Stieglitz. Para a última parte, as imagens da uma cidade dividida entre a “nostalgia do passado” e a “vertigem da modernidade” captadas por fotógrafos que assentaram arraiais em Paris: André Kertész, Germaine Krull, Brassaï, Ilse Bing e Jaroslav Rössler.
Mais imagens da exposição aqui.


Brassaï (1899 - 1984), Couple at the Four Seasons Ball, Rue de Lappe, Paris, c. 1932 (National Gallery of Art, Washington)


Paris in Transition: Photographs from the National Gallery of Art
The National Gallery of Art, Washington

Até 6 de Maio

14 fevereiro, 2007

aprender

© Jeff Carter. Latoeiro a trabalhar, Narrandera, Austrália, 1955 (Cortesia do artista)

Em paralelo à exposição INGenuidades - Fotografia e Engenharia 1846-2006, a Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma série de visitas/conversas à hora do almoço e ao fim-de-semana. Aqui fica o programa:

» 15 de Fevereiro, Quinta, 13h00.
Arte e Documento: tensões, fronteiras e zonas de contacto, por Carla Mendes

» 18 de Fevereiro, Domingo, às 10h30.
Ingenuidades - das forças da natureza ao espaço sideral, por Carlos Carrilho

» 18 de Fevereiro, Domingo, às 16h00.
Do engenho à obra - o património das engenharias, por Maria Fernanda Rollo

» 22 de Fevereiro, Quinta, às 13h00.
Arte, ciência e técnica: uma breve história da fotografia

» 25 Fevereiro, Domingo, às 16h00.
Ética e Estética: documentar a tragédia, por Lígia Afonso

13 fevereiro, 2007

desconhecido

© Fernando Maqueira, gorila hembra, 2006

Ao vê-los assim – registados em suporte fotográfico – percebemos melhor o que está para além dos corpos. Apercebemo-nos da possibilidade de uma expressão. Pelo reflexo do outro damo-nos conta da imensidão do seu mundo. E questionamo-nos se algum dia chegaremos a um entendimento mínimo do que está para além deste olhar de doce melancolia.


fotoencuentros 07
Murcia e Cartagena, Espanha
(Sobre a representação do mundo animal e
a sua relação com a espécie humana)

12 fevereiro, 2007

*À conversa com...

Floresta afogada, Lago Argyle, formado pela barragem do Rio Ord, em Kununurra, Kimberley, Austrália Ocidental, 2003
(© Richard Woldendorp, cortesia do artista)


...Jorge Calado
É a exposição de fotografia do ano em Portugal. INGenuidadesFotografia e Engenharia 1846-2006 reúne 350 imagens vindas de museus, galerias e colecções privadas dos quatro cantos do mundo. Enquanto dava as últimas indicações na Galeria de Exposições Temporárias da Fundação Calouste Gulbenkian, o curador Jorge Calado, professor catedrático de Química do Instituto Superior Técnico, crítico de fotografia e ópera, falou da génese desta mega-exposição, das relações entre fotografia científica e arte e do elemento que lhe deu mais trabalho representar.

Que INGenuidades nos quer dar a ver com esta exposição?
As mensagens são várias. Isto é uma homenagem à capacidade criadora da Humanidade ao longo dos séculos, desde sempre. Por outro lado, quero também transmitir às pessoas que quando se cria alguma coisa está a destruir-se também. Embora exista esta imagem de que a terra é a nossa mãe, a terra é também a nossa filha. Estávamos habituados a chamar mãe à natureza, mas quem trata da natureza somos nós. Ela é da nossa responsabilidade. Temos de a conservar. Há aqui também uma mensagem ecológica e que se liga muito bem com a história que tento mostrar: a obra de arte de engenharia, nasce, cresce vive e morre. Há um ciclo e depois volta-se ao início, é a reciclagem.

