21 dezembro, 2010

entre aspas

Thomas Hoepker, Old woman in a snowstorm, Hamburgo, Alemanha, 1954
©Thomas Hoepker/Magnum Photos

"I am not an artist. I am an image maker".

Thomas Hoepker, in Magnum Photos Featured Photographer


áfrica


A mais recente edição da revista de fotografia documental OjodePez divulga o trabalho de seis fotógrafos africanos cujo olhar está voltado para a actualidade mais crua do seu continente. A selecção foi feita por Akinbode Akinbiyi. A OjodePez #23 mostra ainda portfólios de novos valores na fotografia que passaram pela iniciativa Descubrimientos PHE, um ensaio do cambojano Kim Hak e a série experimental de retratos com raios ultravioleta da americana Cara Phillips.

19 dezembro, 2010

paulo

Paulo Pimenta, da série Na casa de de..., Porto, 2010
© Paulo Pimenta

Há umas semanas, numa deslocação ao Porto, encontrei-me com o Paulo Pimenta na redacção do Público. No meio da rotina do jornal, houve algum tempo (pouco) para ver uma série de imagens inédita do projecto Na casa de..., um trabalho a longo prazo sobre as condições de extrema pobreza em que vivem muitas pessoas na região do grande Porto. As imagens que me passaram à frente dos olhos revelam todo o talento do Paulo em captar com extrema sensibilidade as pessoas e os espaços que desgraçadamente estão agarrados ao seu quotidiano. Notei o seu habitual entusiasmo ao falar do decorrer do projecto e da importância que um tema com estas características tinha para si. Agora, uma das fotografias de Na casa de... foi seleccionada para a exposição colectiva HumanKind do New York Photo Festival. A mostra, que pode ser vista desde o dia 17, foi comissariada por James Estrin, co-editor do blogue Lens, do New York Times, Alisa Wolfson, directora de design, Marc Prüst, consultor de fotografia, Alfredo Cramerotti, curador, crítico e editor, e Christos Lynteris, antropólogo.

17 dezembro, 2010

explicar


Maria-do-Mar Rêgo, Caderno II
© Maria-do-Mar Rêgo

Maria-do-Mar Rêgo, Caderno II
© Maria-do-Mar Rêgo



O portfólio A História de Tudo Aquilo que é de Maria-do-Mar Rêgo venceu a única menção honrosa da edição deste ano do prémio Fnac Novos Talentos de Fotografia. Na sua origem, o conjunto (ainda em desenvolvimento) é formado por vários fólios ou cadernos independentes e é dessa forma que será mostrado nas galerias das lojas Fnac.
Aqui fica a memória descritiva de A História de...:


'L'histoire de tout ce qui est et qui meurt.'

Jean-Christophe Bailly, in L’Instant et son ombre

Os nomes, tal como as fotografias são vestígios. Não são provas, mas legendas do mundo, indícios de uma densidade. As fotografias são a afirmação da presença e da existência das coisas.

A minha forma de fotografar baseia-se em duas ideias: a convicção face aos objectos e a convicção da presença dos objectos.

Apoiando-se neste título quase tese, este trabalho consiste num conjunto de estudos sobre a evidência dos objectos do meu universo familiar, extracções/registos do quotidiano. São objectos comuns, cuja singularidade reside na forma como estão dispostos no mundo mostrando-se através de um olhar melancólico mas solar. Quero com isto dizer que há um humor consciente (ainda que nem sempre patente) sobretudo no momento de justaposição das imagens, na formação de cada sequência.


Ao associar as imagens desta forma evoco vários agentes, que a meu ver são cruciais para lograr o efeito desejado. São as ideias de reconhecimento e de
déjà-vu.

Reconhecimento, no sentido em que o espectador só pode descobrir aquilo que reconhece, através de um exercício de insistência (forçar-se a ver) e de inerente repetição. Porque as coisas numa primeira abordagem resistem-nos. E déjà-vu, numa leitura médica do termo, como uma perturbação da memória de um indivíduo que dá a impressão súbita e intensa de já ter vivido no passado uma situação presente.

