13 novembro, 2008

Paris Photo + Mois de la Photo

Tomatsu Shomei, Blood & Rose 2, Tóquio, 1969
© Shomei Tomatsu (cortesia Michael Hoppen)


O Japão já não quer ser exótico

Sérgio B. Gomes
(P2, Público, 13.11.2008)

Quem diz que o Japão ainda é exótico? Nós, que o vemos daqui, à distância, quase sempre desfocado e sobretudo através de imagens mais do que batidas.
Na panorâmica típica, saltam à vista, entre outros clichés, as alpergatas altas de meter o dedo, os quimonos de seda, a cerimónia do chá, a caligrafia ou aquele desporto com homens muito pesados que se atiram de frente uns contra os outros.
O japonesismo fez-se notar no Ocidente a partir da Exposição Universal de Paris de 1867, onde o Pavilhão do Japão deu que falar e espalhou influências que se haviam de manifestar em artes e modos de vida. A novidade exótica desse tempo ficou colada a muito do que a cultura nipónica mostrou deste lado do globo. Paris, no século XIX, deu-nos a imagem do Japão das alpergatas. A Paris Photo, a maior feira de fotografia do mundo, que hoje começa, quer dar-nos outras imagens do Japão que tentam escapar a esse determinismo redutor guiado apenas pela excentricidade de estilo e de gosto. É aqui que estarão os “sentimentos de incompreensão”, e as “sensações de ambiguidade” provocadas pelo mundo e realidade actual do país, promete Mariko Takeuchi, comissária da representação nipónica.
Nunca, desde que começou, em 1997, a Paris Photo tinha convidado um país asiático. Nunca na Europa se tinha visto uma amostra da fotografia japonesa tão vasta em quantidade (130 artistas expostos) e tão rica em qualidade (grandes mestres do século XIX, movimentos “avant-garde” e pós-guerra e parte significativa da mais relevante produção contemporânea, Hiroshi Sugimoto, Nobuyoshi Araki, Daido Moriama…). É o Japão, “convidado de honra”, a tentar aproveitar ao máximo a luz dos holofotes e o interesse crescente pelos seus artistas fotógrafos que não são reconhecidos apenas pela qualidade das imagens que encostam nas paredes mas também pela qualidade das imagens que imprimem em livro, o seu suporte mais acarinhado e rigorosamente tratado, verdadeiro substituto de galerias e museus.
Se há capital da fotografia em Novembro, é Paris e mais nenhuma. A juntar à Paris Photo, que se estende apenas até ao próximo domingo, celebra-se durante este mês a bienal Mois de la Photo cujas exposições - o tema é Fotografia Europeia: Entre a Tradição e a Mudança - se espalham pelos mais variados espaços da cidade. Quatro destaques: Lee Miller, no Jeu de Paume, The School of Dusseldorf, no MAM Ville de Paris, Sabine Weiss, na Maison Européenne de la Photographie e Walker Evans, na Fundação Henri Cartier-Bresson.

Para ver uma galeria sobre a fotografia japonesa no Paris Photo clique aqui
O programa do Paris Photo está aqui
E o do Mois de la Photo aqui
Nota: estarei em Paris durante o fim-de-semana. Escreverei aqui sobre estas duas iniciativas na medida do possível

Homma Takashi, s/t, da série Tokyo and my Daughter, 2005
(© Cortesia Galerie Claud Delank)

3 comentários:

Anónimo disse...

adorei encontrar seu blog. textos ótimos, super atual e imagens lindas.
vou voltar.

val

PdR disse...

A fotografia japonesa pode ser bastante variada.
Isso mesmo pude provar na exposicao Heavy Light, no ICP, em Nova Iorque.
Ha' trabalho em que se nota uma forte influencia da chamada Fotografia Contemporanea Ocidental (nomeadamente Alema), com artistas como Naoya Hatakeyama - com um tipo de fotografia industrial, mas menos monumental que o dos Becher; ou as fotografias de Asako Narahashi que documentam a costa do Japao e onde a 'agua e' uma presenca.
Por outro lado aparecem outros trabalhos como o de Tomoko Sawada que sao um desafio 'a percepcao visual do espectador - onde ela digitalmente se repete em cenas interpretando varias personagens da sociedade japonesa - onde o exotismo da' lugar 'a confirmacao de um imaginario que aprendemos a reconhecer pela cultura que tem vindo a ser exportada pelo Japao. Ela engorda, emagrece, personifica, ao ponto de nao ser perceber quem e'.
Mas e' bastante simpatica, por acaso.

Seria muito interessante ter esta exposicao no Museu da Fundacao Oriente, por acaso. Recomendo-a.

PdR disse...

Gosto muito do trabalho de Homma Takashi e lembrei-me que esta' 'a venda o livro editado pela Nieves (uma editora suica, de livros de autor) aqui

 
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