Logo depois da apresentação genérica das forças da natureza aparecem imagens de obras grandiosas que envolvem a arte e o engenho do Homem. Porquê este contraponto?
As obras da engenharia são uma resposta às forças da natureza. Quando as forças da natureza são demasiado poderosas, nós temos de nos defender. A engenharia pode ser parte da solução. Por outro lado, a engenharia tira partido destas forças. Nesta secção [Grandes Maravilhas] quero dar também dois lados: o lado em que somos derrotados e o lado em que fomos capazes de mover rochedos para fazer obras grandiosas, como as pirâmides do Egipto ou as construções circulares de Stonehenge.

Não deve ter sido tarefa fácil organizar uma exposição com esta dimensão. Quanto tempo demorou a seleccionar as fotografias?
Já ando a pensar nisto há algum tempo. A ideia original nem foi minha. Foi dada por uma amiga da Austrália depois de ver a exposição À Prova de Água, no CCB [em 1998]. Conversámos algumas vezes sobre isto. Primeiro surgiu a ideia de fazer qualquer coisa relacionada com fotografia e ciência e só depois avancei para as engenharias.

Qual foi a maior dificuldade?
Não tive grandes dificuldades, para ser franco. Em termos de empréstimos até tive muita sorte, porque é muito raro numa exposição com esta dimensão – são 350 fotografias – pedir empréstimos e conseguir quase tudo, à excepção de uma imagem que até nem era fundamental.

Há aqui uma grande trabalho de memória...
Interesso-me muito por fotografia. Conheço bem a história e conheço bem a fotografia contemporânea. Vejo muita coisa. Isto está armazenado de alguma maneira dentro da minha cabeça. O difícil é arranjar um fio condutor, uma ideia para a exposição. Não andava a pensar nisto todos os dias, mas de repente pensei: mas porque é que não pego nos quatro elementos que é uma coisa que toda a gente percebe. É simples, é básico. Já anda na consciência colectiva há milhares de anos.

Que elemento foi mais difícil de tratar?
Para dar uma ideia forte do Ar, num certo sentido, foi difícil. Mas em termos de engenharia não. Há a engenharia aeronáutica, as pontes e o espaço.

Quis ser exaustivo na representação das diferentes áreas da engenharia?
Não. Há coisas que faltam aqui. Aquilo que falta pode ser sempre imaginado por quem vê. É um exercício.

Há na exposição alguma imagem que tenha sido comprada nos últimos leilões de fotografia que houve recentemente em Lisboa?
Sim, há uma fotografia. É de uma fábrica da Ford, em Inglaterra. É uma fotografia muito boa e de que gosto muito.

A partir de meados do século XIX o suporte fotográfico impôs uma nova maneira de fazer ciência e transmitir conhecimento científico. Esta exposição é também uma homenagem a essa nova maneira colectiva de ver e participar nas descobertas científicas e nos avanços das engenharias?
Sem dúvida. Isto é o resultado do progresso científico e técnico da altura. Dou-lhe dois exemplos que são ligeiramente diferentes, mas estão relacionados com isso. Há aqui muitas fotografias australianas e americanas porque o aconteceu foi que estes dois continentes foram desbravados e explorados durante o século XIX, numa altura em que já existia a fotografia. Portanto, todo o levantamente geológico, a construção do caminho de ferro, a construção do telégrafo, a exploração e a prospecção mineira foram sempre acompanhadas pela máquina fotográfica. As próprias dificuldades que a engenharia tinha impuseram melhoramentos na técnica fotográfica. As duas coisas estão ligadas.
Depois, há muitos exemplos históricos. Há aqui uma fotografia que foi das primeiras a ser transmitida via rádio.
A técnica quando se desenvolve permite ver outras coisas que não eram visíveis anteriormente e isso está aqui reflectido. A necessidade de ver cada vez mais e mais longe, que é uma ânsia natural do homem e da mulher impõe desenvolvimentos técnicos na fotografia, assim como no espaço. Temos aqui fotografias de galáxias que estão a milhões de anos-luz.

