Islândia, 2003
© Manel Armengol
“Esta fotografia funcionou para mim como núcleo definidor da minha primeira viagem à Islândia, uma viagem totalmente solitária, durante 12 dias. A maior parte do tempo, estive em silêncio, sozinho. Para mim, esta condição foi fundamental, porque a relação que estabeleci entre mim e o mundo exterior acabou por ser fortíssima…
Era para mostrar apenas a montanha do vulcão. Estava a entardecer, já havia pouca luz, mas em Julho nunca anoitece completamente, há sempre alguma luz. E assim de repente, ao vê-la de longe… gosto de tudo o que são cosmogonias, relatos antigos das origens… pareceu-me uma mesa ritual no meio da planura… uma ideia que me surgiu como uma aparição – uma mesa ritual natural: ‘vou parar aqui’, pensei. Estava tudo enevoado. ‘vou esperar para ver se aparece uma luz especial, alguma coisa’, pensei. Estava um vento tremendo, ao ponto de ter de me proteger por trás do carro para não ser atirado para o chão. Tinha a câmara e o tripé preparados. Esperei uma meia-hora até que esta luz se definisse. Foi uma emoção… estava à espera que acontecesse alguma coisa que efectivamente aconteceu… alguma coisa que era muito improvável que acontecesse, mas que acabou por acontecer… foi um momento mágico, fundamental, foi a imagem que sustentou todo o trabalho da primeira viagem. Recordo-me de ter pensado que estava perto de um antigo vulcão e da sua chaminé e de pensar que ia a até ao centro da terra… lembrei-me também da lava e das cosmogonias do axis mundi… o que é que existe entre o céu e o centro da terra? Surgiu-me esta pergunta enquanto esperava.”
Manel Armengol, Terrae
Galeria Pente 10, Trav. da Fábrica dos Pentes, 10, Lisboa,
Até 3 de Julho
1 comentário:
As obras de arte são de uma solidão infinita.
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