16 setembro, 2013

Encontros de Braga 2013

© Matías Costa


O mote para os Encontros da Imagem de Braga 2013 é dado pelo título de uma canção icónica dos britânicos Joy Division – Love will tear us apart (“O amor vai-nos separar”) -, banda que criou um universo sonoro depressivo em torno das relações que acabam em desilusão e da banalidade do quotidiano. Desta ideia de que até o arrebatamento causado pelo amor nos pode levar à ruptura, ao desassossego, à deriva e à agitação surgiu um conjunto de exposições que problematiza as (novas) tensões dentro da família.

Uma realidade sócio-económica adversa como a que hoje se vive em muitos países da Europa potencia obstáculos e molda novas formas de organização familiar que, por sua vez, fazem vir à tona novos tipos de relações humanas, hoje “mais urgentes”, como assinala o comunicado distribuído pela organização dos Encontros. Foi a partir desta “urgência” e de “um tempo acelerado” em torno do paradigma de família que se ergueu a programação da edição deste ano, liderada por Ângela Ferreira, que substituiu Rui Prata no cargo.

Sem nomes sonantes na programação, os Encontros da Imagem (que cumprem este ano a 23ª edição e começam esta sexta-feira em Braga), apostam sobretudo em projectos de jovens fotógrafos já com algum trajecto e trabalho concretizado.

Entre as dezenas de exposições previstas, há trabalhos que se destacam. No espaço cultural Pedro Remy, a italiana Myriam Meloni mostra Important things are said soflty, ensaio sobre uma mãe e dois filhos que aborda a teia de relações e de cumplicidades que se estabelecem numa família monoparental.

O espanhol Matías Costa optou por rebuscar os arquivos fotográficos da família para construir uma narrativa visual vernacular que toca em alguns dos acontecimentos históricos mais importantes do século XX, como a emigração europeia para América, a I Grande Guerra ou a perseguição aos judeus na Rússia dos czares e na Alemanha nazi. Com um lastro de tempo tão alargado, The Family project (Casa dos Crivos) acaba por fazer também um exercício arqueológico em relação aos formatos e técnicas fotográficas, que vão desde o preto e branco com lados recortados às cores saturadas dos anos 80.

Num registo totalmente diferente das duas propostas anteriores, o luso-francês Georges Pacheco propõe retratos de pose intimista do momento em que as mães aleitam os seus filhos, um acto universal que inspirou inúmeras obras da pintura renascentista italiana e holandesa, obras em que o fotógrafo se inspirou. Para além desta “homenagem fotográfica” ao aleitamento, Pacheco quis sublinhar a sensualidade que o envolve e revelar a profunda ligação entre dois seres humanos que este momento pressupõe. Em todos os retratos, foram evitados os sinais de contemporaneidade para a construção de uma imagética intemporal e focada na relação mãe/filho. A exposição Amalthée (a cabra que, na mitologia grega, amamentou Zeus em criança) pode ser vista no Largo Carlos Amarante.

Ainda na lógica dos álbuns de família, o polaco Jakub Karwowski construiu um conjunto de imagens onde a mulher (Ajka) e o filho (Fryderyk) são protagonistas num exercício ficcional profundamente estetizado, numa provocação ao desacerto e ao erro característicos das fotografias onde a intimidade do quotidiano é registada.

Por fim, naquela que é uma das mais singulares mostras destes Encontros, Casamento/Divórcio/Diversos, Jorge Miguel Gonçalves propõe um olhar sobre diferentes salas de actos nas conservatórias de registo civil, espaços institucionais onde se celebram (e registam) acontecimentos em torno da família com cargas emocionais muito distintas, como casamentos, divórcios, certidões de óbito, certidões de nascimento... Apesar da diversidade de estados de alma que cada um destes actos necessariamente provoca, os espaços são impessoais e artificiais, não se moldam ao acontecimento a que estão a dar abrigo. O universo peculiar (e tantas vezes caricato) destes lugares quase assépticos é revelado com imagens que aparentam uma grande serenidade, mas que na verdade escondem um turbilhão de sentimentos contraditórios.

Uma das novidades dos Encontros deste ano é a sua extensão a espaços das cidades do Porto e de Lisboa. No Porto, a partir de 2 de Outubro, o Espaço Mira acolherá Álbum de Família, o trabalho que Nelson D´Aires construiu em torno do espólio do fotógrafo ambulante de Mora, António Gonçalves Pedro. Em Lisboa, estão no programa as exposições de Jaime Vasconcelos (Revoluções, Galeria das Salgadeiras), Pauliana Valente Pimentel (Jovens de Atenas, Galeria Boavista) e Mel O´Callaghan (Ensemble, Galeria Belo-Galsterer). Na capital, as mostras inauguram-se a 9 de Outubro.

As exposições em Braga encerram no dia 27 de Outubro.




© Georges Pacheco



©  Jakub Karwowski


© Jorge Miguel Gonçalves

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