Acha que a perspectiva dos elementos – Água, Terra, Fogo e Ar – pelo suporte fotográfico mudou a forma do homem olhar para si e para a sua condição?
O Homem teve sempre tendência para pôr tudo à sua medida. Costuma-se dizer que Deus fez o Homem à sua imagem e semelhança. Eu acho que é o contrário – o Homem é que imagina Deus à sua imagem e semelhança. O Homem imagina tudo com as suas dimensões. Quando é confrontado com os elementos da natureza tem reacções de espanto e de medo que são as características do sublime. O sublime é, de certo modo, uma experiência nova que está para além do pitoresco e do belo que qualquer pessoa pode ter em circunstâncias normais. Ora, essa apreensão dos elementos em toda a sua energia, em toda a sua dimensão geram experiências sublimes. Mas é uma experiência subjectiva. Nem todos têm as mesmas reacções perante coisas que são sublimes.

É possível determinar o momento a partir do qual a imagem científica ganha valor estético? Que critérios são usados?
A ciência é toda avaliada esteticamente. Acho que é impossível fazer ciência sem critérios estéticos. Quando fazemos uma descoberta ou chegamos ao fim de uma experiência temos sempre um sentimento de grande alegria e de iluminação. Esses sentimentos são muito regulados pela estética, pelo sentido de proporção e de que as coisas batem certo. A simplicidade estética também é uma característica da ciência. A fotografia científica partilha isto tudo com a ciência.

Mas existe algum critério que possa ser usado para dizer “esta fotografia científica é uma obra de arte”?
Os critérios que uso para a fotografia são muito simples. Pergunto: “Isto sugere-me algo de novo? Isto interroga-me ou interroga a minha relação com o mundo? Isto perturba-me? Isto emociona-me?”. Se [a fotografia] me deixa completamente indiferente não é, para mim, uma obra de arte. Mas se me obriga a fazer perguntas, inclusive a pergunta “Isto é uma obra de arte?”, é um sinal.

A condição primeira da fotografia é técnica porque nos dá uma física e uma química das experiências. Será essa natureza fatal que dificulta o seu percurso rumo ao que é considerado arte?
A fotografia quando nasce é uma coisa curiosa, porque é o resultado de uma descoberta científica, feita por cientistas, mas também nasce para responder a algumas questões relacionadas com a arte. O Fox Talbot [Henry Fox Talbot, inventor do processo de negativo-positivo], por exemplo, parece que gostava de desenhar, mas não tinha jeito nenhum para o desenho. Quando ia de férias para a Itália e via paisagens lindíssimas começava a desenhá-las, mas olhava para aquilo e dizia “que coisa horrível, isto é mais bonito do que aquilo que eu estou aqui a fazer”. Não tinha jeito para pintar, nem para desenhar. E daí pensou que talvez fosse possível pôr a natureza a desenhar-se a si própria. O primeiro livro dele ilustrado com fotografias chamou-se “O Lápis da Natureza”.
Quando aparece, a fotografia é uma dádiva dos cientistas às pessoas que também se interessavam por arte.

A investigadora francesa Monique Sicard escreve num livro recentemente publicado em Portugal que “nada é menos científico do que uma imagem”. Concorda com esta afirmação?
Eu julgo que ela não sabe o que é a ciência. A curiosidade é essencialmente científica. Queremos perceber as coisas. Se uma imagem nos questiona, se começa um discurso, está a gerar em nós uma atitude científica, mesmo que seja a sua rejeição.

segunda vez

© João Silva/The New York Times. Um soldado americano atingido por um sniper é arrastado por outro militar, em Karmah, no Iraque, em 31 de Outubro de 2006

Nasceu em Lisboa, em 1966, viveu em Moçambique até 1976 e depois emigrou para a África do Sul. Na edição de 2005 do World Press Photo, João Silva, de 40 anos, ganhou o 2º prémio na categoria Temas Contemporâneos. Este ano foi reconhecido com uma menção honrosa na categoria Spot News, por um portfólio publicado no New York Times sobre o ataque de um sniper a uma patrulha do Exército norte-americano, em Karmah, no Iraque. É considerado pelos seus pares como um dos melhores fotógrafos de conflitos. Trabalhou para a Associated Press e está actualmente ao serviço do New York Times.
(Público, 10.02.2007)

O portfólio premiado de João Silva está aqui.