A História de tudo aquilo que é é composta por sequências de uma a quatro fotografias cuja ligação é, às vezes, invisível, formal, funcional ou poética. Imagens originalmente autónomas a que a convergência e ordem particular dotam de um certo grau de contaminação. Quando chegamos à ultima a primeira já não é igual. É um trabalho em progresso, existindo desde 2008, contando actualmente com 15 sequências. Exercício à maneira de Hans Peter Feldmann ou de Gerard Richter, em alusão aos trabalhos de colecção de imagens e 'Atlas', respectivamente.

(...)

Maria-do-Mar Rêgo


Maria-do-Mar Rêgo, Caderno VI
Maria-do-Mar Rêgo


Maria-do-Mar Rêgo, Caderno XII
Maria-do-Mar Rêgo

traces



Traces é o tema genérico da edição #25 da FOAM Magazine que problematiza a forma como, através da fotografia, o passado se manifesta no presente e tenta perceber que papel desempenha a imagem fotográfica na maneira como nos relacionamos com o passado.
O próximo número apresenta um design gráfico renovado.
Destaque para os trabalhos de:

~Seba Kurtis
~Willem Popelier
~Ishiuchi Miyako
~Robert Frank
~James D. Griffioen
~Gert Jan Kocken
~Anni Leppälä
~The La Brea Matrix

16 dezembro, 2010

alternativos

Bruce Davidson, in Outside Inside
©Bruce Davidson


O crítico de fotografia Sean O'Hagan fez uma lista de sete livros de fotografia do ano para o Observer. Não completamente satisfeito com a escolha (demasiado "natalícia"), seleccionou para o Guardian uma lista alternativa mais pessoal onde aparecem livros raros e também mais caros.
Eis a "segunda" escolha de O'Hagan:

1. Outside Inside by Bruce Davidson, Steidl, £220
2. Before Colour by William Eggleston, Steidl, £40
3. Grimaces of the Weary Village by Rimaldas Viksraitis, White Space, £25
4. New Topographics by Various, Steidl, £44
5. Kanaval by Leah Gordon, Souljazz, £39.99
6. The Jazz Loft Project by Sam Stephenson, Random House, £25
7. Contraband by Taryn Simon, Steidl, £40
8. A Million Shillings by Alix Fazzina, Trolley Books
9. Yangtze – The Long River by Nadav Kander, Hatje Cantz, £55
10. See You Soon by Maxwell Anderson, Bemojake/Self Publish, Be Happy, £20


o amor


Henri Cartier-Bresson, noite de ano novo, Times Square, Manhattan, Nova Iorque 1959

O Focus Project divulgou o primeiro tema do seu concurso internacional de fotografia: o amor. Qualquer fotógrafo pode participar e o pacote de prémios inclui 5 mil doláres, a publicação de um livro, promoção mundial do trabalho vencedor, entre outros.
O prazo para entrega dos portfólios termina no dia 22 de Dezembro. Mais pormenores aqui

15 dezembro, 2010

entre aspas


Alec Soth, Mother and daughter, USA, Davenport, Iowa, 2002
© Alec Soth/Magnum Photos

I fell in love with the process of taking pictures, with wandering around finding things. To me it feels like a kind of performance. The picture is a document of that performance.

Alec Soth, in Magnum Photos Featured Photographer


"C" de volta


A revista C Photo está de volta depois de fechado um ciclo de publicação de dez números. Génesis é o tema dos dois primeiros volumes do novo ciclo de edições, que prometem mostrar os primeiros trabalhos de alguns dos mais importantes e representativos artistas da fotografia contemporânea.
A revista pode ser comprada aqui

14 dezembro, 2010

PHE11

Shilpa Gupta, s/t, 2006
© Shilpa Gupta, cortesia Galerie Yvon Lambert, Paris



A XIV edição do PHotoEspaña, Festival Internacional de Fotografía y Artes Visuales acontece entre os dias 1 e 24 de Julho de 2011. O comissário-geral para as próximas três edições é Gerardo Mosquera que organizará festivais em torno do conceito de interfaces.

