O Centro Cultural de Belém dedica um ciclo ao escritor norte-americano Paul Bowles, a partir de segunda-feira. Entre as iniciativas apresentadas destaque para a exposição de Daniel Blaufuks (Prémio Bes Photo 2006) que recupera textos, imagens e sons de uma estadia em Tânger, na qual travou conhecimento com o intelectual americano.
Parte dos trabalhos dessa viagem foram publicados por Blaufuks em 1991 (My Tangier, ed. Difusão Cultural). Outro olhar sobre os negativos fez com que viessem agora a público imagens inéditas para Next to Nothing.
Um bom amigo meteu-me há dias no alforge três livros. Um chama-se Tânger e Outros Marrocos, do francês Daniel Rondeau. Está lá a encruzilhada daquilo que é Marrocos. Está lá uma centelha daquilo que foi Paul Bowles. Vou a meio e já quero voltar outra vez à primeira página.
“À noite, os Suques dormem sempre com um olho aberto. Aos primeiros alvores da madrugada, as frituras dos peixes, os pastéis viscosos, as garrafas de cerveja e Coca-Cola ainda encontram apreciadores. Sombras deslizam na madrugada. Os guardas dos estacionamentos de automóveis, enrolados como bolas nos vãos das portas, erguem uma pálpebra para vê-las passar. Os boémios, cheios de kif, descem até ao porto. Vão ver a cor do mar. Uma pequena prostituta, toda de preto, arrasta um dos seus clientes para a praia, pendurada no pescoço dele. A africana Tânger não tem horários.”
Ciclo Paul Bowles - Um Abrigo na Terra
Centro Cultural de Belém, Lisboa
Até dia 31 de Março
Next to Nothing, de Daniel Blaufuks
Até dia 30 de Abril
1 comentário:
Tânger é sempre mais interessante nos livros do que na realidade. Talvez já tenha sido uma grande cidade. Hoje não é mais do que um buraco infecto onde o ocidental é visto como um inimigo de bolsos cheios.
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