“Devo dizer-te que pressenti o que estava para acontecer; ou melhor, percebi que estava para acontecer qualquer coisa, que não ia exactamente favorecer os intentos da Eve e, por isso, não fiquei tão espantado como a minha filha. A Lorraine irrompeu em lágrimas, a Doris disse 'Saia desta casa', e o Ira e eu levantámos a Eve do chão, levámo-la para o patamar e depois pela escada abaixo, e conduzimo-la à estação de Penn. O Ira ia sentado à frente, ao meu lado, e ela ia sentada atrás como se esquecida de tudo o que se tinha passado. Durante o trajecto para a estação conservou sempre o mesmo sorriso, o que fazia para as câmaras, e por baixo daquele sorriso não existia absolutamente nada, nem a sua personalidade, nem a sua história, nem sequer a sua infelicidade. Ela era apenas o que tinha estampado no rosto. Não estava sequer sozinha. Não havia ninguém para estar sozinha. Fossem quais fossem as origens vergonhosas de que tinha passado a vida a fugir, o resultado tinha sido este: alguém de quem a própria vida tinha fugido.”
Casei com um Comunista, Philip Roth
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