14 maio, 2006

Isolar o caos

Virgínio Moutinho, Auto-retrato, 2005

Primeiro, Virgínio Moutinho (arquitecto de formação, fotógrafo por paixão) andou à procura do “espírito do lugar”.
A fotografia panorâmica, de vistas amplas, obtida com câmaras rotativas, foi o método escolhido para tentar imprimir nessas imagens a mística do Porto – o lugar de eleição.
Depois das “panorâmicas” vieram as “periféricas”, para o desenvolvimento das “périfotografias” e das “ciclografias” com que tenta isolar “sítios e estruturas”, mas de onde resultam “opacidade e indeterminação” (Maria do Carmo Serén).
Na exposição Fotografias Periféricas, que Centro Português de Fotografia (CPF) acaba de inaugurar, Moutinho mostra 27 imagens a preto e branco e a cores. São fotografias contínuas e planificadas de um mesmo objecto ou pessoa em que "tempo e movimento participam como elementos essenciais da composição". A inspiração veio dos trabalhos de Andrew Davidhazy (Rochester Institute of Technology).
As imagens seleccionadas são quase todas auto-retratos, e retratos de família, não por um qualquer assomo narcísico, "que todos os autores têm", mas por uma questão "prática", dada a morosidade dos procedimentos criativos.
As imagens a preto e branco foram impressas em laboratório. As de cor através de processos fotográficos digitais.
Virgínio Moutinho usou câmaras Roundshot 35/35S e a Seitz Roundshot Super 220.

Em mais um exercício de ver para lá do visível, Maria do Carmo Serén (CPF) apresenta estas Fotografias Periféricas assim:

Há todo um olhar de modernização que se foi confirmando na contemporaneidade e que tende a aceitar a desterritorialização e a equivalência que hoje comandam as nossas percepções. O observador, esse processo moldável de apropriação também é apropriado pela tecnologia que corporiza conceitos e fabrica os sentires.
Foi a representação digital que nos materializou o interior de todas as coisas: o interior sobreviveu milénios como simples conceito, na realidade apenas podíamos olhar superfícies.
Estas imagens expandidas no seu vulto redondo, nada têm a ver com programas digitais, nem mesmo relevam da evocação das produções químicas fotográficas do Futurismo que pretendiam simular o dinamismo do movimento. São panorâmicas de câmara rotativa e os seus efeitos dependem da imaginação. Provam-nos, ainda e de novo, a insanidade da percepção e a saudade do estético. O fotógrafo, que é, ainda, arquitecto, isola sítios e estruturas, mas os seus ensaios devolvem-lhe opacidade e indeterminação, que se geram no processo caótico de dar o nome.
Muito provavelmente são assim os arquétipos bifrontes dos nossos absolutos e das nossas memórias com que construímos as contingências do saber, da beleza e do sentir.

Fotografias Periféricas
Centro Português de Fotografia, Edifício da Cadeia da Relação do Porto
Campo Mártires da Pátria, Porto
Ter. a Sex., das 15h00 às 18h00; Sáb., Dom. e feriados das 15h00 às 19h00.
Até 25 de Junho. Entrada livre
Tel.: 22 207 63 10
e-mail: email@cpf.pt

1 comentário:

Anónimo disse...

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