31 dezembro, 2006

Da pornografia das imagens


João Lopes assina hoje um texto, no Diário de Notícias, sobre a utilização acrítica das imagens, partindo do exemplo dado ontem com a divulgação do vídeo de Saddam Hussein a caminho do enforcamento. Vale a pena ler.


(...) vivemos num regime pornográfico das imagens em que tudo, mas mesmo tudo (incluindo a morte premeditada de um homem), é tratado como acontecimento 'normal' no interior de um fluxo de imagens que tende para a indiferença.

29 dezembro, 2006

Conhecer Brígida

Brígida Mendes


Brígida Mendes. A crítica do Público Luísa Soares de Oliveira garante no Mil Folhas de hoje (Imagens para uma biografia) que é preciso reter este nome no panorama da criação fotográfica contemporânea portuguesa. A artista, a residir em Londres, mostra actualmente em Lisboa uma série de imagens onde a encenação de personagens assume um papel central.


Brígida Mendes


Brígida Mendes
Galeria Módulo, Calçada dos Mestres, Lisboa, nº 34 A
De seg. a sáb., das 10h00 às 19h30.

28 dezembro, 2006

Douro fotográfico

Olhando as uvas para o vinho do Porto, Rio Douro. Mark Klett, Julho 1995


O mote foi a comemoração dos 250 Anos das Demarcações Pombalinas do território duriense. O Centro Português de Fotografia (CPF) juntou-se ao Museu do Douro para contar uma história da imagem fotográfica da região. As fotografias e as técnicas mais antigas de Fotografia no Douro: Arqueologia e Modernidade saíram das mãos de dois ingleses que viveram no Porto, o fotógrafo calotipista Frederick William Flower (1815-1889) e Joseph James Forrester (1809-1861), acérrimo defensor do vinho do Porto. A mostra tem o atractivo extra de dar a ver, pela primeira vez, imagens da colecção Alcídia e Luís Viegas Belchior, comprada este ano pelo CPF. Para além deste espólio, há também fotografias provenientes das colecções de João Clode e Ângela Camila Castelo Branco e António Faria. Entre os fotógrafos com imagens arqueológicas contam-se nomes como, Joaquim Possidónio Narciso da Silva, Emílio Biel, Domingos Alvão, Aurélio da Paz dos Reis e Joshua Benoliel. Na fotografia mais recente, foram seleccionadas imagens de Gabriele Basilico, Bernard Plossu, Duarte Belo, José Manuel Rodrigues, entre outros. Antes de chegar ao Porto, esta mostra passou pelo Royal College of Arts de Londres, onde foi inaugurada, e pelo salão central da Comissão Europeia de Bruxelas.


Vila Nova de Gaia. Carregamento de vinho do Porto, Casa Alvão, s/d.


Fotografia no Douro: Arqueologia e Modernidade
Centro Português de Fotografia, Porto
Edifício da Cadeia da Relação, Campo Mártires da Pátria
Tel.: 222076310
E-mail: email@cpf.pt
De ter. a sex., das 15h00 às 18h00. Sáb. e dom. e fer. 15h00 às 19h00.
Entrada livre
Até 28 de Fevereiro

23 dezembro, 2006

Antologia II

João Francisco Vilhena, Digitalis mariana subsp. heywoodii (P.Silva & M. Silva) Hinz

o silêncio tem a espessura das papoulas murchas
e os objectos de barro parecem aproximar-se do sono
inclinam-se para o lado onde se situam os moinhos as ermidas os bosques diluídos
o nítido ladrar dos cães…
… que horas serão para lá desta fotografia?


Trabalhos do Olhar - 11, Al Berto, em O Medo, Contexto/Círculo de Leitores, s.l., Outubro de 1991


João Francisco Vilhena, Eryngium maritimum L.

22 dezembro, 2006


Entre aspas

Sebastião Salgado, floresta Bwindi, Uganda (Amazonas/NB Pictures)

"Havia em casa dois gatos admitidos pelo velho doutor Homem, meu pai - permitiam-se-lhes certas liberdades e eram considerados parte da família, mas nunca foram fotografados para serem incluídos na galeria ou na genealogia domésticas.
(...)
Não, não me comovem as fotografias de animais. Sei que eles existem e desejo-lhes uma vida feliz, preenchida e serena. São, bem vistas as coisas, votos mais ou menos universais."

António Sousa Homem, Em Certos Aspectos, NS` (Diário de Notícias), 11 de Novembro 2006

20 dezembro, 2006

Antologia

João Francisco Vilhena, Bellardia trixago (L.) All.

Antologia, s. f. (do lat. anthologia, ánthos, flor + lógos, tratado), tratado das flores; colecção de flores. fig. Colecção de trechos escolhidos; selecta; crestomatia; florilégio.

