28 outubro, 2007

*Três perguntas a...


Sem título, 2007
(© Carlos M. Fernandes)

Carlos M. Fernandes. Nasceu em Luanda em 1973. Vive e trabalha em Lisboa. Estudou fotografia no Ar.Co, em Lisboa (1994-1996), e é mestre em Engenharia Electrotécnica e de computadores, pelo Instituto Superior Técnico. Nas exposições individuas destacam-se Kaluptein (Espaço à P`Arte, Lisboa, 2001), trabalho publicado em livro (IST Press), e Mittel/Europa (Ministério das Finanças, Lisboa, 2006). Ainda em 2006, inaugurou a colecção Reticências, da IST Press, com o ensaio de fotografia I-S-T 95-75-15. Este ano, foi um dos artistas que integrou a exposição colectiva INGenuidades, Fotografia e Engenharia 1846-2006, comissariada por Jorge Calado. O trabalho de Carlos M. Fernandes pode ver-se actualmente na colectiva Atlas, patente até 10 de Janeiro na recém-inaugurada Galeria P4.

¿Por que é que fotografas?
Como escrevi na introdução a um dos meus trabalhos, fotografa-se para contornar a finitude e para celebrar. Com a(s) fotografia(s) temos a ilusão de viver continuamente no presente. Como os animais. Sem sofrimento. Mas logo a condição humana nos afasta desta ilusão confortável, e a fotografia transforma-se em ferramenta de arqueologia. Nessa altura uso-a para investigar o passado colectivo.

¿O teu Atlas do Atlântico é dos que mais terra e cidade tem. Onde é que descobriste esse mar aqui?
Falando literalmente, encontramo-lo como refúgio de uma terra estéril. O solo islandês, feito de lava, é uma barreira para o fogo; este, no entanto, manifesta-se expelindo água para um ar saturado de enxofre. Terra, ar, água e fogo; os quatro elementos clássicos chocam com violência. O mar é o factor redentor deste cenário cruel, é a fonte de riqueza e de serenidade. Está sempre presente quando falamos da Islândia.
Mas o meu Atlas é mesmo um Atlas, talvez mais do que a génese da palavra Atlântico. É a criatura condenada a sustentar a sua própria existência sobre os ombros. É Sísifo. É o Homem. E é parte de uma trilogia que acolhe também a contemplação do Rui e o confronto entre os guerreiros do João e o ambiente.

¿As pessoas nas tuas fotografias aparecem quase sempre como sombras ou silhuetas longínquas. Queres dizer que somos assim tão indefinidos nos espaços que ocupamos?
Aparecem como sombras e raramente aparecem! Os espaços urbanos e os vestígios das pessoas interessam-me mais. Mas se te referes apenas a Atlas/Islândia, onde existe uma presença humana mais intensa do que o habitual, então podemos ir por outro caminho. A Natureza oprime(-me). Os meus lugares de Atlas são a Natureza em estado bruto, selvático. Perante a inclemência dos elementos e do tempo (e aqui uso o termo no seu sentido cronológico, e não meteorológico) somos, talvez, indefinidos. Mas entre o simples mortal e o herói (trágico), entre o guerreiro primitivo e o homem engenhoso, não há uma separação clara. (Por isso chamei, a Atlas, Uma História de Deuses e de Homens.) As minhas silhuetas ocupam os espaços vazios do Rui Fonseca. E o João Mariano dá-lhes uma forma mais palpável. O conjunto tenta lançar alguma luz sobre a indefinição.

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