10 abril, 2008


entre aspas

(J. Pascal Sébah)

-Dize lá, Alpedrinha! Tem-la visto, a Maricoquinhas? Que tal está? hein? Rechonchudinha?
Elle baixou o rosto murcho, onde um estranho rubor lhe avivára duas rosas.
-Já não está... Foi para o Tebas!
-Para o Tebas? Onde há umas ruinas?... Mas isso é no alto Egypto! Isso é em cascos de Nubia! Ora essa!...Que foi ella lá fazer?
-Alindar as vistas, murmurou Alpedrinha com desolação.
Alindar as vistas! Só comprehendi quando o patricio me contou que a ingrata rosa d`York, adorno d`Alexandria, fôra levada por um italiano de cabelos compridos, que ia a Tebas photographar as ruinas d`esses palacios onde viviam face a face Raméses, rei dos homens, e Ammon, rei dos Deuses... E Maricoquinhas ia amenisar "as vistas", apparecendo n`ellas á sombra austera dos granitos sacerdotaes, com a graça moderna do seu guardasolinho fechado e do seu chapeu de papoilas...

-Que descarada! gritei eu, varado. Então com um italiano? E gostando d`elle? Ou só negocio?... Hein, gostando?
-Babadinha, balbuciou Alpedrinha.


Eça de Queirós, A Relíquia, 12ª edição, 1935

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