Conhecíamos mal o trabalho de José Manuel Rodrigues. Desconfiávamos disso, mas agora temos a certeza. Sobretudo depois de ver a exposição antológica que lhe é dedicada e que se pode visitar no Palácio da Inquisição na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora. Revelam-se quase quatro décadas de labor fotográfico cruzado com doses generosas de criações experimentais e performativas realizadas maioritariamente durante os anos de Amesterdão.
Conhecíamos mal o trabalho de José Manuel Rodrigues e se calhar ainda não conhecemos bem. Ou melhor, conhecíamos mal mas queremos conhecer ainda mais. É essa uma das sensações com que se sai do belíssimo e austero Palácio da Inquisição, um espaço escolhido a dedo para dar abrigo a uma das melhores exposições de fotografia que este ano já viu.
À medida que as salas vão ficando para trás, descobrimos que José Manuel Rodrigues não gosta de sacralizar o negativo, a fotografia e o fotográfico. Pelo contrário, procura neles uma linguagem e um modo de expressão que usa para criar narrativas fotográficas, não necessariamente em fotografia (ou não apenas em fotografia). Há jogos sensoriais, de identidade, de matéria e de cor. Há ironia e desconstrução da ideia de espaço. Há intimidade e experiência (mãe do saber). E há um encontro perfeito - cada vez mais raro - entre um lugar e uma obra artística. A mão de Rui Oliveira, comissário de Antologia Experimental, soube guiar na perfeição cada trabalho para cada parede, cada corredor, cada sala. São memoráveis os diálogos entre imagem fotográfica e projecto museológico criados na Sala do Templo (In Situ), na Sala da Catedral (Vista) e na Sala do Tribunal (Lugar).
O que se pode ver em Évora não é só o percurso pessoal de José Manuel Rodrigues rumo à maturidade enquanto fotógrafo. É também a expressão de um artista que soube beber de um tempo e de um lugar particulares, em agitação criativa e em desalinho institucional. No fim, percebemos que José Manuel Rodrigues é um fotógrafo que só agora começamos a conhecer.
Notícia de última hora: a exposição foi prolongada até final de Outubro.
Aviso: por esta altura o calor aperta na planície. É melhor ir pela fresquinha.
A crítica que Luísa Soares Oliveira escreveu no Ípsilon desta semana está aqui
O Arte Photographica revela em primeira mão o texto de introdução do catálogo (ainda no prelo) assinado por Rui Oliveira. Aqui
Palácio da Inquisição, Fundação Eugénio de Almeida, Évora
Todos os dias, das 9h30 às 18h30
Até 30 de Outubro
4 comentários:
José Manuel Rodrigues é um dos grandes nomes da fotografia portuguesa.
"Ofertório" (1997?) abriu-me os olhos para a fotografia... Desde aí cruzei-me com o JMR várias vezes e a verdade é que o trabalho dele não pára de surpreender e de marcar.
Mas estou de acordo com o facto de que ainda falta muito por conhecer do seu trabalho. Há todo um outro lado por detrás da imagem que se vai descobrindo aos poucos...
Obrigado Sérgio pelo texto em "estreia"...
O que vemos permanece em nós subtilmemente... é a isso que podemos chamar arte. A exposição de JMR em Évora a ver e... a rever.
Já agora deixe-me salientar o catálogo, verdadeira peça de colecção. Saiu há poucos dias.
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