"Fotografia - 1. Componente básica do estilo informativo e gráfico do jornal, a fotografia não é, para o PÚBLICO, um género menor ou mero suporte ilustrativo, mas um contraponto informativo e dramático do texto."
in Livro de Estilo do Público, pág.131
Ontem, quando centenas de nigerianos tentavam roubar combustível de um oleoduto perto de Lagos, uma explosão acidental carbonizou um número ainda indeterminado de pessoas. A violência do incêndio que se seguiu ao rebentamento dizimou tudo o que estava em seu redor.
Numa iniciativa inédita na imprensa portuguesa, o jornal Público lançou ontem uma discussão no seu site sobre se esta fotografia poderia ser uma opção para a primeira página. A ideia passava também por "discutir no espaço público o tipo de decisões que os media tomam todos os dias, quase a toda a hora" em relação às imagens que dão à estampa.
Este blog é da opinião que a imagem devia ter sido publicada. Se a actualidade o justificasse, não vejo razões para não a escolher para a primeira página.
Apesar de todo o horror que transporta, esta fotografia mostra, infelizmente, bem a tragédia de quem faz tudo - inclusive arriscar a própria vida - para conseguir uns galões de combustível. Qualquer imagem passível de ser publicada no interior do jornal devia merecer igual estatuto para a primeira. O Público não deve ter pudor de publicar determinada fotografia "apenas" porque contém motivos que possam chocar alguns leitores. Haverá sempre imagens que chocam mais uns leitores do que outros. A realidade em que vivemos é muitas vezes chocante.
O mais importante passa por escolher uma imagem que consiga transmitir da melhor forma determinado acontecimento com a preocupação de não dar o horror pelo horror, de forma sensacionalista, barata e sem ponderação. Parece que não era esse o caso.
A maioria dos leitores foi da opinião de que a imagem não deveria ser publicada. O jornal decidiu não mostrar a fotografia.
13 comentários:
mostrar.
mesmo que custe.
para que a terra nao esqueça, como diria o leon wells.
mas nao sei, ainda, mostrar ate onde.
nao sei se a terra nao esquece melhor com imagens destas.
falar do que acontece, sim!, mostrar o que acontece
mas nao consigo, ainda, definir a fronteira.
(sim, andei a pensar nisto)
Pois. Dá mesmo que pensar. É que é muito grande o poder de quem decide o que mostrar. Em alguns sítios esse poder está associado à responsabilidade, noutros não.
Por que é que falar do que acontece é menos cruel do que mostrar o que acontece?
ui
fazes perguntas boas, sacana
(Saebs que a mae do primo levi -sera que era ele?- lhe perguntava que boa pergunta fizeste hoje a professora, e nao que boa resposta deste?)
pensarei.
dir-te-ei no que penso.
nao espero resposas minhas.
ficarei ja muito contente se encontrar outras perguntas.
Devia ter sido publicada, até porque (mais) uma enchente em Fátima não é tão invulgar assim. Acho que quem votou não preferiu manter uma distancia de segurança e colocar a fé à frente da realidade...
a discussão à volta da fotografia foi, e é saudável. não tenho falsos pudores quanto à publicação de imagens chocantes. há, no entanto, dois perigos nesta área: o primeiro é o de publicar e chocar apenas pelo choque. a morte é chocante seja em que forma for, ter que fotografar uma situação de morte já é em si uma violencia. neste caso, e na minha opinião, esta foto em particular não adiciona informação, nem dá algo mais ao leitor que outra foto não desse.
o segundo perigo, está exactamente no contrário, ou seja, o de não se publicarem fotografias para suavizar o impacto da realidade ou do acontecimento. sou frontalmente contra isso. aí não se está a cumprir com o primeiro objectivo do jornalism (e também do fotojornalismo) que é informar e denunciar. a realidade não deve ser suavizada ou 'amenizada'. é o que é. e infelizmente, é feia na maioria das vezes...
the world is not a pretty place...
Great site lots of usefull infomation here.
»
Concordo que a foto deveria ter sido publicada em primeira página!
Mas depois o Público correria o risco de receber o rótulo de publicação sensacionalista e sem pudor!Veja-se o mais recente sucesso da TVI-o funeral daquele tipo dos morangos com açucar!Essa estação de televisão usou e abusou da situação, exibindo, inclusivé, o funeral do rapaz, como se de um jogo de futebol se tratasse, ridículo!!Acho que em Portugal uma imagem como esta, na primeira página, nao seria bem aceite pela maioria das pessoas!Pelo que o Público fez bem em resguardar-se, nao mostrando!
Caro Francisco, bem-vindo ao Arte Photographica. Espero ver-te por cá mais vezes.
Não creio que colocar a foto referida na capa serviria como mais valia no sentido de informar melhor os leitores.
Será que é preciso "mostrar" uma pessoa carbonizada, na capa ou no interior do jornal, para que os leitores se apercebam mesmo de que houve pessoas carbonizadas? Tenho pena que isto se confirme, seja devido à cada vez maior alienação das pessoas em geral ou do excesso de comunicação que hoje se verifica.
O choque das pessoas (espectadores, leitores, ouvintes, etc) é cada vez mais efémero. Deixa de ser assim apenas quando nos toca demasiado perto. Egoísmo ou pragmatismo? Cada um saberá de si.
A palavra "sensacionalismo" está tão gasta, que tenho a impressão que a maioria dos portugueses desconhece o seu verdadeiro significado.
Esta é sem dúvida uma foto chocante, mas pela tragédia que expõe. Não tem nada de sensacionalista...mas tem força suficiente para nos reduzir à nossa insignificância.
A decisão do público em fomentar o debate com esta foto, partindo da questão "publicar ou não publicar", acabou por envergonhar os leitores, que preferem não ser incomodados com as consequências da desgraça...E, afinal, para quê sermos confrontados com este tipo de realidades se elas acontecem tão longe das nossas vidinhas.
Tenho pena que a decisão de publicar esta foto não tenha partido em exclusivo do Público. Tenho muita pena...
percebo o que dizes, mas não partilho dessa opinião.
acho que o jornal fez bem em não publicar a foto. é certo que a realidade é, muitas vezes, chocante. mas não é necessário dar um murro no estômago para saber o que é a dor. ou seja, há várias maneiras de mostrar a realidade sem ser obrigatoriamente cruel. o Público faz isso muitas vezes, ao contrário de muitos tablóides por aí...
Rita
Enviar um comentário