09 fevereiro, 2007

a escolhida

© Spencer Platt (Getty Images)


As bombas da aviação israelita tinham deixado de cair há 24 horas. Debaixo de tiroteio havia um mês, Beirute respirava de alívio com o cessar-fogo acordado entre Israel e o Hezbollah. Os milhares de libaneses que tinham sido obrigados a abandonar as suas casas regressavam em massa à capital libanesa. Boa parte da cidade que haviam deixado para trás alterara-se. Perante uma nova geografia urbana, muitos libaneses, de máquinas fotográficas em punho, transformaram-se em turistas dentro da sua cidade. A imagem de Spencer Platt, fotógrafo americano da agência Getty Images, que venceu o World Press Photo 2006, carrega esta e outras contradições. Reúne num instante a estranheza, a emoção e a surpresa de quem se vê perante a destruição que a guerra provoca. Mostra um quadro surrealista, com protagonistas que parecem saídos de uma noite de farra enquanto outros tentam perceber o que escapou às bombas.
“Não conseguimos parar de olhar para esta fotografia. Transmite a complexidade e as contradições da vida real no meio do caos. Esta imagem leva-nos para lá das evidências”, justificou a presidente do júri, Michele McNally, editora executiva adjunta do New York Times.
Numa entrevista ao site da agência Getty Images, publicada em 2003, Spencer Platt revela o que, na sua opinião, é o bom fotojornalismo: “Dar uma história de uma maneira que as pessoas a percebam e mostrar a verdade do que está a acontecer; (...) é jornalismo e é arte. É mostrar as duas coisas ao mesmo tempo: ser criativo, sem perder de vista a realidade.”
Por ter vencido na principal categoria do World Press Photo, Platt vai receber 10 mil euros numa cerimónia no dia 22 de Abril, em Amesterdão, Holanda. A edição deste ano recebeu portfolios de 4440 fotógrafos profissionais de 124 países. Entre 27 de Janeiro e 8 de Fevereiro, o júri viu um total de 78.083 fotografias.
Para além da Fotografia do Ano, o World Press Photo apresenta mais dez categorias, em que foram reconhecidos 53 fotógrafos de 23 países.
Os três dias que precedem a cerimónia de entrega dos prémios, em Oude Kerk, serão preenchidos com conferências, seminários e projecções de fotografia. Ali, além da exposição dos premiados, poderão ser vistas ainda outras duas mostras: uma selecção especial do trabalho de Spencer Platt e outra sobre as alterações climáticas em África, registadas por fotojornalistas locais. O calendário provisório da digressão das imagens do prémio inclui já dois locais para Portugal: Portimão (Passeio Ribeirinho de Portimão), entre 21 de Julho e 12 de Agosto, e Maia (Fórum da Maia), entre 4 e 25 de Novembro.
(Sérgio B. Gomes, Público, 10.02.2007)

A galeria das imagens vencedoras está aqui.
A entrevista a Spencer Platt está aqui.

natureza e engenho

© Dean Sewell (cortesia do artista)

