© Danilo Pavone
Antes de tudo Litorais diz-nos o que conhecemos: esses espaços que a distância transforma, que associamos a outras imagens e lugares, espaços que tocam o horizonte próximo, que mal vemos e que, na maior parte das vezes, se escondem do nosso percurso diário.
Estas imagens, neste litoral imenso que é Espinho, falam-nos, de distâncias, de interferências que a fotografia reduz. As distâncias são dadas pelo corpo e é pelo corpo que Danilo Pavone as insinua: o espaço sente-se mais do que se vê, é medido pela nosso lugar, pela intuição do movimento; é sentido pelos contrastes, pela descoberta de descontinuidades: as rochas que tocam o céu, as figuras que volteiam num bailado interrompido de formas num lugar que identificamos mas que é também um espaço imponderável, fora do tempo. Porque o tempo do olhar é fugidio, breve.
E aqui, inventamos caminhos, suspensões, aconteceres: a paisagem pode agitar-nos, suspender a análise, garantir-nos a irrealidade do mundo e das suas promessas. O espaço é também o porvir, o além.
E então a paisagem, mesmo um Sol que morre ao fim do dia ou uma tempestade que se anuncia deixa de ser o fundo de uma representação, o tema de uma imagem. Abre o confronto entre a falta e o que temos, entre o labirinto das sensações e a ordem do entendimento.
A paisagem é, sempre, a janela privada sobre o mundo.
E é bem provável que tudo isto exista, que o mundo possa ser enquadrado num detalhe e abrir um caminho de luz ao nosso sentimento de finitude.
Da realidade que conhecemos o fotógrafo escolhe apenas o que quer ver, o que abre e fecha com o seu estilo, o visível e o invisível.
E o mistério impossível que nos mostra é mais verdadeiro que o real.
Maria do Carmo Serén
1 comentário:
Gostei da fotografia e do texto que a acompanha. Muitas vezes os textos de Maria do Carmo Serén, denunciam erudição e domínio das letras, mas tornam-se um pouco densos...Pessoalmente gostei assim: mais translúcido, com menos engrenagens complexas e até parece que ganhou elegância. Vai bem com a fotografia que também respira e quase parece escapar-se da sua natureza fixa.
Bem haja
Enviar um comentário