Roni Horn, s/t, No. 15, da série Bird Pairs
(© Roni Horn, cortesia da artista e da Galeria Hauser & Wirth, Zurique, Londres)
(© Roni Horn, cortesia da artista e da Galeria Hauser & Wirth, Zurique, Londres)
Lançamento do PHotoEspaña 2008 abençoado com champanhe
A infanta dona Elena, da casa real espanhola, não cortou fitas, mas houve quem entornasse meia dúzia de flutes de champanhe por cima de uma máquina fotográfica. Não foi intencional. Foi só um tropeção, uma bênção simbólica ou talvez um bom presságio na abertura da 11.ª edição do PHotoEspaña - Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais, que ontem juntou centenas de pessoas à sombra dos plátanos do Real Jardim Botânico, em Madrid.
Pouco antes, Claude Bussac, directora do festival, e o português Sérgio Mah, comissário-geral, fizeram as honras da casa no Círculo de Belas-Artes, onde se mostram duas exposições da secção oficial - Roni Horn e David Claerbout, programadas pela alemã Ute Eskildsen. Para Mah, esta sua estreia num grande acontecimento cultural internacional não contribuirá, a curto prazo, para que outros exemplos de comissariado português no estrangeiro se sigam. “Tive a sorte de ser o primeiro comissário estrangeiro do PHotoEspaña, mas não acho que isso possa significar agora um movimento de comissariados portugueses em outros países. Portugal deve é estar atento aos contributos exteriores”, disse ao PÚBLICO.
Por mais que se queira actual e que esteja muito virado para pensar a produção fotográfica contemporânea, o PHotoEspaña inclui sempre nomes clássicos da história da fotografia. A edição deste ano não fugiu à regra. Na secção oficial foram programadas exposições de dois "grandes" da fotografia mundial, o americano W. Eugene Smith e o inglês Bill Brandt.
Se tivesse que escolher um autor para começar a ver o festival, o comissário seleccionaria W. Eugene Smith.
Más real que la realidad reúne cerca de 200 fotografias dos mais marcantes trabalhos realizados para a revista LIFE, nos anos 1940 e 1950, e os longos e estudados ensaios Pittsburgh e Minamata. Ao longo das fotografias de Smith, percebe-se a importância do lugar (vivia anos a fio nos locais onde fotografava). E também a obsessão com o real e com as estratégias para dar a ver os seus trabalhos da maneira mais "realista" possível. Eugene Smith, arrumado no grupo de fotógrafos humanistas, é considerado um dos criadores do ensaio fotográfico, o genéro onde se tentam estabelecer cumplicidades entre o fotógrafo e o seu assunto e onde se gasta o tempo que for necessário para assegurar que o que foi registado corresponde à realidade máxima dos acontecimentos e das coisas. “O relacionamento mais intenso que o fotógrafo tem com um lugar, com as pessoas, onde se sente a própria transpiração do lugar, é uma espécie de valor ético da prática fotográfica. A ideia de ensaio fotográfico neste programa do festival assinala outra coisa: Em certo sentido, Eugene Smith foi o último dos fotorepórteres”, explicou Mah em entrevista ao PÚBLICO, antes da inauguração do festival.
Para o comissário, os trabalhos publicados na imprensa onde predomina a fotografia são cada vez mais raros e podem estar condenados à extinção. “Agora, os jornais não só não têm espaço para publicar portfolios, como não têm dinheiro ou disposição para pagar a um fotógrafo para estar dois meses a fazer um trabalho. Isso desapareceu”. E é por isso que esta exposição de Smith pode ser considerada arqueologia fotográfica.
(Público, 5.6.2008)
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