08 novembro, 2008

Carroll


Lewis Carroll como fotógrafo vitoriano

Luís Miguel Queirós
(P2, Público, 04.11.2008)

A historiadora de arte Anne Higonnet acaba de lançar, com a chancela da Phaidon, o livro Lewis Carroll, que reúne, devidamente contextualizadas, 55 fotografias tiradas pelo criador de Alice no País das Maravilhas. Foi este extraordinário livro para crianças, publicado em 1865, bem como a sua sequela, Alice do Outro Lado do Espelho (1871), editados sob o pseudónimo Lewis Carroll, que celebrizaram Charles Dodgson. No entanto, esta singular figura da Inglaterra vitoriana teve muitos outros talentos, da matemática à fotografia.

Muito antes de publicar as aventuras de Alice, presumivelmente inspiradas em Alice Lidell, filha do deão do colégio anglicano onde ensinava, Dogson tinha já um vastíssimo currículo como fotógrafo. Ao longo de 25 anos de actividade - interessou-se pela fotografia quando esta ainda dava os primeiros passos -, produziu algumas três mil imagens. Neste livro encontram-se retratos de parentes de Dogson, paisagens, e também diversas fotografias de crianças, o tema predilecto do autor. Por vezes fotografava-as nuas, o que levou a que sobre ele recaíssem suspeitas póstumas de pedofilia. Uma tese que Higonnet desmonta, fazendo notar que, à luz das convenções sociais vitorianas, as imagens da nudez infantil eram perfeitamente aceitáveis.

Numa época dominada pela perspectiva romântica da inocência da infância, o olhar de Dogson singularizava-se mais pela sua dimensão onírica do que por uma carga sexual que estará mais no olhar contemporâneo do que nas intenções do fotógrafo.

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