23 abril, 2008

hutongs

Pequim, 2006
(© Júlio de Matos)

Esta exposição que ocupa 5 salas no Centro Português de Fotografia (a Sala das Colunas/A.P.R. e as salas que rodeiam o Pátio dos Presos) é a versão maior do projecto que Júlio de Matos começou há anos em visita a Pequim.
Sendo arquitecto, o autor ficou impressionado com o abate anunciado dos bairros populares que se vinham mantendo quase inalteráveis, na estrutura e na função, há cerca de 700 anos. Hutongs são os caminhos e ruazinhas que envolvem as casas que se erguem em volta de pátios, onde uma árvore obrigatória nos evoca os ramos torturados das gravuras chinesas, mas é comum chamar hutong a todo conjunto, a casa e os seus acessos. Porque se avizinhavam os Jogos Olímpicos, o novo plano urbanístico da cidade começou a aniquilar os hutong, construindo no espaço os prédios de arrendamento em altura que, em algumas imagens vemos ameaçar os últimos arruamentos comunitários.
Trata-se de um projecto de autor, uma concepção nostálgica, bem ao modo ocidental, que tenta traduzir nas diversas estratégias que utiliza, (a redução das fotografias ao tom das velhas albuminas que, no século XIX, nos chegavam da China, mas também a selecção de afloramentos de uma cor adequada à memória das imagens chinesas a nanquim e aguarela, as perspectivas, os retratos…) a interpretação do fim de um património e de um ideal de comunidade.
O livro que acompanha a exposição, e donde são retiradas estas imagens responde ainda mais a esse sentir de desastre: os retratos conservam a dignidade de estar que atribuímos à China tradicional, os hutong, perspectivados no conjunto labiríntico ou no pormenor de ornamentação e social, (os belíssimos telhados e os beirais, os defensores tutelares da casa, em pedra, diversos pormenores de museu, o altar dos antepassados e, naturalmente, convivendo na rua ou no interior das habitações, os ícones da sociedade ocidental, desde a bicicleta ao cartaz de propaganda); em hutongs condenados pela proximidade da renovação, circula ainda uma vida que parece calma, um homem brinca com um pássaro de gaiola, uma mulher jaz doente na cama de um quarto que condensa a sua vida, em cenas de neve caminha-se para qualquer lugar, por entre motivos onde acode a tradição mongol. Uma viagem que se anuncia sem regresso.

Maria do Carmo Serén

Pequim, 2006
(© Júlio de Matos)

Fading Hutongs, de Júlio de Matos
Centro Português de Fotografia, Porto
Campo Mártires da Pátria
Tel.: 22 207 63 10
Email: email@cpf.pt
De ter. a sex., das 10h00 às 12h30, e das 15h00 às 18h00.
Sáb., dom. e fer. das 15h00 às 19h00
Entrada Livre
Até 29 de Junho

1 comentário:

Anónimo disse...

Será que quer dizer "Pequim"?
Você também não diz "Eu fui a London", pois não?

 
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