DBPP

Thomas Demand, Embassy, VIIa, 2007
(© Thomas Demand, cortesia VG Bild Kunst, Bona, VEGAP, Madrid)


Os quatro finalistas para a próxima edição do Deutsche Börse Photography Prize já foram anunciado pela Photographers’ Gallery de Londres.

São eles:
#Thomas Demand
#Roe Ethridge
#Jim Goldberg
#Elad Lassry

O Deutsche Börse Photography Prize reconhece um fotógrafo vivo, de qualquer nacionalidade, que tenha dado um contributo significativo para a fotografia na Europa, entre 1 de Outubro de 2009 e 30 de Setembro de 2010. O prémio é de 30 mil libras.

voar

Brandám Gómez, Esto nunca Sucedió
© Brandám Gómez



Na última edição da 10x15 o desafio é voar. Sugestões para levantar os pés do chão de Joan Fontcuberta, Ivo Mayr, Florencia Rojas, entre outros. Aqui

13 dezembro, 2010

tentar



Martin Brink, Photos from 2006-2010
© Martin Brink


Terminam a 30 de Dezembro as candidaturas para as bolsas New Photography da Humble Arts Fundation.

Os pormenores estão aqui

09 dezembro, 2010

os melhores



Aqui está a lista dos foto-livros e dos livros sobre fotografia vencedores dos prémios alemães da especialidade Fotobuchpreis:

Medalhas de ouro

#Black Passport, de Stanley Greene/Noor e Teun van der Heijden, Schilt
#Yangtze –The Long River, de Nadav Kander, Hatje Cantz
#The First Retrospective, Lillian Bassman & Paul Himmel, Kehrer
#
The Business of Oil and Gas in Nigeria, Christian Lutz, Lars Müller Publishers
#
Outside/Inside, Bruce Davidson, Steidl

Medalhas de prata

#Latitude Zero, Monique Stauder, Schilt
#
Fluffy Clouds, Jürgen Nefzger, Hatje Cantz
#André Kertész, André Kertész, Hatje Cantz
#
Recollection, Walter Niedermayr, Hatje Cantz
#Lachen auf dem See, Hugo Suter, Lars Müller Publishers
#Tokyo Compression, Michael Wolf, Peperoni Books
#
Julian Schnabel Polaroids, Julian Schnabel, Prestel
#Oil, Edward Burtynsky, Steidl
#
Contraband, Taryn Simon, Steidl
#90 Days. One Dream, Kristian Schuller, Viermament

Teoria/ensaio, medalha de ouro
#The Mexican Suitcase (Robert Capa, Gerda Taro, David Seymour), Cynthia Young, Steidl

Teoria/ensaio, medalha de prata
#Bildbestimmung: Identifizierung und Datierung von Fotografien 1839 bis 1945, Timm Starl, Jonas



08 dezembro, 2010

entre aspas


Sol LeWitt (1928 - 2007), Sunrise and Sunset at Praiano, 1980

Art shows come and go, but books stay around for years. They are works themselves, not reproductions of works. Books are the best medium of works. Books are the best medium for many artists working today.

Sol LeWitt

07 dezembro, 2010

saldos





Há descontos de 25% no site da Phaidon se se comprarem dois ou mais livros desta lista da qual fazem parte The Photobook: A History (vols. I e II) e Photo Trouvée.


retratos de Gageiro


Sylvie Vartan

© Eduardo Gageiro


A dobrar o ano, a [Kgaleria] convoca o trabalho de Eduardo Gageiro mais ligado ao retrato e à figura humana. José Carlos de Vasconcelos escreveu este texto para a exposição Retratos com Histórias que abre portas no dia 9 de Dezembro, às 18h30:


Eduardo Gageiro, fotorrepórter e artista

Ninguém fotografou melhor certo Portugal do que o Eduardo Gageiro. Como fotorrepórter e artista, sem esquecer o cidadão, a sua enorme e notável obra tem-nos muitas vezes dado, de corpo inteiro, a nossa gente, o nosso povo e sua circunstância. Sempre acompanhei o seu trabalho, com crescente admiração, sobretudo depois de eu próprio vir, no princípio da segunda metade dos anos 60, para a redação do Diário de Lisboa, conhecê-lo pessoalmente, encontrá-lo em muitos 'serviços', ambos repórteres, ver como o Eduardo trabalhava e tantas vezes conseguia como que tirar água das pedras... Até hoje. O que lhe tem valido uma justa consagração, também internacional, que alguns, poucos, despeitadamente nunca lhe perdoaram: dentro da profissão, considerando que não era um fotorrepórter mas um «artista», dando a «artista» uma carga depreciativa; fora da profissão considerando que não era um «artista» mas um fotorrepórter, dando a fotorrepórter uma carga depreciativa de sentido contrário... Quando o Gageiro é, precisamente e superlativamente, as duas coisas, que não se excluem, antes se interpenetram e mutuamente valorizam.


Fotorrepórter e artista, Gageiro tem estado, está, sempre presente, aí pelas ruas, pelo país, anónimo, de máquina ao tiracolo, sobretudo entre as "pessoas comuns", nos instantes anódinos, quotidianos, que o seu raro olhar revela em todo o significado e simbolismo, como nos momentos mais importantes da nossa história recente, com natural destaque para o 25 de abril – ele que é, aliás, fotógrafo do 25 de abril desde antes do 25 de abril.O que aqui ele agora nos mostra são retratos, ou "retratos informais", 30 no total: dois de políticos, Salazar e Spínola, tão diferentes entre si como, ambos, excelentes, sobretudo o do ditador solitário frente ao mar no Forte em que cairia da cadeira e do poder; e 28 de outras tantas figuras da literatura, da arte e do espetáculo, portuguesas e estrangeiras.


Como se sabe, o retrato é uma das "disciplinas" preferidas de Gageiro, e daquelas em que mais se tem distinguido. Inclusive a fotografar escritores e artistas, como, entre outros, José Cardoso Pires e Sophia. Cito os dois também porque são de certa forma emblemáticos em relação à sua arte e porque há retratos seus nesta expressiva mostra. O de Sophia, já bastante conhecido, constitui mesmo, em meu juízo, o extraordinário exemplo de como através de uma simples fotografia se podem ‘dar’ os instrumentos, o ambiente e o clima de trabalho de uma grande poeta – e até a elegância, o tom e o espírito não só de uma grande senhora como da sua poesia, ou de boa parte dela.


Entre os outros retratos de escritores, além de um magnífico Jaime Cortesão, de grandeza e perfil proféticos, e de um Mário Cesariny enquanto jovem, completamente diferente e inesperado, quero destacar dois: os de Miguel Torga e José Régio. Ambos talvez ainda mais inesperados do que o de Cesariny, ou do que o de Ferreira de Castro no franciscano quarto do hotel onde em geral vivia e escrevia, mostrando a capacidade de Gageiro colocar os seus retratados em situação (bem patente noutras imagens como a – formidável – de Raul Solnado), e/ou fotografá-los em situações absolutamente surpreendentes. De facto, ninguém esperaria ver Régio, de seu natural tão discreto e reservado, fotografado na cama, de pijama; e ver Torga, que não dava entrevistas, não aparecia e cultivava o mito de «inacessível», no remanso do lar, de casaco e gravata, mas sem sapatos, de meias grossas junto a uma lareira não a sério, como as do seu Trás-os-Montes, mas elétrica, sem brasas, sobre uma carpete…

Mas é impossível falar aqui de outros grandes retratos desta exposição. Sem entrar em brilhantes imagens, fora do universo dominante do Eduardo, como as de Grace Kelly e de Gina Lollobrigida, destacarei, no entanto, além de um Nureyev "homem comum", longe do sortilégio da sua arte e das luzes da ribalta, as por todas as razões fantásticas fotografias de Arthur Rubinstein no Coliseu e de Orson Wells no Guincho: dois verdadeiros "clássicos" nesta tão difícil disciplina.O mesmo se pode dizer, por exemplo, da tão criativa e extraordinária foto de Amália, que como Carlos Paredes surge neste pequena mas impressiva mostra. E não por acaso, a concluir, falo dos dois. É que Amália e Paredes, cada um na sua arte, a primeira a cantar, o segundo com a sua genial guitarra, como ninguém deram voz ao povo português. E sem querer fazer quaisquer comparações, a outro nível, e no domínio da fotografia, sinto que alguma coisa de semelhante acontece com o Eduardo Gageiro.


