30 novembro, 2005
Lugares da fotografia, fotografia de lugares
Eduardo Prado Coelho escreve no seu Fio do Horizonte sobre a exposição que está actualmente no Centro de Artes Visuais (Coimbra), a importância deste espaço para a cidade, o início da degradação a que (já!) parece estar votado, a "energia do aparecimento" nas fotografias de Edgar Martins ("uma siderante revelação") e uma eventual retrospectiva de Jorge Molder.
"No Centro de Artes Visuais de Coimbra, está neste momento uma exposição extremamente interessante, que resulta da combinação de súbito produtiva da vários materiais. Num comissariado de Albano Silva Pereira (director do CAV) e do arquitecto Diogo Seixas Lopes (arquitecto, director da extinta excelente revista “Protótipo”), temos um conjunto de projectos arquitectónicos de João Mendes Ribeiro (incluindo o projecto de reconstrução do próprio Centro de Artes Visuais, numa mise-en-abyme sedutora) e fotografias dos lugares onde esses projectos se inseriam, feitas por artistas como Daniel Malhão e Edgar Martins. Se as fotografias de Daniel Malhão são excelentes, as de Edgar Martins são para mim uma siderante revelação: é assim que o contexto de lugares tão diversos como o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra, a Casa das Caldeiras também em Coimbra, ou ainda o Laboratório Chimico do Museu de Ciências da cidade, ou a reconversão do Pátio da Inquisição, ou a do Palheiro da Cortegaça em Mortágua, ou o Castelo de Moura, ou, por fim, o Casal das Grutas em Alapraia, aparecem propostos, em diversas dimensões e escalas, àquele que percorre a exposição. Mas o que me fascinou nas fotografias de Edgar Martins é que nele o real não está, aparece, e começa por aparecer na sua dimensão alucinatória. Daí que o contexto possa ser um pormenor, ou uma atmosfera, porque em tudo temos a energia do aparecimento. A energia e o enigma nunca desvendado. Lembro-me da festa que foi a inauguração do Centro de Artes Visuais de Coimbra, e da presença entusiasmada do Presidente da Câmara, Carlos Encarnação. Sugiro-lhe que visite o local, porque vai ver duas coisas: por um lado, a exposição, com alguns dos grandes acontecimentos arquitectónicos de Coimbra, por outro uma certa degradação que se nota no Pátio da Inquisição e nas instalações do Centro. Como se tudo tivesse ficado incompleto e agora estivesse parado. Como se tudo começasse a ser esquecido. Ora não é possível. Neste lugar no centro de Coimbra há imensas coisas por fazer. E seria inconcebível que o entusiasmo inicial ficasse perdido – o país dos estádios insensatos não teria condições para isso. É preciso que Coimbra rentabilize os seus lugares, ultrapasse a pequenez de burgo do interior, com uma estação de caminho de ferro inteiramente arcaica, e se orgulhe do Centro de Artes Visuais que criou e que tem obrigação de manter. Por outro lado, o Ministério da Cultura não pode estar desatento a este processo. Temos o CCB em Lisboa (e não só, também a Gulbenkian e a Culturgest), temos Serralves no Porto, temos no Centro o CAV e o centro cultural da Figueira da Foz. Para um equilíbrio da difusão cultural no país, é necessário que todos estes lugares se mantenham vivos. O Centro de Artes Visuais preparava uma retrospectiva Jorge Molder. Seria absurdo que a não fizesse por falta de verbas." (Eduardo Prado Coelho, in PÚBLICO, 28-11-2005)
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