Água,
Terra,
Fogo,
e Ar
são os elementos fundadores, o princípio de tudo, ou quase tudo.
Na exposição INGenuidades - Fotografia e Engenharia 1846-2006, que hoje abre ao público na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, o percurso pode começar aqui, mas também pode começar pelas imagens dos saberes da indústria espacial, no lado oposto da sala. Quem vê é quem decide por onde quer dar os primeiros passos nesta viagem pela fotografia, que presta homenagem às forças da natureza e aos diferentes engenhos que as desbravam, moldam e destroem.
A 24 horas da inauguração para visitantes, ainda há muito que fazer na Galeria de Exposições Temporárias da Gulbenkian, que recentemente recebeu multidões para ver o génio criativo de Amadeo. Molduras por pendurar, caixas de museus dos quatro cantos do mundo por abrir. Ouve-se o martelar e o frenesim dos berbequins. Ecoam as vozes de comando. A banda sonora escolhida por quem trabalha vai de Madredeus a Brian Adams.
O espaço foi distribuído por um longo corredor com entradas e saídas de ambos os lados. A ideia é criar um discurso expositivo que dê total liberdade de movimentos, sem se perder o fio condutor e as temáticas-chave da mostra. Uma solução engenhosa, claro está.
O curador Jorge Calado, crítico de fotografia e professor catedrático de Química, controla in loco todas as movimentações.
O momento da montagem da exposição é aquele de que mais gosta, confessa ao PÚBLICO. À chegada, encontrámo-lo sentado a olhar fixamente para uma parede com várias fotografias enroladas em plásticos ainda no chão. Antes de começar a falar sobre as imagens, pede cinco minutos: "Estou em meditação. Tenho aqui um dilema para resolver".
Se os dilemas para encontrar as melhores combinações nas paredes foram muitos, as dúvidas e as hesitações na escolha de imagens para uma tão grande empreitada não foram assim tantas. "Não tive grandes dificuldades, para ser franco. Em termos de empréstimos, até tive muita sorte, porque é muito raro numa exposição com esta dimensão pedir e conseguir quase tudo, à excepção de uma imagem que até nem era fundamental".
À pergunta fatal sobre a metáfora INGenuidades no título, Calado prefere responder com outras metáforas e evasivas como "as mensagens são várias". Percebe-se que um dos desafios desta exposição passa também por encontrar essa resposta na face de cada uma das 350 imagens que aqui se dão a ver.
Já os propósitos que estão na base desta grande reunião de fotografias saem de imediato. O objectivo é "homenagear a capacidade criadora da Humanidade, recriar a ideia de que, na natureza, nada se perde, nada se cria e tudo se transforma". E aqui entra o engenho do Homem: "A engenharia é um acto de transformação da própria natureza e, tal como as espécies animais e vegetais, as obras de engenharia crescem e morrem ou são destruídas". É a ideia de ciclo e de reciclagem que está presente em toda a exposição.
Ela própria nascida da conjugação de múltiplos saberes da ciência e da técnica, a fotografia tem aqui um duplo papel. Mostra, por um lado, os elementos e as aptidões humanas para transformar o mundo e as coisas. Ensaia, por outro, uma história dos seus usos. A opção é consciente e o curador sublinha a importância de se colocarem lado a lado as mais vulneráveis técnicas do século XIX e as mais sofisticadas impressões a laser.
Ao todo, há sete secções onde os ramos da Engenharia se revelam pelos quatro elementos. O curador conseguiu reunir 160 fotógrafos de 30 nacionalidades. António Júlio Duarte, José Manuel Rodrigues, Paulo Catrica e Paulo Nozolino estão entre o grupo de artistas portugueses. Edward Steichein, Ansel Adams, Bernd e Hilla Becher, Dorothea Lange e Joel Meyrowitz são outros nomes consagrados da fotografia. Em todos Jorge Calado encontrou a expressão que os unia. E com ela formou um percurso para ver o ciclo da vida, do mundo e das coisas.
(Sérgio B. Gomes, Público, 9.02.2007)


© Nick Moir. Um dragão barbudo é testemunha duma enorme tempestade no sul da Austrália. (cortesia do artista)


INGenuidades, Fotografia e Engenharia - 1846-2006
Galeria de Exposições Temporárias
Fundação Calouste Gulbenkian
Av. de Berna, 45 A
Tel: 217823000
Das 10h00 às 18h00;
até 29 de Abril
Entrada a 3 euros

05 fevereiro, 2007

encontrar


É raro, mas às vezes acontece. É preciso alguma paciência e olho de lince para perceber o que nos interessa no meio da confusão. E encontra-se. Encontram-se preciosidades como este catálogo daquela que foi a primeira grande exposição retrospectiva da fotografia em Portugal e sobre Portugal. A mostra foi organizada para a Europalia 91 sob a batuta sábia de António Sena e Jorge Calado. Portugal 1890-1990 foi dividida em cinco grandes temas: J. A. da Cunha Moraes e Francisco Rocchini; Joshua Benoliel; Anos da Transição; Olhares Estrangeiros; Olhares Inquietos. Este exemplar tem os textos em francês e flamengo. Não sei se existe uma tiragem com textos em português.

