(Erich Salomon)
Chamavam-lhe o rei dos indiscretos
(Público, 28.11.2008)
Conferências internacionais, julgamentos, recepções a embaixadores, festas da alta sociedade alemã. Erich Salomon estava lá, com as suas câmaras fotográficas (a Leica ou a Ermanox de que raramente se separava), exibidas na mão ou escondidas numa pasta, para registar “momentos de desatenção” de alguns dos maiores políticos e celebridades do período entre as duas grandes guerras. Estava lá porque fazia parte dessa elite que ao mesmo tempo desafiava no seu próprio território, expondo-a naquilo que tinha de menos público.
Cento e trinta fotografias de Erich Salomon (1886-1944) estão até 25 de Janeiro no Jeu de Paume (Hotel de Sully), em Paris. A exposição, a primeira de uma trilogia dedicada à fotografia europeia entre guerras, é feita com o museu de arte moderna, arquitectura e fotografia de Berlim (depositário do arquivo Salomon) e ajuda a traçar o percurso deste filho de banqueiros, doutorado em Direito, que chegou a estudar zoologia, e que aos 40 anos se tornou fotógrafo.
Pioneiro do fotojornalismo, Salomon tornou-se famoso a partir de uma reportagem para o Berliner Illustrirte Zeitung em que, com a câmara escondida, fotografou um homicida em tribunal através de um buraco feito no chapéu. Seguiram-se muitos encontros com estrelas
das artes (como Marlene Dietrich) e da política (o primeiro-ministro francês Aristide Briand chamava-lhe o rei dos indiscretos), que muitas vezes só descobriam nas páginas das revistas e nas paredes das galerias que tinham sido apanhadas pelo “Houdini da fotografia”.
Judeu, refugiou-se na Holanda com a ascensão do nazismo na Alemanha. Com a invasão alemã, a família Salomon é descoberta e enviada para Auschwitz, onde viria a morrer em Julho de 1944. O seu trabalho ficou, como testemunha da revolução que desencadeou. Não era por acaso que Briand dizia que uma reunião só era verdadeiramente importante se Salomon lá estivesse.
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