01 novembro, 2008

o regresso dos murmúrios



Murmúrios do Tempo é das exposições de fotografia que mais recordo. É daquelas que fulminam. E que nos fazem estremecer. É daquelas onde se sente a vibração máxima dos olhares fotográficos. Esses olhares de espanto, de susto, de altivez, de desespero, de tristeza, de vergonha e de loucura. Esses olhares contrariados de quem foi confinado num espaço, num tempo. De quem ficou duplamente aprisionado. Haverá poucas exposições em Portugal onde o espaço dirá tanto às imagens que guarda e mostra como a Cadeia da Relação e os retratos dos seus indigentes, os figurantes de Murmúrios do Tempo, uma das primeiras exposições do Centro Português de Fotografia (Dezembro 1997).
É difícil imaginar esta sucessão de imagens num espaço como o Silo, do NorteShopping, no Porto. Sobretudo depois do que se viu e onde se viram estes rostos proscritos. Em todo caso, louve-se a iniciativa de trazer de novo à luz fotografias que fazem mais do que se mostrar - sussurram-nos histórias de vida, pequenas ou grandes.

Murmúrios do Tempo
Espaço Cultural Silo, NorteShopping, Porto
Até 5 de Dezembro

1 comentário:

Anónimo disse...

"O rosto olha-se no rosto que o envolve. E nesse olhar-se
olhando, o rosto é confronto. Dobra-se, pois, sobre si,
questiona o sentido do outro rosto, essa secreta margem
de melancolia. Diante de si, o rosto é apenas um indizível
abandono. Até que um outro rosto o inaugura,
o resgata da morte. Aí, nesse momento em que a palavra
nasce, o olhar incendeia-se, sobe desamparado à boca,
rasga-se. E, rasgando-se, dá-se."


( Cecília Meireles, O Rosto)

 
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