José Carlos de Vasconcelos
(Este texto segue as regras do novo Acordo Ortográfico)

05 dezembro, 2010

mus

Mónica Vacas no Ateneu Obreru de Xixón
© Marco Antonio Villabrille


Chega a ser desconcertante a osmose perfeita (luminosa) entre modernidade e tradição que a dupla de Gijón Mus (Mónica Vacas e Fran Gayo) consegue impor na música que faz. A imagem de capa do disco La vida condensa bem o caminho trilhado entre a pop e a folk. Entre o cá e o lá, longe.


Y agora tu,
canta por mi
una añada [uma canção de embalar] que diga
'duerme papá,
descansa,
todos seguimos equí'


Añada pal primer mes, Mus, La vida (Green Ufos, 2006)

04 dezembro, 2010

a primeira...


Em boa hora se decidiu organizar uma feira de livros relacionados com fotografia. A iniciativa, que quer tornar-se "regular", tem tudo para ser mais uma semente no cultivo do interesse pelos foto-livros e demais obras do universo da fotografia em Portugal. Nesta primeira edição, que decorrerá em Lisboa no espaço da Fábrica do Braço de Prata, entre os dias 10 e 12 de Dezembro, participam fotógrafos, editores, livrarias, alfarrabistas e galerias com obras a preços baixos (descontos até 20%) e edições limitadas e de autor.

A declaração de intenções dos organizadores (Os Suspeitos, Filipa Valladares e Exposições Fábrica do Braço de Prata) é clara: "Queremos divulgar as edições fotográficas, abrindo o interesse do público para este mercado e criando uma plataforma para o diálogo sobre este meio específico dentro da fotografia, cruzando-o com áreas como o design, as artes plásticas, o jornalismo, o cinema ou a edição em geral." E para além da feira, haverá 2 conferências que abordarão a relação do meio fotográfico com a impressão em livro e com a imprensa (papel e digital).
Que venham mais.

Participantes:
#
A Estante
#Alexandria Livros
#Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Fotográfico
#Chromma
#Fundació Foto Colectania
#Gustavo Gili
#Inc. Livros e edições de autor
#KameraPhoto
#Pente 10
#Pierre Von Kleist
#Vera Cortês – Agência de arte/TIJUANA Lisboa
#Livraria Braço de Prata (Assírio & Alvim, Relógio d’Agua e Cotovia)

Conferências:
Sábado, 11, 17h30
Fotógrafos que também são editores
José Pedro Cortes, André Cepeda, Patrícia Almeida, Carlos Lobo

Domingo, 12, 17h30
Para acabar de vez com o fotojornalismo?
Fotógrafos da Kameraphoto: Céu Guarda (editora de fotografia do Jornal i) e Martim Ramos

Horário da feira:
Sexta-feira: das 18h00 às 24h00
Sábado e Domingo, das 16h00 às 23h00
Entrada livre até às 21h30

Club 13, Nils Petter Löfstedt, Pierre von Kleist Editions
© Pierre von Kleist Editions

03 dezembro, 2010

entre aspas



To take a photograph is to align the head, the eye and the heart. It's a way of life.


