17 junho, 2012

PHE12 # 2

Stephen Shore, Nico, circa. 1965-1967
Cortesia Stephen Shore/303 Gallery, New York © Stephen Shore

>A La Fabrica, que organiza o PHE, é um polvo com muitos tentáculos (no bom sentido da expressão). Procura sempre estirar-se para fora do seu território natural. Há dois anos, deu início à operação Barcelona, depois de a capital catalã ter perdido o seu festival de fotografia mais importante, Primavera Fotografica. Através da revista OjodePez, está agendado o segundo forum internacional de fotografia documental nos dias 28, 29 e 30 de Junho, no La Virreina Centre de la Imatge. O encontro deste ano procurará reflectir sobre a importância da presença das mulheres na fotografia documental de hoje juntando um painel exclusivamente constituído por mulheres. Haverá críticas de portfólios, mesas-redondas, workshops e projecção de imagens. Mais informações aqui

>No Teatro Fernán Goméz é sempre um prazer entrar. Não tem janelas. Concentramo-nos no essencial. Na apresentação da exposição-estrela desta edição do PHE - From the Factory to the World. Photography and the Warhol Community - fartei-me da tradução simultânea inglês/espanhol e fui ver fotografias. Não há dúvida que é das apostas mais interessantes do festival. As imagens de Stephen Shore a preto e branco (que foi para a Factory por especial favor de Warhol quando ainda nem tinha terminado o secundário) são uma surpresa absoluta. Há retratos extraordinários, como o de Nico concentrada num papel. De resto, a escolha dos nomes representados resulta em cheio pela diversidade de aproximações ao ninho de Warhol.

>O cubano Carlos Garaicoa usa a fotografia no seu trabalho criativo de artes plásticas há mais de 20 anos. Começou a conferência de imprensa a avisar que não se considerava fotógrafo e eu fiquei logo em sentido - não fosse confundi-lo. Carlos pode achar que não é fotógrafo, mas aquilo que faz com a fotografia também é fotografia. A retrospectiva que lhe dedicaram no Museo Colecciones ICO inclui obras com distintas aproximações às linguagens da fotografia e fica demonstrado que o suporte é fecundo é plástico. Carlos lá foi explicando o que o movia, mas quando chegamos á última parte da mostra era impossível ouvir e ver o que quer que seja - alguém ali tem resolver o problema do soalho a ranger. Mas o bom desta visita ao ICO foi uma compra que fiz já à saída - Fotógrafos Made in Hungary - Los que se fueran/Los que se quedaran.

>A Casa de Velázquez é um palacete imponente que pertence ao Governo francês. Serve há quase 100 anos para abrigar artistas e investigadores das mais diversas áreas. Entre os bolseiros deste ano, havia quatro artistas a utilizar a fotografia e foram esses trabalhos que fomos lá ver. As imagens de penhascos íngremes de Anne-Lise Broyer, meio caminho entre desenho e fotografia, foram as que mais me surpreenderam. Para além das condições (e instalações) extraordinárias para fazer arte e desenvolver conhecimento.

>No sempre espectacular Canal de Isabel II, vimos as imagens de Rosa Muñoz sobre a ameaça de extinção do pequeno comércio. São criações que partem de centenas de fotografias para darem corpo a formas mais ou menos apocalípticas que antecipam um desastre dos pequenos negócios de rua. Foi das mostras que menos gostei - algumas imagens pareciam um jogo de lego, onde o importante era conseguir encaixar uma peça na outra e nada mais.

>No Matadero, moram as três propostas mais alternativas e mais próximas das artes visuais no sentido mais lato do termo com que se constrói todos os anos o PHE. No final do balcão de atendimento do Matadero, há um computador que passa imagens incessantemente. Podem ser submetidas por qualquer pessoa e são escolhidas pelo colectivo Raqs Media, sediado em Nova Deli, Índia. Supostamente há um site onde essas imagens vão sendo mostradas - o problema é que eu não o encontro por nada deste mundo. Juro que vi lá o site a funcionar, mas agora nadinha...

>Depois de uma série de zigue-zagues pela cidade, com enganos sobre onde era realmente a exposição do romeno Ion Grigorescu, lá se chegou ao sítio onde nos esperava uma sala com muitas cadeiras (vazias), um palanque e o artista com um ar desamparado e desgostoso. No final da apresentação da comissária, assisti ao silêncio mais incómodo de que tenho memória. Tenho dificuldade em avaliar o que vi. Havia panos pendurados no tecto com imagens digitalizadas emolduradas por outras imagens digitalizadas de tapetes antigos. Já vi várias exposições más no PHE, mas esta, para mim, bateu tudo.

>Para o final da noite estava reservada a abertura da maioria das exposições das 37 galerias associadas ao festival. Fui até perto do Bernabéu e escolhi a IvoryPress que apresenta Revelaciones. Historia del fotolibro en Latinoamérica. Horacio Fernández andou numa roda-viva e via-se que era um homem feliz pela concretização de um projecto que demorou quatro anos (e muitas viagens) a realizar. A exposição é soberba e o livro que está na sua origem também. Foi, decididamente, uma escolha acertada.

>Madrid parece que não dorme. Jantar num Vips às tantas é coisa normal. A companhia do frenético Bill Kouwenhoven tornou a refeição bem mais interessante.

 
Carlos Garaicoa, Valla Resistir, 1991
© Carlos Garaicoa

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