20 março, 2009
*Três perguntas a...
Pedro Loureiro. Nasceu na Gafanha da Nazaré, em 1969. Estudou fotografia na MI21/Ecole des Arts et Metiers de l’image, em Paris. De 1991 a 1998 foi fotógrafo do semanário O Independente. Em 1996, foi bolseiro do programa comunitário Leonardo da Vinci, em Paris. Ajudou a fundar a KameraPhoto, agência de fotógrafos, em 2002, e a K Galeria, em 2005. Entre 1998 a 2005 foi fotógrafo da revista Grande Reportagem, e entre 2006 a 2008 editou a revista Notícias Sábado. Actualmente é free lancer e fotógrafo residente na revista de literatura LER. Desenvolve projectos na área da edição e multimédia. Já publicou fotografias e portfólios em dezenas de jornais e revistas nacionais e internacionais. Vive e trabalha em Lisboa. Expõe actualmente Fotografias 94-05 na livraria e galeria Vemos, Ouvimos e Lemos, em Serpa.
Por que é que fotografas?
Fotografo porque me interessa o outro. Interessa-me a vida dos outros, as histórias que têm para contar, não no sentido voyeur, de ir à procura da intimidade. De alguma forma também há intimidade quando me contam histórias, mas nunca fotografo ninguém sem pedir autorização e sem ter uma pequena conversa e explicar o que é que estou a fazer, o que é que pretendo das pessoas. Salvo raras excepções, falo sempre com as pessoas, tento saber um pouco mais sobre elas.
Não tenho a ousadia de achar que pela fotografia conto a verdade ou faço um mundo melhor - não acredito muito na verdade da fotografia, a verdade da fotografia é sempre relativa.
As tuas fotografias apresentam-se muitas vezes distanciadas do sujeito mas nunca a um ponto de se perder o envolvimento mínimo com o que nos queres mostrar. Dão a informação necessária a partir de um ponto que parece sempre no limite de qualquer coisa. O que é que te leva a optar por este espaço de intermediação?
O que me interessa muitas vezes é fotografar uma narrativa - todas as imagens têm pequenos pormenores que nos permitem construir uma narrativa à volta dessa pessoa. Muitas das minhas imagens têm sido feitas com a intenção de serem publicadas em revistas e jornais, estamos a falar de informação de imprensa. Tento sempre contar uma história em cada fotografia. Mas sei que aquelas imagens vão ter uma determinada escala e por isso tenho de ter algum cuidado a fotografar. Mas também há uma vontade própria, ou seja, quando estou a fotografar não penso se as imagens são para tal ou tal sítio.
Esse distanciamento permite ter narrativas à volta das personagens que são sempre centrais e nunca colaterais. Quando capto pessoas, tento dar o olhar que me é dirigido e depois passá-lo para quem vê. As fotografias têm de ter uma leitura própria e a maneira como as pessoas vão ler as minhas fotografias sempre se me colocou. O espaço que guardo entre mim e o sujeito permite-me dar um bom enquadramento da história - da mesma maneira que um texto não começa numa frase e acaba na outra, também as imagens têm de ter uma ordem de leitura. As minhas fotografias têm sobretudo informação e essa informação é conseguida guardando uma certa distância. Hoje não há muito espaço para este tipo de fotografia, infelizmente foi-se perdendo.
Tens uma vasta experiência na área do fotojornalismo e já acompanhaste diferentes projectos editoriais ao longo dos últimos anos. A que é que atribuis a actual encruzilhada em que está envolvida a produção fotográfica documental de grande fôlego em Portugal?
Tenho dúvidas que haja produção documental de grande fôlego em Portugal - não me parece que esteja a haver. Há de facto muitos jornais, muitas revistas e há pessoas óptimas a trabalhar, mas produção documental não existe. A imprensa tem aí um papel, mas não é exclusivo. Na verdade, se juntarmos todos os trabalhos que os fotojornalistas têm feito talvez consigamos encontrar um conjunto de imagens sobre o que é que foi o país nos anos 80 e nos anos 90. Hoje, as instituições que deveriam pensar nisso não o fazem - o CPF não existe, não é dotado de verbas, o Arquivo Municipal de Lisboa não é dotado de verbas, não há dinheiro, mas, no entanto há dinheiro para vir o Nick Knight e para vir o Steven Klein [para fotografar as campanhas de publicidade Portugal Europe's West Coast]. Aí fala-se sempre em milhões e pergunto por que é que esses milhões não são aplicados num conjunto de fotógrafos, de arquitectos, de artistas plásticos, de pintores que documentem e pensem o que há em Portugal.
Ao contrário de outros países não se está a fazer nada. Em França, por exemplo, o Ministério da Agricultura tem uma série de fotógrafos durante o ano inteiro a registar como é hoje a agricultura em França. E comparam como é que foi a agricultura nos anos 70, como é que foi nos anos 80, e como é que as coisas chegaram onde chegaram. Cá não há ninguém. Acho que o problema da falta de produção documental em Portugal passa mais por aí do que propriamente pelos jornais que não têm de ter essa responsabilidade. Há instituições e ministérios que deveriam ter essa responsabilidade e não a têm.
Daqui a uns anos vamos estar a perguntar como é que este país era há 10 ou há 20 anos. Se isto continua assim, havemos de chegar a 2020, a 2030 sem registos nenhuns. Curiosamente os fotógrafos até fazem mais esse registo em termos internacionais - vão mais à Holanda, à Inglaterra, à Alemanha - do que cá em Portugal. Muitas vezes nem estamos a falar de grandes verbas, estamos a falar de coisas muito pequenas.
Há na fotografia em Portugal um problema que não sei identificar. Vejo muitas exposições, mas é tudo muito efémero. O documental e o fotojornalismo não estão na moda. Há até uma vergonha de os meter na parede, uma vergonha de nós próprios, e isso é uma coisa também muito portuguesa, mas já era tempo de acabar. Tenho muita pena, mas produção documental de grande fôlego em Portugal não há.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Muito bem a sua resposta a terceira pergunta..
Enviar um comentário