Henri Cartier-Bresson, in Magnum Photos Featured Photographer

Roadside America

Dog Bank Park Bed & Breakfast Cabin, Cottonwood, Idaho, 2004


Jóias à beira da estrada

Luís Maio (Fugas, Público, 30.10.2010)

Learning From Las Legas saiu em 1972 e foi uma pedrada no charco no mundo da arquitectura. O ensaio assinado por Robert Venturi e Denise Scott Brown veio propor a reabilitação da arquitectura vernacular, nos antípodas do funcionalismo e do austero estilo internacional, que então vigoravam no ramo. Contagiados pela vibração popular, os autores improvisaram títulos jocosos para as duas principais categorias de arquitectura que divisaram em Vegas. Chamaram “alpendres decorados” a edifícios frequentemente banais, mas cobertos de reclames, caso por excelência dos casinos da Strip. Atribuíram, por outro lado, a designação de “grande pato” àqueles que pela sua forma publicitam o que vendem – justamente como o mercado de aves construído em betão armado com a silhueta de um pato, que descortinaram em Long Island.

Esta apologia do vernacular antecipou o debate da pós-modernidade, mas na altura indignou os arquitectos sérios e mais genericamente a intelligentsia norte-americana. Learning From Las Legas não foi, no entanto, uma estreia absoluta: dois anos antes, a Liga de Arquitectura de Nova Iorque organizou uma retrospectiva dedicada a Morris Lapidus, autor de uma porção de hotéis surreais, sobretudo construídos em Miami e Hollywood. O autor desse escândalo, que é como quem diz o curador da exposição Lapidus, era John Margolies, então um jovem graduado em Comunicação Social. Voltaria a reincidir pouco depois ao assinar na revista Progressive Architecture uma apologia do Madonna Inn, hotel temático e catedral do kitsch, sediada em San Luis Obispo, na Califórnia.

John Margolies era desde miúdo um apaixonado do vernacular, em particular da arquitectura e do design que cresceram à beira das velhas estradas da América. Learning From Las Legas veio dar-lhe legitimação teórica, mas também um novo estímulo para partir à descoberta de “grandes patos” e “alpendres decorados” pela América fora. Tornou-se então fotógrafo e durante os trinta anos seguintes viajou perto de 150 mil quilómetros. Sempre dentro dos Estados Unidos, sempre na senda dessas peças de desenho extraordinário. Roadside America, editado Taschen, é a mais recente retrospectiva desse extraordinário trabalho de campo.

Paisagens improvisadas
Os motéis e restaurantes à beira da estrada surgiram nos anos 20, os minigolfes e os cinemas drive-in popularizaram-se na década seguinte. A vulgarização dessas atracções e comércios resultou da paixão norte-americana pelo automóvel, desencadeada pelo lançamento do Modelo T da Ford em 1908. A sua rápida produção em série levou à criação quase instantânea de uma intrincada rede rodoviária, cruzando o país inteiro.

Se os automóveis foram feitos para andar, o propósito dos negócios à beira da estrada era desviá-los do caminho. Um desafio nada fácil de resolver, a que os proprietários dos estabelecimento –, na maior parte gente com mais engenho que cultura –, respondeu improvisando estratégias por vezes luminosas, mas raramente subtis de autopromoção. Letras garrafais, tabuletas XL, néones cintilantes e um sem número de fantasias arquitectónicas integraram esse reportório de manobras de diversão, sinalizando e simbolizando uma variedade de tópicos, desde a fome à diversão, passando pela fé e pela moda. Toda uma iconografia de factura popular, respondendo à necessidade básica de chamar à atenção, não propriamente a exigências de apuro estilístico – embora boa parte dessas criações ingénuas tenha vindo a ser mais tarde reabilitada como Pop Art instantânea.

Até que, em 1956, o Governo Federal aprovou uma lei destinando cerca de 33 mil milhões de dólares para a construção de auto-estradas. Passou a ser possível viajar de costa a costa dos Estados Unidos sem precisar de fazer grandes paragens. Para tornar o sistema mais funcional, a lei previa o condicionamento dos acessos às auto-estradas, proibindo qualquer espécie de distracção nas bermas. As novas condições de circulação coincidiram, por isso mesmo, com a multiplicação de estabelecimentos de traça uniforme de marcas como Shell nos combustíveis, Holiday Inn na hotelaria ou McDonald’s na restauração. O êxito destes fenómenos de estandardização e franchising foram a machadada final para muitos negócios independentes de arquitectura ou design únicos, semeados à beira de antigas e cada vez menos usadas rodovias de via dupla.