Depois do homem (Os Sulitários), as flores do Alentejo. João Francisco Vilhena apontou a objectiva a essa imensidão de cores e formas, seres-vivos que tantas vezes nos passam despercebidos, que outras tantas se esmagam com os pés. Paulo Barriga mergulhou nos livros para antologiar uma série de poemas de quem se deixou “enredar pelo feitiço encantatório” dos campos alentejanos.
A beleza não cabe toda num livro. Flores da Planície não tem essa pretensão. Contenta-se só com uma ínfima parte dela. A escolha, claro, “não foi fácil, nem os critérios utilizados os mais pacíficos”. Primeiro veio a “subjectivíssima” razão estética. Logo a seguir (por ordem de importância), os critérios da raridade, originalidade, singularidade e valor científico (explicado por especialistas do Departamento de Ecologia da Universidade de Évora).
Estas fotografias de Vilhena mostram como se transforma extraordinariamente a percepção da realidade quando se isolam ou descontextualizam pequenas parcelas do mundo, do real.


João Francisco Vilhena, Papaver rhoeas L.


Flores da Planície, Paulo Barriga, João Francisco Vilhena
Fundação Alentejo-Terra Mãe, Évora, 2006.
25 euros

16 dezembro, 2006

Jorge Molder X 2

Jorge Molder (Não tem que me contar seja o que for)

Convém não perder a oportunidade de ver as exposições que Jorge Molder tem actualmente em Coimbra, no Centro de Artes Visuais, e em Lisboa, na Cinemateca Portuguesa. Não é todos os dias que se tem esta abundância do fotógrafo da transfiguração.


Jorge Molder (Condições de Possibilidade)



Não tem que me contar seja o que for
Cinemateca Portuguesa
Rua Barata Salgueiro, 39, Lisboa
Tel: 213596200
E-mail: cinemateca@cinemateca.pt
Até ao fim de Dezembro

Condições de Possibilidade
Centro de Artes Visuais, Colégio das Artes, Pátio da Inquisição, 10, Coimbra
Tel: 239826178
E-mail: infocav@cav.net4b.pt
De ter. a dom., das 14h00 às 19h00
Até 28 de Janeiro

11 dezembro, 2006

Movimento

Robert Wilson, Brad Pitt


É o retrato total. De um sujeito total. Por um processo total - a videografia. É Brad Pitt.
Nos video-retratos de tamanho real de Robert Wilson o movimento e o som aliam-se à pose fotográfica para uma multiplicação finita (e circular) de imagens onde se podem isolar, pelo menos, três momentos: o primeiro (fotográfico), de pose expectante de partida; o segundo (videográfico), de pose activa; o terceiro (fotográfico), de pose expectante de retorno.
O exercício é estranho e provocatório, porque rompe com o cânone retratista. É um retrato videográfico que se move (no caso de Pitt durante 1,23 segundos); É um retrato fotográfico (por natureza estático) de interlúdio cénico que se estende no tempo e que provoca o universo da acção, ainda que de forma ténue, limitada e, neste caso, irónica.
Wilson diz que se inspirou nos retratos que Andy Warhol fazia aos que o visitavam na Factory, os Screen Tests. Mas ao contrário da desenvoltura, rapidez e baixo custo de produção dos curtos filmes do guru da pop art, os video-retratos Wilson são demorados, cénicos e super produzidos. E custam muito dinheiro: 120 mil euros. A última edição da Vanity Fair conta que cada video-retrato do artista implica, por vezes, a contratação de centenas de figurantes e, pelo menos, um dia de rodagem em dois formatos (horizontal, para ecrãs de cinema e televisão, e vertical, destinados a monitores plasma de alta definição). Para convencer a clientela (quem quer que seja) a pagar esta quantia, o artista serviu-se de uma agenda de contactos recheada de estrelas que se fizeram gravar de borla, em troca um video-retrato. As duas cópias restantes serão postas à venda em várias galerias de Nova Iorque, em Janeiro. Entre a lista de notáveis, há nomes como Winona Ryder, Sean Penn, Williem Dafoe, Isabelle Hupert, Isabella Rossellini, Steve Buscemi e Sharon Stone. Os 30 “videofotoretratos” de Robert Wilson vão poder ser vistos nas galerias Paula Cooper, Phillips de Pury & Company e Nathan A. Bernstein & Company.

Para ver o video-retrato de Brad Pitt clique aqui.

09 dezembro, 2006

*Três perguntas a...


Candida Höfer

Candida Höfer. Fotógrafa alemã que pratica o que se convencionou chamar de Nova Objectividade, corrente fundada por Bernd e Hilla Becher, professores de Höfer, que inclui ainda nomes como Thomas Ruff, Andreas Gursky ou Thomas Struth. No ano passado, o Centro Cultural de Belém desafiou-a para um grande projecto envolvendo espaços interiores de monumentos e edifícios, públicos e privados, portugueses. As 83 fotografias penduradas nas paredes do CCB mostram o resultado das quatro visitas que Höfer fez a Portugal entre Outubro de 2005 e Julho de 2006. A exposição chama-se Em Portugal.


