29 agosto, 2008

peregrinação

Xangai, China, 2006
(© Virgílio Ferreira)


Desde Julho que Virgílio Ferreira mostra Daily Pilgrims (Peregrinos do Quotidiano) no Centro Português de Fotografia. O conjunto revela paisagens urbanas asiáticas habitadas por personagens em trânsito fantasmagóricas, paradoxalmente sempre muito presentes. O catálogo da exposição, a cargo do autor, ficará como um dos melhores livros de fotografia do ano no escasso mercado editorial português. O design responde acertadamente ao formato das imagens e ao espírito intimista e ao mesmo tempo grandiloquente do trabalho.

Maria do Carmo Serén escreveu este texto para a apresentação da mostra:

Peregrinos do Quotidiano é um dos últimos projectos de Virgílio Ferreira que o levou a percorrer as cidades globalizadas asiáticas como Pequim, Xangai, Hong-Kong, Macau, Tóquio e Bangkok. O objectivo declarado liga-se com essa figura da Sociologia que lhe dá o título: o universo que se adivinha nos gestos e actividades dos habitantes urbanos do mundo em rede mediática.
Tudo nos surge numa perspectiva fotográfica muito actual, exuberância de cor em imagens directas, sem trabalho digital, debitando as alegorias contemporâneas do olhar fotográfico, como o desfocado a sobre-exposição e os 'timings' dessa mesma exposição, o objecto fotográfico fragmentário e ocultado, os contrastes entre a nitidez do fundo ou do primeiro plano e, acima de tudo, a composição que procura representar o que fica no olhar errante. Trata-se, pois, de um trabalho de autor que tem o mérito de deixar uma forte impressão sobre essas duas realidades coincidentes: a globalização patente no vasto continente asiático, (cidades pós-modernas, preenchidas pela informação) e a emergência multicultural de características orientais que não deixam perder o espírito da festa e da fundação: a ornamentação, um certo excesso da cor, a profusão do dourado, um ou outro traço cultural.
E, naturalmente, a solidão que matiza as metrópoles da contemporaneidade, mais nítida ainda porque temos de a identificar num rosto na penumbra, no alheamento dos gestos, sem velhas estratégias de abandono e melancolia.

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Xangai, China, 2006
(© Virgílio Ferreira)

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