06 novembro, 2009

A&J

José Carlos Duarte, A&J
© José Carlos Duarte


O que me surpreendeu quando vi as fotografias de A&J de José Carlos Duarte no ano passado foi sobretudo essa capacidade de retratar um happening casamenteiro de uma forma tão distanciada e ao mesmo tempo tão íntima. Ficamos a imaginar os corpos completos que se vestem assim, os seus rostos, as suas expressões de contentamento, de emoção e euforia. Ficamos a imaginar o que se diz naquele grupo de pernas armadas com saias de cetim. Entramos no sonho daquele rapaz esgotado que caiu redondo no sofá gigante à espera que a meia da noiva seja finalmente cortada e leiloada. Vemos (será que vemos?) a festa a decorrer, os bolos e balões mas nunca provamos pitada que seja do prato principal. E, paradoxalmente, é a partir de uma certa sonolência e algum desapego que entramos como convidados especiais nesta festa que celebrou também o registo fotográfico do pico de felicidade, sempre coberto (negado?) pelo véu do corte e do descontexto.

A&J foi reconhecido com uma menção honrosa no prémio Novos Talentos FNAC Fotografia 2008. A FNAC Sta. Catarina, no Porto, mostra este trabalho até 31 de Dezembro.


José Carlos Duarte, A&J
© José Carlos Duarte

2 comentários:

A miúda que até tem um certo apreço por este rapaz disse...

O que sempre me surpreendeu nas fotografias do José Carlos Duarte também conhecido por José Júpiter, é a inquietante constatação de como a frieza pode ser terna e a sua invulgar capacidade de converter o insípido e insignificante numa insuspeitada beleza e harmonia. Uma beleza e harmonia muito longe dos padrões clássicos e sem nada de “flou”! Mas há qualquer coisa na ordem do equilíbrio que toca a delicadeza que estranhamente subsiste mesmo nos espaços iluminados sem piedade e com aquelas naifadas radicais que ele tantas vezes dá às figuras e às coisas que aparecem no seu ângulo de visão. Cá para mim o rapaz tem uma certa precisão a fotografar e uma tranquilidade que acabam por ser bem sucedidas.

Olha! Aparece neste post uma figura humana inteira! Não é habitual! Nem mesmo é habitual a figura humana nele. Mas reparem que até esta figura humana apesar de inteira, aparece a dormir, como se esta criança fosse como os espaços intermédios que ele tanto gosta de fotografar, suspensos entre o passado e o futuro, um momento de interlúdio também, entre a presença e a ausência. Tanto sossego, tanta solidão, afinal. É isto que quase todas as fotografias do José me transmitem embora algumas me agridam.

Filipe disse...

Muitos parabéns ao José "Júpiter" Carlos Duarte pelo destaque neste blog.

Partilho da opinião da miúda e acrescento ainda que são estes destaques que me fazem acreditar num reconhecimento sincero por aqueles que de facto trabalham de forma honesta em Fotografia.
Lamento não poder ver a exposição pessoalmente, mas desejo desde já todo o sucesso.

Abraço

 
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