21 novembro, 2010

Guy Bourdain




Joana Amaral Cardoso
(Público, P2, 12.11.2010)

Madrid está cheia de imagens de moda: Mario Testino e o seu Todo o Nada no Museu Thyssen Bornemisza, os 100 anos da Vanity Fair, muitos deles inevitavelmente de moda, na Galeria Ivory Press, e as imagens enigmáticas de Guy Bourdain em Message for You (Sala Canal Isabel II) a servir de corolário.

O nome não rola logo da língua fashion, ao contrário do que acontece com Helmut Newton, Richard Avedon ou mesmo do mais contemporâneo e polémico Terry Richardson. Bourdain é tão iconoclasta como eles. Provocador, criou imagens sugestivas nos terrenos da sexualidade ou da violência. Mas ele era mais discreto - não dava entrevistas nem esclarecia confusões biográficas.

O fotógrafo francês, que morreu em 1991, aos 63 anos, queria era ser pintor. Talvez por isso haja ecos de obras de mestres do século XX no seu trabalho, talvez por isso tivesse uma relação difícil com as fotografias que produzia, talvez por isso fosse arredio do circuito da moda (leia-se as festas, os desfiles). "Era excêntrico e não queria ser medíocre", dizia ao El País Samuel Bourdain, o seu filho. Foi apadrinhado por Man Ray e um apaixonado por Magritte.

Tal como Newton, encenava ao detalhe as suas produções para conseguir composições potentes e narrativas de moda que iam da provocação à insinuação, impondo os expedientes mais extremos às suas modelos. Entre as ideias que as suas imagens nos provocam estão o desconforto e o perigo - e não o mais esperado encanto daquela mulher escultural nos seus sapatos altos. "O que vemos em Bourdain é uma ligação de dois grandes temas: desejo e morte", disse ao Telegraph Philippe Garner, um dos directores da leiloeira Sotheby`s.

Em 2003, uma retrospectiva no Victoria & Albert Museum de Londres começava a celebração da sua obra. Agora, além da exposição madrilena, é lançada a monografia In Between, sobre o trabalho de Bourdain, apadrinhado pela Vogue e pela marca de sapatos Charles Jourdan ao longo de uma carreira de 40 anos.

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