De Kol, Cabo Oriental, 10 de Abril de 1993. Monumento em honra de Karel Landman, que liderou o Great Trek, um dos movimentos de ocupação do território sul-africano por colonizadores Bóers no século XIX
Quando o apartheid foi abolido, em 1990, a realidade que tinha estado na origem do trabalho fotográfico de David Goldblatt (n. 1930, Randfontein, África do Sul) ao longo de 30 anos deixou de existir. Apesar de ser um momento pelo qual tinha esperado a maior parte da sua vida, Goldblatt entrou em crise e, ao que parece, deixou de fotografar durante alguns anos. Quando voltou à fotografia, voltou diferente: começou a fotografar a cores e paisagens (o que antes considerava inapropriado).
Branco e judeu, Goldblatt documentou de forma exaustiva a segregação na África do Sul, constituindo a sua cartografia humana e geográfica. A exposição no Museu de Serralves, composta sobretudo por pares de fotografias, confronta Goldblatt com Goldblatt, o apartheid com o pós-apartheid: nalguns casos, o fotógrafo sul-africano voltou aos mesmos lugares décadas depois para os fotografar. Nalguns casos, pouco mudou. O apartheid foi abolido, mas o pós-apartheid ainda não existe, porque a segregação continua inscrita na paisagem.
Há fotografias de Goldblatt que evocam o trabalho pioneiro de Robert Frank em The Americans (1958) e outras que nos fazem pensar no modo como Stephen Shore fotografou a paisagem americana na década de 1970. É preciso ter olho para ver Godblatt: as suas imagens revelam subtileza e ambiguidade. Não têm a ver com acontecimentos, mas com o que acontece nos seus intervalos. Se calhar, a vida.
(Público, 25.07.2008)
Para ler a crítica de Óscar Faria clique aqui.
Intersecções Intersectadas, de David Goldblatt
Museu de Serralves, Porto
Até 12 de Outubro
1 comentário:
Aqui nasceu o Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
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