Na rua de San Juan de Létran, na Cidade do México, que aparece em Los Olvidados, o primeiro filme de Buñuel no México
© Luís Buñuel
México pela câmara (fotográfica) de Luis Buñuel
Alexandra Prado Coelho
(P2, Público, 15.11.2008)
“Para Luis Buñuel, provavelmente não representavam muito mais do que imagens de cenários para os seus filmes. Mas, 25 anos depois da morte do realizador, as fotografias que tirou no México, nos locais onde depois filmou, tornam-se elas próprias objecto de exposição. São cerca de 80 fotografias - que podem ser vistas durante o Estoril Film Festival, entre hoje e o próximo dia 22 - que o realizador, nascido em Espanha mas naturalizado mexicano, tirou durante a preparação e rodagem de 12 dos 20 filmes que fez no país onde viveu quatro décadas e acabaria por morrer, em 1983.
As imagens revelam, explica a comissária Elena Cervera no texto de apresentação, um aspecto menos conhecido da obra de Buñuel e permitem-nos "contemplar um México distante do turístico" e de "qualquer pretensão esteticista".
Uma rua larga, com pouca gente, sol, um homem em primeiro plano com um chapéu preto e jornais às costas (Los Olvidados); velhas casas com arcadas por onde passa um mexicano levando dois burros (fazenda de San Francisco de Cuadra, de Abismos de Pásion); um rio, entre palmeiras, com uma velha ponte (de El Rio y la Muerte); o palacete de El Ángel Exterminador.
A exposição está organizada de forma a que junto de cada imagem surja o fotograma equivalente no filme a que corresponde. Algumas fotografias terão sido tiradas exactamente no local onde Buñuel pôs depois a câmara de filmar; outras têm apenas a preocupação de registar um espaço e um ambiente.
"Durante quatro ou cinco meses, geralmente sozinho, dediquei-me a percorrer as cidades perdidas, quer dizer, os arredores improvisados, muito pobres, que rodeiam a Cidade do México. Algo disfarçado, vestido com roupas velhas. Olhava, escutava, fazia perguntas, fazia amizade com toda a gente", contou Buñuel na sua autobiografia O Último Suspiro. Durante esses passeios, fotografava.
As imagens chegaram à Filmoteca Española, numa caixa de cartão, classificadas em 73 grupos, com formatos e papéis diferentes - o que é natural, segundo a comissária, porque entre o primeiro filme que o realizador fez no México, Los Olvidados (1950), e o último, Simón del Deserto, passaram-se 15 anos. Para assinalar os 25 anos da morte de Buñuel, o Estoril Film Festival mostra também O Último Guião, documentário de Javier Espada e Gaizka Urresti, que inclui, além de material inédito do cineasta, uma sessão de filmagens no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, onde Buñuel trabalhou quando chegou aos EUA.”
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