25 maio, 2009

demasiado perto




Sérgio C. Andrade
(No passado, 25 de Maio de 1954, P2, Público)

Robert Capa morre na Guerra da Indochina

Há uma fotografia, um despacho noticioso de apenas cinco linhas e uma afirmação que se mostraria premonitória dos riscos de levar até aos limites uma ética profissional. A fotografia – a última fotografia – mostra um grupo de soldados, de costas, a avançar temerariamente no delta do Rio Vermelho, no Vietname, em plena guerra da Indochina. Nas costas deles, mas perto deles – fatidicamente perto –, Robert Capa haveria de perecer imediatamente após este clique, porque sempre levou demasiado à letra o seu princípio profissional, estético e mesmo ético: “Se as tuas fotografias não estão suficientemente boas, é porque tu não estavas suficientemente perto.”

O despacho noticioso desse dia 25 de Maio de 1954 da Associated Press dizia laconicamente: “Robert Capa, fotógrafo da Life Magazine, morreu neste dia depois de ter pisado uma mina em Thai Binh, na região norte da Indochina.” Há ainda a descrição de que o fotógrafo tinha ficado com as pernas dilaceradas, mas com a câmara fotográfica junto às mãos.

Foi assim a vida de Robert Capa, nascido em Budapeste, Hungria, em 1913, e baptizado Endre Ernö Friedman – o nome que haveria de assumir mais tarde tornou-se um pseudónimo profissional mas também existencial. Capa esteve sempre perto dos acontecimentos. E por isso ajudou a fazer História: na Guerra Civil de Espanha (como ainda agora se comprovou, uma vez mais, revelados os negativos que captou, com a sua companheira Gerda Taro e o seu amigo “Chim” durante os anos do conflito); no Dia D do desembarque aliado na Normandia, na 2ª Guerra Mundial; na guerra na Palestina, em 1948; na guerra da Indochina, em 1954. Sempre perto dos acontecimentos. E, por uma vez, demasiado perto.

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