Da série Grécia, onde a crise económica criou uma catástrofe social © Bruno Simões Castanheira |
Uma reportagem sobre a ténue situação económico-financeira em que está mergulhada a Grécia, bem como os problemas sociais que esta conjuntura provoca, valeu a Bruno Simões Castanheira o Prémio de Fotojornalismo 2013 Estação Imagem/Mora, distinção atribuída pelo único concurso do género em Portugal.
Entre os vencedores, há três fotojornalistas do PÚBLICO, um dos quais, Daniel Rocha, obteve o primeiro lugar na categoria Retrato com a série O Desemprego tem um Rosto. Paulo Pimenta – que foi o primeiro vencedor do Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem/Mora, em 2009 – foi reconhecido na categoria Arte e Espectáculos (segundo lugar), e Nelson Garrido, também repórter deste jornal, foi distinguido na categoria Vida Quotidiana pela série Home Less.
O anúncio dos vencedores foi feito em Mora, localidade que acolhe pelo quarto ano consecutivo a cerimónia de entrega dos prémios que nesta edição foram escolhidos por um júri internacional constituído por Elisabeth Biondi (curadora independente e ex-editora visual da revista The New Yorker), Jim Casper (fundador e director do site lensculture.com), Maurício Lima (ex-fotojornalista da AFP e colaborador de várias publicações internacionais) e Paul Hanna (fotógrafo-chefe da agência Reuters em Espanha).
O trabalho Bruno Castanheira, intitulado Grécia, onde a crise económica criou uma catástrofe social e publicado no jornal i em 27 de Dezembro de 2012, revela a angústia, o desespero e a violência que passaram a fazer parte do quotidiano da Grécia, país alvo de resgate da troika e a braços com várias medidas austeridade.
Mergulhado num contexto parecido, Portugal, resgatado em 2011, viu as taxas de desemprego subirem até níveis inéditos, lançando na incerteza milhares de pessoas que todos os dias procuram saídas nas filhas dos centros de emprego. Foi aí que Daniel Rocha procurou dar um rosto ao desemprego em Portugal.
No dia 1 de Maio de 2012 lançou no PÚBLICO o blogue O Desemprego tem um Rosto, actualizado com rostos a preto e branco que privilegiam o olhar directo e incisivo dos retratados.
Citada num comunicado da organização do prémio, Elisabeth Biondi, presidente do júri, reconheceu que “não foi tarefa fácil” escolher os vencedores tendo em conta que “havia muito boas reportagens, principalmente na categoria de Assuntos Contemporâneos” que foi também aquela que concentrou a maior parte do meio milhar de candidaturas recebidas.
Na edição do ano passado do prémio, o presidente do júri Emilio Morenatti lamentou a falta de trabalhos que a ajudassem reflectir sobre o grave momento de crise que atravessava (e ainda atravessa) Portugal. O experiente repórter da agência Associated Press estranhou que entre as mais de 400 candidaturas não existissem imagens de um quotidiano a vários níveis inédito pelas piores razões. “Os fotógrafos contemporâneos têm que fiscalizar a crise social. Têm que fotografar o que se passa em frente às suas casas. É importante sair à rua e medir isso que se passa em Portugal e na Europa actual”, disse num depoimento gravado em vídeo antes do anúncio dos prémios de 2012. A lista de vencedores deste ano mostra que a mensagem foi ouvida, já que há prémios para várias facetas do momento de excepção que o país hoje vive.
Na categoria Notícias, Pedro Nunes venceu com Crise Envergonhada e o terceiro lugar foi para António Pedro Santos, com o trabalho A crise é o maior ‘reality show’ do mundo. O trabalho Home Less de Nelson Garrido olha para o paradoxo do parque imobiliário em Portugal, onde existem "muitas casas sem pessoas e muitas pessoas sem casa”, portefólio reconhecido na categoria Assuntos Contemporâneos. Na mesma categoria, a fotojornalista da agência AFP Patrícia de Melo Moreira foi distinguida pela série Crise Portuguesa.
O portefólio Futebol Africano de Daniel Rodrigues, recentemente distinguida no concurso de nível mundial World Press Photo, ficou em primeiro lugar na categoria Desporto que teve apenas um vencedor.
Todos os anos, a organização atribui uma bolsa de 4000 euros para o desenvolvimento de um trabalho relacionado com o Alentejo. António Pedrosa, vencedor do principal galardão do concurso no ano passado com o portefólio Iraquianos, é o vencedor da Bolsa Estação Imagem Mora 2013 com o projecto Caça Grossa. As imagens daqui resultantes serão publicadas em livro e expostas a partir do anúncio dos prémios do próximo ano.
A exposição Álbum de Família de Nelson d`Ayres, vencedor da bolsa do ano passado, será hoje à tarde inaugurada na Casa da Cultura, momento em que será também a apresentado o livro com o mesmo nome que mostra os rostos de hoje de dezenas de pessoas retratadas por António Gonçalves Pedro (1927-1999), fotógrafo ambulante de Mora que captou durante anos o tecido social da região.
A edição do prémio deste ano incluía sete categorias diferentes, mais uma que nas edições anteriores (Assuntos Contemporâneos). O vencedor do prémio Estação Imagem/Mora foi seleccionado pelo júri a partir de todo o universo das 492 reportagens apresentadas por 167 fotojornalistas, independentemente da categoria a que se candidatavam.
Lista de vencedores
Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem/Mora
Bruno Simões Castanheira
Grécia, onde a crise económica criou uma catástrofe social
Notícias
1º Prémio – Pedro Nunes
A crise envergonhada
2º Prémio – Pedro Armestre
Gurugú
3º Prémio – António Pedro Santos
A crise é o maior reality show do mundo
Vida Quotidiana
1º Prémio - António Pedro Santos
Santa Filomena. Num instante, a casa cai
2º Prémio - Augusto Brázio
Estação de Brinches-Serpa
3º Prémio – Pedro Elias
Dead Taxi Drivers
Arte e Espectáculos
1º Prémio – Bruno Simão
A Virgem Doida
2º Prémio – Paulo Pimenta
Aduela
Assuntos Contemporâneos
1º Prémio – João Carvalho Pina
Shadow of the Condor
2º Prémio – Nelson Garrido
Home Less
3º Prémio - Patrícia de Melo Moreira
Crise Portuguesa
Ambiente
1º Prémio – Octávio Passos
Inferno na ilha da Madeira
2º Prémio - Gabriel Tizón
Vidas no lixo
3º Prémio – Pedro Armestre
Incêndios
Série de retratos
1º Prémio – Daniel Rocha
O desemprego tem um rosto
2º Prémio – Mário Macilau
Forgotten
3º Prémio – Alfredo Cunha
Os Anjos de S. Bartolomeu do mar
Desporto
1º Prémio – Daniel Rodrigues
Futebol Africano
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