09 agosto, 2009

Arles

Hyman Goldin, Barbara in mask, Washington DC, 1953
© Hyman Goldin


Há 40 anos a marcar Encontros
(P2, 09.08.2009)

Os Encontros de Fotografia de Arles entraram na casa dos 40, mas parecem longe de acusar a idade. Na passagem do milénio, o festival de fotografia mais antigo do mundo parecia estagnado e sem argumentos para recuperar o cariz político (que lhe deu impacto), o espaço criativo (que lhe deu reputação), a força do debate (que suscitou paixões) e a atitude libertária (que seduziu viajantes) - tudo marcas fundamentais das primeiras edições, concretizadas durante a ressaca do Maio de 68. Em 2001, o programa oferecia 14 exposições que foram vistas por nove mil pessoas. No ano passado, as 60 mostras do cartaz receberam 60 mil visitantes. Os Encontros alargaram o leque de géneros, tendências e suportes, recuperaram brilho e ganharam o fôlego de outros tempos.


Oan Kim, da série Je suis le chien Piti
© Oan Kim

Se há coisas que se podem repetir no tempo com alguma nitidez, há outras que se vão desvanecendo, às vezes irremediavelmente. François Barré, presidente do festival francês desde 2001 e um dos artífices deste novo alento, lembra algumas das características que já estão muito longe dos "heróicos" primeiros anos: os Encontros deixaram de ser apenas "profissionais" para se "destinarem a todos e abrirem a todos"; as máquinas Leica deixaram de ser as únicas "relíquias" da prática fotográfica; o preto e branco e o suporte analógico deixaram de ser opções exclusivas da imagem fixa (em contramão, a cor passou a estar "por todo o lado" e o digital "invadiu o planeta fotografia"). Barré proclama no texto de apresentação deste ano a "continuação do espectáculo" ("apesar da crise") e antevê edições de "extraordinária mutação".

Enquanto espera pelas imagens de mudança do futuro, o festival olha para as imagens de ruptura que ajudaram a construir o seu (nosso) passado. A programação dos Encontros, a decorrer até 18 de Setembro, assenta em dois eixos principais: 40 ans de Rencontres celebra a dedicação e os múltiplos talentos de Robert Delpire (criador da célebre colecção de livros de fotografia Photo Poche) e reúne exposições de novos talentos escolhidos por antigos directores artísticos e fotógrafos que ajudaram a escrever a história do festival; 40 ans de ruptures integra trabalhos apresentados em Arles que provocaram debate e desafiaram convenções. É aqui que se encontra a retrospectiva de Duane Michals e as exposições dos 13 fotógrafos escolhidos pela americana Nan Goldin, comissária convidada deste ano e uma das muitas fotógrafas lançadas pelo festival de Arles. Goldin apresenta ainda imagens das séries The Ballad of Sexual Dependency e Soeurs, Saintes et Sybilles e fotografias da sua colecção privada. Paulo Nozolino é outro dos fotógrafos da ruptura representados, ao lado de Brian Griffin, Eugene Richards, Martin Parr e René Burri.


Eugene Richards, do livro The Blue Room, Corinth, Dakota do Norte, 2006
© Eugene Richards

#Pendant la crise, le spectacle continue, texto de François Barré
#40 de Rencontres, 40 ans de ruptures, texto de François Hébel
#Programação completa dos Rencontres d`Arles

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