¿Por que é que fotografa?
O que é que queria que eu fizesse? Que pintasse? (risos) Comecei a tirar fotografias porque era o suporte mais fácil para criar um trabalho.

¿O que é que tenta mostrar-nos nestas fotografias de grande formato?
Durante algum tempo eram mais pequenas, mas, à medida que foram crescendo em tamanho, foi também aumentando a sensação de estarmos dentro delas, dentro daquele espaço. Acontece a mesma coisa quando se publica um livro pequeno ou um livro grande. No caso de haver interiores, é nos livros de maiores dimensões onde nos sentimos mais dentro da situação.

¿Pretende continuar a captar espaços vazios?
Sim! (risos) Às vezes acontece haver pessoas nos espaços que quero fotografar, mas desde que não perturbem o meu trabalho não me importo que estejam lá.


Candida Höfer, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra I, 2006

08 dezembro, 2006

Tirar do escuro

Murmúrios do Tempo, Centro Português de Fotografia


Os catálogos de exposições e os (poucos) livros de fotografia editados em Portugal são, regra geral, caros. Quem os manda fazer prefere-os empilhados em armazéns a ganhar pó do que vendê-los a preços acessíveis. É uma espécie de cura do sono, até que alguém decide trazê-los à vida, que é como quem diz trazê-los à vista para deleite dos que decidem ficar com eles. Quando começam a brilhar as luzinhas em homenagem ao Menino, eis que várias instituições do país têm a feliz ideia de poupar uns metros quadrados de espaço reduzindo de forma significativa o preço das suas edições.

Estas foram as minhas últimas compras:

*Revelar Coimbra, Os Inícios da Imagem Fotográfica em Coimbra, 1842-1900. Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra, 2001. 7,50 euros (Museu Nacional Soares dos Reis);
*Os Putos, Fotografias de João Martins. Instituto Português de Museus, 1999. 5,00 euros (Museu Nacional Soares dos Reis);
*Paulo Nozolino, 1989-1990. FotoPorto-Bienal de Fotografia, Fundação de Serralves, Porto, 1990. 5,00 euros. (Fundação de Serralves);
*Neal Slavin, Portugal, 1968. FotoPorto-Bienal de Fotografia, Fundação de Serralves, Porto, 1990. 10,00 euros. (Fundação de Serralves);
*Murmúrios do Tempo. Centro Português de Fotografia, Porto, 1997. 5,00 euros (Centro Português de Fotografia);
*Gerhard Richter, Uma Colecção Privada. Museu do Chiado, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa, 2004. 7,50 euros. (Museu Nacional Soares dos Reis).

Gerhard Richter, Museu do Chiado

04 dezembro, 2006

Guia de ver


As Edições 70 inauguraram uma nova colecção sobre imagem intitulada Construção do Olhar. O primeiro ensaio da nova série, coordenada por José Carlos Abrantes, chama-se A Fábrica do Olhar – Imagens de Ciência e Aparelhos de Visão (século XV-XX), de Monique Sicard. Este texto foi publicado originalmente pela editora francesa Odile Jacob, na colecção Champ Médiologique que reuniu vários ensaios em torno da ideia de mediologia, conceito construído por Régis Debray, na obra Pouvoir Intelectuel en France (1979), que pretende fazer uma análise transversal de todos os media retirando protagonismo aos media de actualidade. Nest’ A Fábrica do Olhar, Sicard debruça-se sobre tempos idos, mas dá constantemente relevo à modernidade. Dá importância às técnicas que fabricam imagens sem esquecer a dimensão social que, em cada momento histórico, tais imagens assumem. (...) Mostra como certas imagens surgiram e esclarece os seus processos de fabrico e difusão. O livro está dividido em três núcleos fundamentais. O primeiro (A Gravura) vai do Olhar Nu de Leonardo da Vinci e Bernard Palissy até ao Realismo dos Corpos de Jacques Fabien Gautier d´Agoty. O segundo (A Fotografia) vai desde as Legitimações de François Arago às vistas aéreas tiradas entre 1914 a 1944. O terceiro (A Imagiologia) começa nas Radiografias de Antoine Béclère à Globalização do Olhar com a sonda Pathfinder.
Monique Sicard é investigadora do Centre National de Recherche Scientifique e publicou vários livros sobre imagem e fotografia. Fez também documentários para televisão.

(...) publicar palavras sobre as imagens, os olhares, os ecrãs, os modos de as fabricar, de as ler e usar. Palavras que possam ser contributos para construir o olhar, para nos revelar modos de ver. Palavras que se ambiciona nos ajudem a não perecer num tsunami de imagens: as imagens, sem palavras e sem outras formas de apropriação e expressão, podem ter efeitos devastadores.

José Carlos Abrantes



A Fábrica do Olhar – Imagens de Ciência e Aparelhos de Visão (século XV-XX), Monique Sicard.
Colecção Construção do Olhar, Edições 70, Lisboa, 2006.

 
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