05 junho, 2008

PHE08 - notas I

Exposição de Florian Maier-Aichen

Está calor em Madrid. Está sempre calor em Madrid. E ainda querem eles cortar a sombra das árvores do Paseo del Prado... O calor sabe sempre bem, sobretudo se for suportado à sombra. E, já agora, à sombra de árvores.
Não é que a temperatura seja propriamente uma categoria estética da fotografia, mas, numa altura em que a camisa já se colava ao corpo, soube bem começar o dia na Islândia de Roni Horn. Não se viu neve, mas sentiu-se frio. Seguem-se algumas notas soltas do dia:

> no Círculo de Belas Artes, Sérgio Mah fez a sua primeira apresentação para a imprensa internacional. Num dos espaços culturais mais emblemáticos da cidade, há duas exposições do PHE para ver: Roni Horn, comissariada por Ute Eskildsen, e David Claerbout, comissariada por Sérgio Mah. Em Horn percebe-se a obsessão pelo lugar - a Islândia. Há séries de fotografias dispostas no espaço de maneira muito diferente e todas sugerem essa descoberta e posterior aproximação apaixonada. Assim que são isolados motivos vem ao de cima uma necessidade quase enciclopédica de registar. Há títulos poéticos como Her, Her, Her and Her ou You Are the Weather. Este aspecto foi aliás um dos temas de conversa na conferência. Ute Eskildsen explicou que muitas vezes as séries de Horn surgem apenas depois da descoberta de um título que não tem necessariamente uma ligação literal com o tema fotografado. E acrescentou que estes títulos deviam ser vistos também como obras separadas das fotografias. Foi ainda apresentada uma ideia muito curiosa de Horn sobre a impossibilidade de fotografar a água, um elemento que, para a artista, é demasiado volátil para ser fotografado. E mesmo quando é fotografada, a água transforma-se noutra coisa qualquer. Um das séries da exposição é exactamente sobre a água e este paradoxo tenta resolver-se pela aproximação máxima.
Na instalação de vídeo de David Claerbout, Secciones de un momento feliz, feito a partir de sequências de fotografias sobre o mesmo assunto, há uma reflexão sobre a ideia de movimento e uma crítica à velocidade em que corre o mundo actual.

> No Real Jardim Botânico, esperamos pela infanta dona Elena que foi muito pontual. Coisas da Casa Real. Elena, de fato claro e bouquet de rosas colado ao peito, lá foi seguindo as fotografias de Ignasi Aballí instaladas no recinto. As impressões feitas em chapas de aço são uma provocação ao verde que por ali abunda e que faz esquecer a buzinadelas mesmo ali ao lado, em faixas de não sei quantas vias para cada lado. O verde da Fotografia para jardines de Aballí, o mesmo artista que vai estar no Museu de Portimão, já é pouco. Mas com o cinzento do aço por trás quase desaparece e faz-nos quase virar a cara à procura de... verde.

> W. Eugene Smith - Mas Real Que la Realidad é uma das grandes exposições do PHE. Grande no tamanho, grande na qualidade e grande nos propósitos. Todas as provas são vintage e foram impressas por Smith.

> A um passo dali, e já com a barriga a pedir um bocadillo, ainda passei pelo Museu Thyssen Bornemiza para apreciar as fotografias dramáticas e espectaculares de Florian Maier-Aichen, um nome a seguir com atenção. A primeira coisa que Florian disse aos jornalistas reunidos à sua volta foi que, até há bem pouco tempo, não fazia ideia do que era o PHotoEspaña. Porque não gosta de festivais e porque tem a ideia que o que lá se passa só tem a ver com fotojornalismo.

> Para terminar um dia de calor, uma viagem até à fotografia "quente" da colectiva De Viaje, onde se destaca o trabalho de Pablo López e Juan Valbuena.

3 comentários:

Anónimo disse...

O que é que significa " todas as provas são vintage" ?

Anónimo disse...

Quer dizer que são fotografias reveladas na época em que foram tiradas.

Anónimo disse...

Também gostava de ir a Madrid para viajar ao longo do mundo dos outros exibido numa fotografia e vestir a pele de alguém que faz uma investigação das imagens e os seus títulos. Um aspecto que sempre me prende a atenção. Também gostava de ver essa grandeza "mais real que a realidade" e como se diz o "dramático" e o "espectacular" através do olhar …

 
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