10 agosto, 2010

Sítio


Valter Vinagre, da série Sítio, Caldas da Rainha, 1997
© Valter Vinagre


Sítios de morte e exorcismo

Sérgio C. Andrade (P2, Público, 27. 07.2010)

É com um certo sentido de exorcismo que Valter Vinagre (n. Anadia, 1954) volta ao "sítio" onde, há pouco mais de uma década, esteve "entre o cá e o lá", quase viveu a experiência da morte. Para o fotógrafo, esse lugar é agora só memória, algo de que fala com um distanciamento saudável. Mesmo se admite que, quando aí regressa, tudo lhe surge "como no dia em que lá [esteve]".

Foi em 1997 que Valter Vinagre regressou a esse lugar de morte, e trouxe de lá, no corpo, as marcas dela. "Contraí uma febre - a que os médicos não deram nome, nem explicação -, que me manteve durante mais de uma semana entre o 'cá e o lá'."

Nesse ano, Valter Vinagre tinha sido convidado pela artista plástica Marina Abramovic a fotografar o sítio do antigo matadouro municipal das Caldas da Rainha, desactivado uma década antes, para o seu projecto site specific Spirit House. Acontece que o fotógrafo, que então vivia e trabalhava na cidade, tinha fotografado o matadouro enquanto ele estava ainda em actividade.

"Quando lá estive pela primeira vez, em 1988, acompanhei os animais desde a sua entrada, passando pelo abate, desmancho e saída para os talhos", lembra ao P2. "Balidos misturados com vozes humanas, um cheiro adocicado a sangue e fezes, vapor de água e ruína" ficou então entranhado nas paredes do edifício. Um cheiro de morte que voltou a atacar, mesmo quando o edifício foi transformado, "branqueado", primeiro em lugar aberto a experiências de arte, depois em Centro da Juventude.

Valter Vinagre reuniu fotografias que fez nesses dois momentos, em tudo distintos, no matadouro das Caldas da Rainha e reconstruiu o Sítio numa selecção de 11 imagens que agora formam a exposição com aquele título, e que até 25 de Setembro pode ser visitada na Casa Bernardo, naquela cidade. Ao mesmo tempo, o fotógrafo apresenta também nas Caldas da Rainha, no Centro Cultural e de Congressos, até 30 de Setembro, Húmus, uma outra exposição com 70 trabalhos - exibida, no ano passado, no Centro Cultural de Cascais -, que fazem a retrospectiva da sua obra.

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