28 abril, 2009

Joaquim Cabral (1932-2009)



Joaquim Cabral

O português que fotografou na NASA a chegada do homem à Lua

Sérgio C. Andrade

No seu currículo, surgirá sempre em primeiro plano a circunstância de ter sido o único fotojornalista português a ter acompanhado, em Julho de 1969, há quase 40 anos, na NASA, a partida da nave Apollo 11, que levaria o primeiro homem à lua. Mas Joaquim Cabral, falecido no domingo da semana passada em Ovar, aos 76 anos, deixa também o registo de uma carreira marcante no fotojornalismo durante os anos que viveu em Angola, e depois no ensino da fotografia, no Porto e em Matosinhos, a que dedicou a última parte da sua vida.

Esta vertente pedagógica é realçada por Rui Mendonça, professor de Fotografia na Faculdade de Belas Artes do Porto e na ESAD (Escola Superior de Arte e Design), em Matosinhos, que se assume como discípulo devedor da “lição profissional mas também de vida” de Joaquim Cabral. “Sinto-me privilegiado por ter vivido durante vinte anos esta experiência profissional e humana com ele”, diz Mendonça. E cita a importância do trabalho de Joaquim Cabral como técnico de fotografia, tanto nas Belas Artes do Porto, onde ingressou em 1976, após o regresso de Angola, como, mais tarde, a partir de 1990, na ESAD, de que foi um dos primeiros professores e onde permaneceu até há pouco tempo.

Mas voltemos a 1969, àquele momento histórico que Joaquim Cabral viveu e registou no Centro Espacial Kennedy em Cabo Canaveral, na Florida, quando integrou a privilegiada delegação internacional de fotojornalistas junto dos cientistas e autoridades que acompanharam, da Terra, o lançamento e a aventura da nave Apollo 11 e dos astronautas Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins. “Ficou-me na memória o entusiasmo de todos, rompendo a enorme apreensão que ali se sentia”, recordou o fotojornalista, em entrevista ao Diário de Notícias do passado dia 12 de Janeiro.

As suas fotografias foram publicadas na revista Notícia, em Angola, para a qual trabalhava. Mas, nessa altura, já Joaquim Cabral acumulava outras fortes experiências profissionais. Chegado a Luanda no início da década de 50, com apenas vinte anos (tinha nascido em Lamego, em 1932), o fotógrafo acompanhou profissionalmente vários momentos históricos da então colónia portuguesa, desde as viagens de políticos até à guerra colonial. “Mas ele não era um fotógrafo do regime”, diz Rui Mendonça, salientando o profissionalismo do seu trabalho. “Estive em várias guerras”, comentou o fotógrafo ao DN na citada entrevista. “E foram suas” – diz a biografia-homenagem agora divulgada pela ESAD – “algumas das primeiras fotografias” que chamaram a atenção do mundo para a fome no Biafra.

Em 1961, Joaquim Cabral assinou a fotografia da capa da Notícia com Moisés Tshombe, Presidente do Katanga, um efémero estado africano que declarara a secessão, no ano anterior, logo após a independência do Congo Belga (depois Zaire e actual República Democrática do Congo).

Também nos anos 60, o fotojornalista fizera uma volta ao mundo em 37 dias para a mesma revista de Luanda, a convite do Governo de Macau. “Fizemos um número especial sobre Macau. Partimos de Luanda e a viagem de ida teve paragens de dois dias em Lisboa, Roma, Atenas, Istambul, Teerão, Banguecoque e Hong Kong. Para cá, viemos ao contrário, por forma a percorrermos o outro meio mundo: Macau, Tóquio, Honolulu, S. Francisco, Nova Iorque, Lisboa e Luanda”, recordou o fotógrafo ao DN, sobre esta reportagem feita em 1968 para a Notícia.

Em 1971, Joaquim Cabral assinou, com o poeta Herberto Helder, uma reportagem sobre a catástrofe provocada pelas chuvas, que foi intitulada Lobito das águas violentas. No mesmo ano, acompanhou também o Carnaval no Rio de Janeiro.

Depois do regresso a Portugal a seguir à Revolução de 1974, perdeu-se o rasto da sua carreira de fotojornalista, e Joaquim Cabral dedicou-se ao ensino. Mas continuou ligado à fotografia, tendo mesmo participado em exposições colectivas. Rui Mendonça publicou, com a chancela das edições Gémeo, dois livros com obras suas: Envolto na Neblina (2004), sobre a Ria de Aveiro – “de que ele gostava muito”, nota o editor, e Assinatura do Sol (2005), com o registo de trabalhos dos anos 60 em Angola. A ESAD está a preparar uma exposição de homenagem.


Páginas da revista Notícia com a reportagem em Cabo Canaveral

1 comentário:

Daniel Paadinha disse...

Bem, chamo-me Daniel Paradinha, e lamento a morte do Sr Cabral (como era conhecido na esad). Dava-me bem com ele, comprimentava-me sempre que me via. Do pouco que o conheci, pecebi que era uma pessoa exigente o que é uma boa qualidade, e já no final do meu 4º ano, ou seja, em Julho de 2008, ele me mostrou a tal revista/magazine sobre a primeira viagem à lua :) o que me surpreendeu!! Não sei que dizer mais..apenas lamento mesmo!

 
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