05 outubro, 2011

entre aspas




Devia ter perguntado muita coisa nessa tarde. Mas mais tarde, embora lamentando não o ter feito, percebi que o ter obtido respostas a qualquer pergunta minha que começasse por 'O que aconteceu a...', não me teria dito por que é que eu tinha a sensação estranha de que o que eu estava a ver era o que se passa por detrás do que vemos. Não foi preciso mais do que ouvir uma das raparigas a dizer para o fotógrafo, antes mesmo de ele ter tirado a fotografia do curso, 'Veja se não apanha as rugas', não foi preciso mais do que rir com os outros com a anedota bem cronometrada, para perceber que o Destino, o enigma mais antigo do mundo civilizado - e o nosso primeiro tema de composição no primeiro ano de Mitologia Grega e Romana, onde eu escrevi 'as Parcas são três deusas, chamadas as Meras, Cloto que tece, Láquesis que determina o seu comprimento e Átropo que corta o fio da vida' - o Destino se tornara perfeitamente compreensível enquanto que tudo o que não era enigmático, como o ficar, na fotografia, na terceira fila de trás, com um braço em cima do ombro de Marshall Goldstein ('Filhos, trinta e nove, trinta e sete. Netos, oito, seis') e o outro em cima do ombro de Stanley Wernikoff ('Filhos, trinta e nove, trinta e oito. Netos, cinco, dois, oito meses.'), se tornara inexplicável.


Philip Roth, Pastoral Americana, ed. D. Quixote

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