03 fevereiro, 2007

expectativa

© Thomas Wienberger, Cracker, Esso Raffinerie, 2003


Esta é a imagem escolhida para o convite da exposição INGenuidades Fotografia e Engenharia 1846-2006, que inaugura ao público na sexta-feira, dia 9, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O comissário Jorge Calado promete um percurso pelo ciclo vital das engenharias – criação, destruição, reciclagem – visto e contado através dos quatro elementos: terra, água, fogo e ar. A expectativa cresce.

02 fevereiro, 2007

*Três perguntas a...

© Vasco Araújo, Trabalhos para Nada - O homen que confundiu a sua Mulher com um chapéu, 2007 (Pormenor da instalação, fotofrafia c-print, 70x50cm)

Vasco Araújo. Nasceu, vive e trabalha em Lisboa. Tem formação em Escultura (FBAL) e em Artes Plásticas (Maumaus). Expõe individualmente desde 2000. Em 2003 ganhou o prémio EDP Novos Artistas. Usa o suporte e a linguagem fotográficas regularmente no seu trabalho que se centra no ficcionamento de personagens e de vidas paralelas. Foi escolhido para integrar a fase final do BES Photo por várias exposições em que participou e/ou realizou, entre as quais, Densidade Relativa (CAMJAP da Fundação Calouste Gulbenkian) e O que eu fui (Galeria Filomena Soares).

¿O que é que te dá a linguagem fotográfica?
A fotografia é o registo do passado que te dá a hipótese de falar no presente e projectar no futuro. Ou seja, ao usar sobretudo imagens que fazem referência ao passado, mesmo que ele seja relativamente próximo, obtenho uma universalidade capaz de estabelecer contacto directo com o público que as vê, não colocando assim as imagens ou os conceitos em causa. O que provoca uma reacção directa nesse público, criando-lhe, desta forma, a possibilidade de construir uma posição crítica.

¿As obras onde usas a fotografia sugerem uma dupla paragem do tempo. É para sublinhar a finitude? De nós? Das coisas?
Sim, é o sublinhar de uma história, de um passado. Todas as imagens levam-nos para um fim, que pode ser variado, mas invariavelmente é o da morte, a nossa última existência. No projecto que fiz na galeria Filomena Soares no ano passado, O que eu fui, uma instalação com fotografias de estátuas de cidade eram acompanhadas de som, pelo qual podíamos ouvir um texto, onde uma mulher quase a morrer fazia a análise em retrospectiva da sua vida, ironizando e, ao mesmo tempo, julgando a sua felicidade, organização e inteligência. As estátuas são o último monumento à humanidade, elas estão sempre presentes entre nós e quase nunca as observamos. O facto de as ter fotografado, sobretudo de tão perto, obrigava o público a tê-las como corpo presente onde uma voz lhes dava vida.

¿Que projectos te ocupam agora? Continuam a envolver fotografia?
De momento estou a preparar um projecto em vídeo para o Baltic Art Center, em Newcastle, em Inglaterra. Este projecto não tem directamente a ver com fotografia mas baseia-se também neste mesmo princípio que falei, o uso do passado para falar no presente e projectar no futuro. Vai chamar-se, About being different.

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Galardão concebido por Joana Vanconcelos

Já podem ser enviados os portfolios para a 7ª edição do Prémio Fotojornalismo Visão/BES. Há sete categorias a concurso: Reportagem; Vida Quotidiana; Espectáculo; Retrato; Notícias; Desporto; Natureza. A data limite para a entrega dos trabalhos é o dia 16 de Fevereiro. O júri, constituído apenas por personalidades estrangeiras, reunir-se-á em Lisboa no final de Março. Os prémios serão entregues no dia 30 de Março.
O regulamento e o formulário de inscrição estão aqui.

 
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