Roy Stuart
“As obras desta exposição são eróticas”, vinha escrito no convite que a Galeria Arqué distribuiu para divulgar uma mostra de Roy Stuart, fotógrafo voltado para a mulher, o seu corpo (o que esconde, o que mostra) e sua capacidade de transmitir sensualidade e provocar prazer. Nada de novo, portanto. Mas o aviso, escrito a vermelho, dá que pensar. Não sei se Roy Stuart, que vende livros na Taschen como pãezinhos quentes, quis fazer imagens eróticas, pornográficas, religiosas, grotescas ou fetichistas. No início, não encontrei nenhuma mensagem na galeria que me desse qualquer referência sobre as motivações do autor. Nem era preciso. Por isso percorri as imagens sem preconceitos, como tento sempre fazer. Já perto do fim, pego num desses convites que tinham sobrado onde a galeria estampou a dita frase: “As obras desta exposição são eróticas”. Não vá o meu cérebro imaginar que são – que todos os santos nos acudam - outra coisa ainda “pior”. Lida no fim ou no princípio, esta preocupação moralizante soa despropositada porque atenta contra a liberdade de quem vê, exercício cada vez mais difícil. Vinda de um espaço que toma a iniciativa de expor trabalhos com esta carga explícita, a tirada soa ainda mais absurda, como quem diz “depois não digam que não avisámos!”. É como se nos fosse dado um manual de ver, no limite, um código de conduta visual onde não convém passar dos “limites”. Não é preciso ver Roy Stuart para perceber que é possível chegar ao erótico através do pornográfico. Esse caminho levanta algum problema? A mim, nenhum. A espaços, o fotógrafo americano até consegue chegar lá.
Já agora, uma dúvida: se as obras desta exposição eram “eróticas” porquê a bolinha vermelha em tudo quanto era sítio? Esta simbologia não está mais no campo do pornográfico?
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