24 maio, 2011

Portugal '75



Posters, Lisboa, 1975
© Elizabeth Lennard/Cortesia Galeria Pente 10, Lisboa



Na ressaca do 25 de Abril, no Verão quente de 75, a fotógrafa americana Elizabeth Lennard fotografou um país confuso, um país às apalpadelas e à procura de rumo. A Galeria Pente 10, em Lisboa, mostra 22 imagens captadas durante essa estadia na exposição Portugal '75 que estará patente até ao dia 4 de Junho.
À superfície da imagem fotográfica Lennard gosta de acrescentar as suas cores. Porquê?: “There are many reasons. I like the texture of oil paint on a print. I don't like the object that a color photograph is. Paint gives a more organic, living substance to the hand colored photograph. And I love color.
Em Novembro de 75, a revista Rolling Stone deu espaço ao trabalho de Elizabeth Lennard e descreveu a situação que então se vivia:

Em Agosto de 1975, a fotógrafa Elizabeth Lennard passou três semanas em Portugal a
recolher impressões de um povo recentemente libertado:
Portugal estava totalmente impreparado para uma revolução. É um país perigosamente
desorientado, economicamente deprimido e tecnologicamente e socialmente atrasado –
especialmente nas zonas rurais. Nas aldeias a igreja católica continua a deter o poder. A
maior parte dos camponeses viveu de uma certa forma durante centenas de anos e não é
capaz de mudar. Um dia, numa pequena vila, vimos um grupo de mulheres ajoelhadas à
porta de uma igreja. No centro da igreja havia uma estátua de um santo coberta de dinheiro.
A igreja é tão rica e no entanto esta gente faminta continua a dar o pouco que tem.
Nas cidades as pessoas são mais sofisticadas mas a pobreza continua a ser extrema.
Enquanto que as zonas rurais lembram a América dos anos 50, os centros urbanos evocam
mais São Francisco em 1967. O ambiente é enérgico – como se as ruas tivessem sido
injectadas de adrenalina. Cartazes coloridos e panfletos escondem uma economia em
degradação e um desvanecer da elegância do Velho Mundo. Num café da moda local jovens
fumam erva angolana e um dos mais elegantes restaurantes de Lisboa foi 'libertado'
transformando-se num ponto de encontro informal e descontraído para trabalhadores e
revolucionários. A pornografia é agora legal mas a censura política na imprensa continua.
Na Praça do Rossio, a praça central de Lisboa onde as pessoas costumavam reunir-se para
discutir futebol, debate-se agora política – por vezes até às duas ou três da madrugada. E
todos os cartazes partidários e os graffiti que se encontram por toda a praça – e em todos
os outros sítios – supostamente um barómetro da situação, rapidamente são cobertos pelos
miúdos de rua com a retórica de uma facção oposta.
Ninguém parece saber o que vai acontecer a seguir. É como estar preso no tempo; um povo
atrasado e desorientado com um governo progressista e desorganizado. De acordo com um
lisboeta, até os hábitos de condução foram afectados. As pessoas costumavam ser
razoavelmente civilizadas e conscientes, mas agora conduzem como loucas.


Rolling Stone, Novembro 1975

Para ver mais trabalhos da fotógrafa e realizadora Elizabeth Lennard clique aqui

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