Broadway Style House, Shreveport, Louisiana, 1982


Consagração da nostalgia
Foi este universo tipicamente norte-americano, entretanto desqualificado como baixa cultura e condenado em nome do progresso, que John Margolies se propôs documentar a partir de meados dos anos 70. Recorreu à fotografia, mesmo sem saber grande coisa de fotografia e ao longo de trinta anos de carreira foi repetindo que não era fotógrafo. John usava máquinas Canon, uma lente básica (há quem prefira dizer “clássica”) de 50 mm e filmes de 25 ASA, um tipo de filme lento, ideal para puxar pelas cores. Nunca chegou, por outro lado, a fazer o upgrade para o digital.
Margolies tinha, no entanto, um método peculiar, ou melhor será dizer a sua própria rotina de campanha. Ele, que vivia em Nova Iorque, partia à exploração de estradas secundárias na América profunda, por temporadas mais ou menos largas (conforme os patrocínios), mas sempre na estação baixa, para evitar eventuais congestionamentos de trânsito. Chegava aos sítios através de uma ou outra dica de edifícios na sua esfera de interesses, depois ia perguntando e descobrindo outros pelo caminho.

Fotografava sempre com céus azuis (pelos quais podia esperar vários dias), de preferência de manhãzinha, condições que lhe permitiam tirar partido das cores mais frequentemente saturadas dos seus temas. Mas não procurava uma perspectiva especial, ou qualquer tipo de efeito autoral. As suas imagens comungam de uma neutralidade, mais tarde revalorizada como o tom perfeito para acentuar a carga dramática/ poética das suas atracções arruinadas.
Os prédios que fotografava poderiam estar ao abandono ou à beira da demolição, mas as suas imagens depressa chamaram à atenção, valendo-lhe uma subvenção da Guggenheim Fellowship em 1978. Outros financiamentos se seguiram, permitindo-lhe passar até quatro meses por ano a fotografar on the road. Depois vieram as exposições, a começar pelos hotéis das montanhas de Catskill, no Museu Cooper-Hewitt de Design de Nova Iorque, em 1980, e as edições em livro, seja sob a forma de catálogo das exposições, seja de antologias temáticas, dedicadas a especialidade como os cinemas drive-in e os minigolfes.

A consagração internacional chegou já no novo milénio, com homenagens em lugares tão distantes quanto Roma e Macau, ao mesmo tempo que o próprio Congresso norte-americano lhe reconheceu o mérito, comprando-lhe fotografias para o seu arquivo. O mesmo é dizer que as imagens de John Margolies e, consequentemente, a arquitectura e o design vernaculares que passou a vida a retratar, já não são considerados uma piada de mau gosto, mas parte integrante da identidade americana.

A paixão de Margolies terá certamente contribuído para a mobilização que se tem verificado nos Estados Unidos no sentido de preservar os seus tesouros à beira da estrada, inclusive requalificando-os como destinos turísticos. Há mesmo um roadsideamerica.com, guia online para atracções estranhas e prodigiosas, do qual muito obviamente a Tashchen tomou o nome de empréstimo para a presente edição. O guia inclui mapas, sugestões de hotéis e dicas para excursões pela América bizarra e artigos sobre temas tão insólitos como cemitérios de cães, mulheres transparentes e bovinos gigantes.

roadsideamerica.com não partilha, no entanto, da visão e do sentido quase missionário subjacentes ao trabalho de Margolies, já comparado a Heródoto, o célebre historiador que na Antiguidade se dedicou a lançar luz sobre civilizações desaparecidas. Não é menos certo, por outro lado, que as imagens do fotógrafo nova-iorquino funcionam para além do documental, seduzindo na mesma medida em que invocam uma América utópica e desaparecida – a América que já não existe mas com que sonha meio mundo. Nesse aspecto, John Margolies não ficará muito a dever a artistas como Edward Hopper ou Norman Rockwell.



Gorilla Girl, Atlantic City, Nova Jérsia, 1978

 
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