06 abril, 2009

o regresso dos franceses

Porto, Palácio de Cristal, 2008
© Georges Dussaud

Sérgio C. Andrade
(P2, Público, 4.04.2009)

Aquela mulher está sempre ali a dividir a sua comida com os pombos!”, dizia Georges Dussaud, um dia desta semana, quando descíamos a Rua Mouzinho da Silveira, em plena Baixa portuense. A sua mulher Christine acrescentava que, no café e na peixaria que se habituaram a frequentar perto do antigo campo do Salgueiros, são já cumprimentados e “simpaticamente tratados como gente da terra”.

É esta faceta “quase rural, de uma aldeia na grande cidade”, que mais agrada ao fotógrafo francês, e é esse Porto que ele regista, com a “objectiva afectiva” da sua Leica, como o P2 pôde verificar quando o acompanhou, em Novembro de 2007, estava Dussaud a começar a fotografar a cidade respondendo a um desafio dos Serviços Culturais do Consulado de França no Porto e do Centro Português de Fotografia (CPF).

Depois de várias semanas, em diferentes épocas do ano, de passeio e deriva pelas ruas e bairros da cidade, o olhar com que Georges Dussaud viu (e vê) o Porto está agora também à vista de todos, numa exposição no CPF/Cadeia da Relação. É a montra mais vasta e mais expressiva da iniciativa InVisões: Portugal visto pelos fotógrafos franceses, que reúne uma selecção de trabalhos realizados desde o final do século XIX até à actualidade e que integram a Colecção Nacional de Fotografia – e onde estão autores como Henri Cartier-Bresson, Edouard Boubat, Alain Buttard, Bernard Plossu, Bernard Faucon, Robert Demachy ou Jacques-Henri Lartigue.

Na sua (In)visão do Porto – o título da exposição é um declarado trocadilho com Invasão, agora na ordem do dia por via da evocação do bicentenário das Invasões Francesas –, Georges Dussaud insiste na estética que tem marcado a sua obra, e que a partir de 1987 associou à histórica agência Rapho, que fora fundada em Paris em 1933, e por onde passaram nomes como Robert Doisneau e o já citado Edouard Boubat. “Faço uma fotografia dita da escola humanista e afectiva. Eu não saberia fazer um trabalho sob a perspectiva da antipatia, da distância ou do ódio. Aquilo que me interessa é estabelecer uma relação de simpatia com as pessoas”, justifica Dussaud. Foi essa faceta que certamente fez com que fosse desafiado, pela câmara de Lisboa, a fazer um trabalho sobre o bairro do Martim Moniz, na capital. “Sei que é um bairro com forte presença de imigração, com muitos indianos, paquistaneses e africanos”, diz o fotógrafo (que já publicou um livro sobre a Índia), que não sabe ainda se vai haver condições para que esse projecto se concretize.

Adiado fica, por enquanto, a edição de um catálogo da exposição sobre o Porto, por falta dos apoios necessários à sua realização. A concretizar-se, o livro poderá vir a incluir também fotografias de Gaia, que Dussaud está agora a fotografar. “Faria todo o sentido deixar um traço de todo este investimento humano e afectivo”, diz o autor das Crónicas Portuguesas, a grande exposição retrospectiva que realizou na Cadeia da Relação em 2007, e que tem vindo a ser apresentada noutras cidades portuguesas – as próximas paragens serão Évora, em Junho, e possivelmente a Régua, no final do ano.

InVisões, Portugal Visto pelos Fotógrafos Franceses, vários autores
Centro Português de Fotografia, Porto
Até 30 de Setembro

Sem comentários:

 
free web page hit counter