26 janeiro, 2007

*Três perguntas a...

I Spy, da série Collected Short Stories, 2003 (160x120 cm, © Daniel Blaufuks)

Daniel Blaufuks. Fotógrafo lisboeta com um trabalho ligado à imagem conceptual. Começou a estudar fotografia no Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual), Lisboa, e continuou no Royal College of Art, Londres, e na Watermill Foundation, Nova Iorque. Para além do suporte fotográfico usa outros meios para apresentar as suas obras, como o vídeo e os livros. Tem também um trabalho paralelo como documentarista. No ano passado foi seleccionado para a recta final do prémio BES Photo. A série que expõe agora no Centro Cultural de Belém dá a ver imagens de Terezín (antes chamada Theresienstadt, República Checa), uma localidade transformada em campo de concentração pelos nazis alemães.
Nota: com este *Três perguntas a..., inaugura-se uma série de pequenas conversas com os artistas escolhidos para a edição deste ano do BES Photo.

¿Por que é que fotografas?
A fotografia é apenas uma desculpa para um outro segredo.

¿Na série Terezín, as fotografias estão impressas com grandes margens brancas. Quiseste transmitir serenidade, candura?
As margens correspondem à paginação do livro, que é a base final do projecto, isto é, as fotografias são páginas do livro ampliadas. Daí que algumas apareçam descentradas. Mas penso que desta forma demonstro também o meu respeito pelos locais e rostos fotografados, suavizando a sua apresentação neste formato.


¿O que é que pensas dos usos menos convencionais que se fazem hoje da fotografia?
Não sei exactamente ao que aqui te referes. Mas a fotografia não é já necessariamente o que Robert Frank uma vez descreveu como "apenas uma folha de papel". Pode sê-lo, mas pode também ser exactamente o contrário - uma fotografia pode ser pequena, pode ser grande, pode inserir-se numa arquitectura, ou apenas num postal, fazer parte de um jornal ou de uma página na net.
Passámos da folha de papel para uma selva de imagens, em que o nosso olhar é constantemente invadido por imagens na televisão, publicidade na rua, nos jornais e tudo é passível de ser fotografado. Uma floresta democrática, como lhe chamou William Eggleston.
Para que uma imagem faça alguma diferença nas nossas vidas, nem que seja por segundos, necessita de uma intenção clara e precisa por parte do seu criador. E uma imagem numa parede de uma galeria não é igual, mesmo sendo uma fotografia idêntica, a uma imagem no exterior de um prédio no centro de uma cidade. Daí que a minha fotografia seja também um trabalho sobre a relação da imagem com outras imagens, públicas ou privadas, e com o espaço em que se insere, sobre como e onde a imagem é apreendida e sobre as suas possíveis leituras.

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