“A porta do quarto se fechou, deixando Farida só. No pente de metal, em cima da mesinha, havia ainda cabelos seus, caracoladinhos como crianças no ventre materno. Tardou em cada objecto, parecendo que as coisas que em tempos tocara, saudosas, lhe reconheciam agora. Na parede húmida estava ainda uma fotografia sua, em moldura de madeira. Aquela era sua única imagem. Por isso, lhe ocorreu levar a foto consigo. Quando a retirava viu que, no papel amarelecido, ela já não estava sozinha. Em redor do rosto dela estavam desenhadas figurinhas várias, tantas que pareciam mover-se e trocarem de posição. Sorriu, decidida a devolver a moldura à parede. Aquela era obra de Virginha, pondo vida em seu retrato.”
12 agosto, 2008
“entre aspas”
Mia Couto, Terra Sonâmbula
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