30 janeiro, 2010

Resistência

Fundo Aurélio da Paz dos Reis © Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC


Sérgio C. Andrade
P2, Público, 29.01.2010

Aurélio da Paz dos Reis costuma ser recordado como pioneiro do cinema português. A sua efémera aventura cinematográfica no final de 1896 atirou para segundo plano a sua extensa e notável obra de fotógrafo, em que registou vários momentos na vida social e política do país na viragem dos séculos XIX-XX. Entre esses episódios está o movimento que haveria de levar à implantação da República (na imagem acima, o registo de um impressionante comício republicano realizado no Porto, em 1908), e de que Paz dos Reis foi não só testemunha, com a sua câmara fotográfica, como protagonista: foi um dos sublevados do 31 de Janeiro de 1891, a malograda revolta do Porto cuja próxima efeméride é pretexto para o lançamento, no domingo, das comemorações do centenário da República.

O programa começa com a inauguração da exposição Resistência. Da alternativa republicana à luta contra a ditadura (1891-1974), que reúne em nove núcleos distribuídos pelos diferentes espaços do Centro Português de Fotografia (CPF)/Cadeia da Relação, no Porto, uma perspectiva histórico-documental sobre esse percurso entre o 31 de Janeiro e o 25 de Abril.

Realizada com base em fotografias - mas também em filmes, testemunhos audiovisuais e textos -, esta não é, contudo, uma exposição de arte fotográfica. "Aqui não temos fotografias originais, temos reproduções de chapas e de páginas de diferentes publicações. Muitas vezes custa sacrificar uma boa fotografia do ponto de vista estético para dar lugar a outra cujo potencial narrativo é mais adequado ao projecto documental", justifica Tereza Siza, comissária da exposição em parceria com o historiador Manuel Loff (a montagem cenográfica é do designer Andrew Howard).

As três centenas de imagens reunidas na Cadeia da Relação pertencem a vários arquivos institucionais e particulares (Dgarq, CPF, Assembleia da República, Hemeroteca de Lisboa, Arquivo Histórico-Militar e Fundação Mário Soares, mas também às colecções pessoais de Artur Santos Silva, Mário Marques e Alfredo Ribeiro dos Santos) e testemunham praticamente um século da História portuguesa, desde o 31 de Janeiro até à Revolução dos Cravos. Os comícios, a festa e as figuras da República, o 28 de Maio de 1926 e a primeira tentativa de revolta logo no início do ano seguinte, também no Porto, os anos do Estado Novo e do salazarismo, na sua suposta (e imposta) pacatez e ordem, os movimentos da Resistência, desde as greves dos anos 40 até às campanhas presidenciais de Norton de Matos e de Humberto Delgado, e, claro, o 25 de Abril de 1974 - são as várias estações desta visita guiada. Para ver até ao próximo 5 de Outubro, dia do centenário da República.


Fundo Aurélio da Paz dos Reis © Centro Português de Fotografia/DGARQ/MC

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