(© Vladimir Grevi)
Europa por um canudo
(Ípsilon, 16.11.2007)
Se é esta a visão que os fotógrafos russos têm da Europa, é uma visão muito pobre e redutora. O desafio lançado pelo Museu da Casa da Fotografia de Moscovo a treze fotógrafos russos era que partissem à descoberta de uma parte do Velho Continente que esteve longe do seu olhar durante muito tempo e que, através da sua objectiva, dessem uma imagem sobre o que é este espaço geográfico que hoje lhe morde os calcanhares. Convidaram-se então artistas de diferentes gerações que se lançaram na tarefa de dar um corpo imagético a este puzzle cultural, social e geográfico em que assenta a realidade europeia Ocidental.
O resultado geral é pífio e, salvo um ou outro portfolio no meio de mais de uma centena de fotografias, não há uma proposta mais ousada, um ângulo desconhecido ou um olhar com o qual nos sintamos minimamente afectados, que nos estremeça. Não sentimos quase nada. Ou melhor, o que sentimos é vontade de ir embora quando a exposição ainda nem vai a meio.
Sobram os lugares-comuns, os clichés turísticos, os geometrismos académicos as silhuetas recortadas e até algumas fotografias em que duvidamos se não terá sido um engano a sua selecção, como é o caso de algumas imagens sobre Portugal (Vladimir Grevi), talvez as piores de toda a mostra.
No meio de tanta banalidade, salvam-se as propostas a preto e branco de Vladimir Mishukov e de Igor Mukin, ambas sobre Paris, que ainda assim conseguem fugir do facilitismo com que se pode fotografar a capital francesa. Quer um quer outro, conseguem apanhar com alguma sensibilidade as ruas e os rostos das pessoas que lhe dão vida.
Para lá do deserto de ideias no que nos é mostrado, e da sensação de déjà vu que sentimos ao percorrer estas fotografias, existe uma concentração excessiva de trabalhos nas grandes cidades (Paris, Roma, Veneza, Londres), como se não existisse nada à sua volta.
Esta Europa é uma Europa vista por um canudo com um buraco muito, mas muito estreitinho.
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