15 outubro, 2008

Jerónimo

Jerónimo Viana a bordo do "Portugal Novo", Testemunhos
© António Júlio Duarte



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A noite é mais escura no mar, porque não é só o céu que está apagado. Há sempre terra à vista, nem que seja um fio de luzes. Por vezes parece que a perdemos mas ela limitou-se a mudar de flanco. O barco roda.
«Pronto. Querias a terra, já está do teu lado.»
É sempre de noite que o Portugal Novo e a sua tripulação deixam a doca de Leixões. Tem de ser de noite, para o polvo não fugir. As bóias sinalizam as zonas de boas largadas, onde estão os alcatruzes ou potes, que foram deixados uma semana, quinze dias ou um mês antes. Para dar tempo ao polvo de entrar. O que os homens fazem agora a estibordo, impermeáveis ao frio, é, na linguagem do mar, a alagem. A recolha dos potes, com o polvo lá dentro. Quando vem lá dentro. Para o fisgar de dia há outras manhas: gaiolas. E ainda há a rede para a faneca, o congro, a pescada.

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Kathleen Gomes, Jerónimo

Nota: O catálogo Testemunhos vai ser lançado amanhã na livraria Byblos, em Lisboa, às 18h30.

Testemunhos — Trajectos de Qualificação
Vários autores
Centro de Congressos da Alfândega, Porto
Até 30 de Novembro

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