02 outubro, 2009

do sentir


Guillaume Zuili, Untitled, Moscovo, 2000
© Guillaume Zuili/Cortesia Galeria Pente 10, Lisboa

Diz Guillaume Zuili que na fotografia lhe interessa mais sentir do que ver. Se é verdade que tendemos a olhar para a imagem fotográfica como um fim em si, como a concretização derradeira de decisões mentais e de movimentações mecânicas e químicas, também não deixa de ser poderoso o apelo à releitura, à reinterpretação e à narrativa subjectiva que cada fotografia em potência carrega. E, paradoxalmente, é sempre possível fantasiar, inventar novos sentidos, construir universos imaginários a partir deste suporte que um dia "sonhou" encerrar a realidade. Ao optar por impressionar duas vezes cada Polaroid com paisagens distintas a partir do mesmo local, Zuili aveluda-nos o caminho rumo à sobreinterpretação. A projecção em diferentes camadas - que nascem não só da acção óptica, mas também da acção química da superfície sensibilizada e da acção física do autor ao destapar essa superfície - espicaça e atordoa. Confere dinâmica ao acto de "ver", aqui mais acompanhado do "imaginar" e muito mais do "sentir". Na sua forma, as fotografias de Zuili não são abstractas. Mas o certo é que ao procuramos nelas a posição natural das coisas não a encontramos. O que encontramos é um conjunto de véus difusos, umas vezes encantatórios, outras vezes atemorizadores. Ao olharmos para estas imagens tendemos a desarrumar a percepção e a ordem, entrando por esta via no jogo de intenções que definiram o próprio acto criativo, muitas vezes aventureiro ou apenas confiante na mediação do acaso.
Talvez a desestabilização do ver se chame sentir.
Em Exposed Cities Guillaume Zuili faz-nos sentir com ele.


Guillaume Zuili, Untitled, Berlim, 1998
© Guillaume Zuili/Cortesia Galeria Pente 10, Lisboa


Exposed Cities, de Guillaume Zuili
Galeria Pente 10, trav. da Fábrica dos Pentes, 10, Lisboa
Até 21 de Novembro

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