19 maio, 2008

a bandeira de chaldej

Ievgueni Chaldej, Berlim, 1945
(© Sammlung Ernst Volland / Heinz Krimmer)

O cenário era perfeito, mas a bandeira não mostrava o que devia mostrar: a foice e o martelo no cume do Reichstag (Parlamento alemão), símbolo máximo da derrota nazi aos pés do Exército Vermelho em Berlim, em 1945. A manipulação da famosa imagem do soldado russo está longe de ser pioneira na história da fotografia. Antes de Ievgueni Chaldej, foram muitos os que não resistiram ao retoque, à sobreposição e ao apagamento de pormenores incómodos no negativo. Mas a importância histórica do desfraldar desta bandeira transforma esta mentira de Chaldej num "pecado" ainda maior. Porque era demasiado perfeita, imaculada. E por isso não merecia essa matriz intrujona a roçar o ilusionismo. Como se não bastasse, na mesma imagem foram apagados os dois relógios do pulso do valente soldado soviético, sinal de que teria havido pilhagens durante a tomada final da capital alemã e de que a queda do Terceiro Reich não teria sido uma operação tão bem comportada como o regime estalinista quereria fazer crer.

O museu alemão Martin Gropius organizou uma grande retrospectiva do fotógrafo ucraniano cujo génio vai, obviamente, muito para além das fotografias comprometidas com o regime soviético. Foram escolhidas 200 provas que dão, pela primeira vez, uma visão geral do seu trabalho e onde se nota, segundo a organização, a tensão entre a fotografia de propaganda e a fotografia documental. Todas as imagens vieram da colecção de Ernst Volland e Heinz Krimmer. A exposição é composta ainda por trabalhos dos fotógrafos russos Dimitri Baltermans e Georgi Petrussov.

Nascido em Donetsk, em 1917, Chaldej começou a fotografar para a agência TASS em 1936. Ao serviço dessa agência registou boa parte da Segunda Guerra Mundial, particularmente a partir do momento em que as tropas de Hitler invadem a ex-União Soviética. Depois do conflito trabalhou alternadamente, até 1970, para a TASS e para o jornal Pravda. Morreu em Outubro de 1997.

Ievgeny Chaldej – The Decisive Moment. A Retrospective
Martin-Gropius-Bau, Berlim
Até 28 Julho

10 comentários:

DarkViolet disse...

Uma bela baadeira:D

Nuno Sousa disse...

Um fotografo genial, capaz de fotos magníficas sem a ajuda do digital nem das poderosas máquinas que fazem rajadas de fotos como uma metrelhadora. Lembro-me do documentário passado na 2 há anos em que descrevia como tremia quando estava perto dos lideres russos, e de como planeou a execussão desta foto.

Guilherme Morgado disse...

Linda fotografia e bandeira mesmo "aldrabada" como se diz.
Tem-se feito pior e muito mais ofensivo nos nossos dias com meios infinitamente mais avançados.
Quanto à ideia da entrada "bárbara" das tropas Soviéticas em Berlim, parece que nos esquecemos o que foi a tentativa animalesca de entrada das tropas nazi em Leninegrado (hoje San Petersburgo) ou em Stalinegrado (hoje Kïev).
Enfim, pontos de vista com os quais felizmente eu nunca alinharei.
Hoje há que começar a ter coragem para se dizer o que se sente!

Anónimo disse...

Belíssima imagem da iconografia Estalinista.
É o fim da Europa por uns 50 anos. É a derrota da Alemanha que loucamente quiz refazer um império continental à imagem dos de finais do século XIX.
Tragica e absolutamente apocalíptica. Memorável mesmo a sua manipulação.
Viva a Liberdade.

Telmo Andrade

Anónimo disse...

Sem a bandeira a fotografia era banal. Com a bandeira elevou-a à categoria de arte; a um ícone máximo do séc. XX. Quanta arte conhecemos que não é "fraudulenta". Acho interessante na era do digital alguém criticar manipulações de fotografias em 1945!! Tenham juízo. Os grandes artistas são assim mesmo: ficam na História.

Anónimo disse...

O regime soviético era perito na manipulação da imagem, é celebre a fotografia de 1917 em que apareciam os aristocrats Lenin e Trostsky lado a lado, no entanto, após a caída em desgraça do último este foi apagado, como se nunca tivesse existido....

Anónimo disse...

Guilherme Morgado disse...:
a tentativa animalesca de entrada das tropas nazi em Leninegrado (hoje San Petersburgo) ou em Stalinegrado (hoje Kïev).

Pois é... então Estalinegrado agora é Kiev?!!!! E antes era o que? Verifique la, sff, a sua geografia, para evitar que, da proxima vez que va na sua mota ao Algarve se perca e acabe nas Asturias!

Anónimo disse...

Guilherme Morgado...
Nem digo com o GPS mas quem escreve tão decidido imaginava eu que saberia mehor geografia... ora o nome é... Tem a vêr com o nome que por lá passa...

Anónimo disse...

com o rio, obviamente que era isso que queria escrevêr.
Cpmts

Anónimo disse...

Kiev será sempre Kiev!
É Volvograd(o)!
Sobre a batalha de estalinegrado
(nunca percebi esta nossa mania de só aportuguesar o que soa bem, Ex. Frankfurt e Munique,quando devia ser Francoforte e Munique ou Frankfurt e München)ver o filme "Ennemy at the gate" (que evoca o célebre dito romano "Anibal ante porta", relegando para a barbarie nazi)
Essa sim, foi a batalha que marcou o reviralho (ou turning point!) da guerra. Como disse Churchill: "Isto não é o fim. Não é, sequer, o princípio do fim. Mas é o fim do princípio" A fase que vai de 1942 a 1943. Entre a avassaladora superioridade alemã da BlitzKriege 1939-1942, e o descalabro total: 1944 (após a também decisiva bataha das ardenas e o estertor do 2º Blitz sobre Londres) e Maio de 1945.

 
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