17 maio, 2009
Inês e S. Tomé
A tragédia de Carlos Magno em S. Tomé e Príncipe
Sérgio C. Andrade
(P2, Público, 17.05.2009)
O tchiloli é uma representação teatral popular de S. Tomé e Príncipe, que encena as intrigas da corte de Carlos Magno como se elas fossem o paradigma cultural da população local. É uma celebração ritual, um acréscimo de solenidade para os momentos fortes do quotidiano: um casamento, um funeral ou apenas uma festa. E esta representação - que terá chegado ao então território colonial português no século XVIII associado à exploração da cana-de-açúcar - está de tal modo enraizada na cultura local que as personagens que cada membro da população representa em palco acabam por se colar à sua vida quotidiana e à sua própria identidade.
Foi este facto que mais impressionou a fotógrafa Inês Gonçalves e o documentarista Kiluanje Liberdade, e é isso que está documentado na exposição S. Tomé, Máscaras e Mitos (que é também o título de um documentário sobre o mesmo tema), que a Galeria Pente 10, em Lisboa, vai inaugurar na próxima terça-feira e mostrar até 31 de Julho.
Olhando as fotografias, é notório que, mesmo fora de cena, as pessoas continuam a vestir a pele (e não apenas os figurinos) das suas personagens. Há imperadores, reis e princesas, damas de rainha e sibilas, ministros e marqueses, beltrões a gamelões, que continuam a sê-lo no seio da comunidade. São "personagens anónimos a ganharem protagonismo no seu ambiente natural", escreve Adelaide Ginga, num dos textos no catálogo da exposição - o documentário, feito em coprodução com a RTP, espera ainda exibição em Portugal.
As fotografias de S. Tomé, Máscaras e Mito foram feitas em Janeiro de 2008, a convite da Bienal de S. Tomé e Príncipe, que levou Inês Gonçalves e Kiluanje Liberdade de regresso a África, no que foi o retomar de uma parceria que já tinha resultado, em 2007, no trabalho Agora Luanda (com textos de Delfim Sardo e José Eduardo Agualusa).
Evocando agora a sua experiência em S. Tomé, Inês Gonçalves diz que ficou "com imensa vontade de lá voltar", para captar outras personagens e outras representações desta Tragédia (nome genérico da representação teatral), que evoca desgraça. "A cada um a tarefa e o prazer de entender o que ambiguamente, como todos os grandes retratos fazem, e como toda a arte o faz, estas fotografias mostram. A clareza descritiva de todas elas é parte do seu fascínio", escreve João Carneiro, no outro texto do catálogo da exposição.
S. Tomé, Máscaras e Mito, de Inês Gonçalves
Galeria Pente 10, Travessa da Fábrica dos Pentes, 10, Lisboa
Até 31 de Julho
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2 comentários:
Parabéns, o teu blog é bastante consistente e muito interessante.
Gostei muito do seu conteúdo!
Abraços
Rui Sousa
Nossa que fotos!!
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