Adelino Lyon de Castro, s/t, 1945-1953
© MNAC-Museu do Chiado/Doação Tito Lyon de Castro em 2009
Há dois anos, o MNAC- Museu do Chiado recebeu um importante legado - o espólio fotográfico de Adelino Lyon de Castro, um dos mais activos fotógrafos salonistas dos anos 40 e 50, período de actividade fotográfica que tem merecido particular atenção nos últimos tempos. Este prazer da descoberta de imagens "nossas" tem-nos sido proporcionado graças ao interesse e dedicação da investigadora e comissária do MNAC- Museu do Chiado Emília Tavares que agora nos dá a ver O Fardo das Imagens (1945-1953), exposição que revela um conjunto inédito de 70 fotografias que se posicionam fora da retrato oficial do Estado Novo. Adelino Lyon de Castro fundou com o seu irmão, Francisco Lyon de Castro, as edições Europa-América. Foi editor do Jornal Ler e iniciou a sua actividade como fotógrafo no início dos anos 40. Participou em dezenas de salões de fotografia em Portugal e no estrangeiro.
Eis o texto de apresentação da mostra:
Adelino Lyon de Castro O Fardo das Imagens (1945-1953)
"Em 2009, O Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado recebeu a generosa e importante doação, por parte de Tito Lyon de Castro, do espólio fotográfico de Adelino Lyon de Castro. Muito embora tenha sido uma figura de destaque do meio editorial e das letras, tendo fundado com o seu irmão, Francisco Lyon de Castro, as Publicações Europa-América (1945), a sua actividade como fotógrafo é praticamente desconhecida. Foi, sobretudo, um fotógrafo amador, muito embora tenha realizado algumas reportagens, sem dúvida, a mais relevante sobre os Jogos Olímpicos de Helsínquia em 1952. Apesar da sua breve actividade fotográfica, que podemos estabelecer entre meados da década de 1940 e 1953, ano da sua morte, Lyon de Castro produziu um conjunto de imagens cuja temática se apresenta coesa e consistente com as suas ideias políticas de oposição ao Estado Novo, assim como ao ideário de um socialismo humanista.
O MNAC- Museu do Chiado apresenta, assim, um conjunto inédito de 70 imagens que nos dão a conhecer a face não oficial, e reprimida, da sociedade portuguesa durante o Estado Novo. Nas imagens de Adelino Lyon de Castro é privilegiado o olhar sobre as mais duras condições de vida dos trabalhadores ou dos excluídos da sociedade, sob a inspiração do ideário do 'romantismo revolucionário'(Henri Lefebvre) tão influente para alguns neo-realistas, O fotógrafo legou-nos um extraordinário e inesperado diário visual do labor, da pobreza e da exclusão enquanto estados de degradação social, e do papel que a fotografia pode ter enquanto meio de denúncia e ensinamento sobre a realidade. Oportunidade também para reflectir sobre os contornos sempre híbridos e insuficientes de representação da realidade através, da leitura e apresentação comparada com as imagens de Lyon de Castro, dos retratos de mendigos do século XIX de Carlos Relvas, dos inventários visuais populares do Estado Novo, de imagens da imprensa panfletária da época e ainda de algumas obras de pintura modernista da colecção MNAC-Museu do Chiado."
Emília Tavares, comissária
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