11 abril, 2013

os outros

Kurt Pinto


Os outro fotógrafos do Mundo Português

A imagética fotográfica associada à Exposição do Mundo Português (EMP), 1940, tem surgido associada, invariavelmente, a um nome: Mário Novais (1899-1967). São dele as fotografias nocturnas impecavelmente captadas e as fontes com efeitos fumegantes que temos na cabeça quando pensamos no modernismo de cariz nacionalista da paisagem construída para a EMP. São dele boa parte das imagens reproduzidas nos vários catálogos, álbuns, roteiros, guias, folhetos, cartazes e restante parafernália propagandística da celebração do duplo centenário da fundação e da independência de Portugal que o Estado Novo decidiu erguer em Belém, Lisboa. O certo é que, apesar de ter tido um papel preponderante e com acesso privilegiado ao recinto da mostra (é o único fotógrafo escolhido para registar o interior dos pavilhões históricos), Novais foi apenas um dos muitos fotógrafos contratados pelo Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) para a cobertura da exposição oficialmente lançada por Salazar, em 1938.

A monumentalidade da obra fotográfica que saiu da actividade de Novais durante a Exposição do Mundo Português (é encarado como o momento da sua consagração) teve o condão maléfico de ofuscar a obra de outros fotógrafos com um trabalho daquele momento tão ou mais interessantes do que o dele. Por outro lado, enquanto este corpo de trabalho de Novais foi sendo recorrentemente revisitado (foi objecto de uma grande exposição no Convento do Beato, em 1998), há imagens de outros, como as de Kurt Pinto, que desconhecíamos em absoluto. E esta descoberta/revelação é talvez o maior mérito da exposição Fotógrafos do Mundo Português/1940 patente no Padrão dos Descobrimentos, obra que é um dos poucos símbolos que permaneceram da exaltação histórico-nacionalista e colonialista do duplo centenário de 1940. A organização, que ficou a cargo do Padrão, do Arquivo Municipal de Lisboa, da Fundação Gulbenkian e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, escolheu fotografias de Horácio e Mário Novais, Kurt Pinto, António Passaporte, Paulo Guedes, Augusto de Abreu Nunes, Ferreira da Cunha, Eduardo Portugal e Casimiro dos Santos Vinagre, de quem a Fundação Gulbenkian comprou o espólio muito recentemente.

Do grande espectáculo que se ergueu em Belém resta pouco. A ideia de uma "cidade da História" saída da cabeça do arquitecto-chefe Cottinelli Telmo tinha um cunho transitório. A fotografia, que possui a propriedade vigorosa de transformar o efémero em permanente, revela-se hoje como uma das mais relevantes manifestações da Exposição do Mundo Português e uma das poucas ligações que temos a esse espaço delineado a régua e esquadro que agora se nos afigura imaculado, demasiado imaculado.

Paulo Guedes

Sem comentários:

 
free web page hit counter