Uma fotografia não necessita de ser um documento, pode ser uma canção. Não necessita de ser matéria, pode aspirar a ser orgânica
Há já muitos anos que se discute a definição de fotografia, as suas fronteiras e o seu propósito. É sempre uma discussão interessante.
Não acredito de todo nesta definição de Daniel Blaufuks mas percebo o contexto da mesma no trabalho deste autor. Se a palavra "fotografia" fosse substituída por "imagem" aí teríamos um ponto de partida.
Já houve bastantes artistas/fotógrafos que tentaram aproximações diferentes à fotografia, algumas delas muito interessantes.
Recentemente, estou-me a recordar da "TXT", do Colectivo Kameraphoto, na qual não eram exibidas fotografias mas sim textos descritivos sobre uma fotografia. No entanto, a fotografia descrita existia e poderíamos vê-la se assim quiséssemos. Caso contrário, ficaríamos sempre com uma imagem na nossa cabeça. Uma imagem, não uma fotografia.
Acredito que um cego possa “ver” e perceber imagens, mas nunca uma fotografia. Bem, talvez em relevo, mas isso seria uma discussão mais técnica e menos interessante.
Uma fotografia é obrigatoriamente um suporte físico, geralmente em papel. O processo pelo qual lá chega inicia-se na própria luz e percorre caminhos mais ou menos técnicos que sempre evoluíram ao longo do tempo.
Pelo caminho existem todas as influências que fizeram de uma imagem uma fotografia. São muitas. São sempre pessoais. No meu caso, fotografo normalmente sozinho, lentamente e a ouvir música. Sei até que ponto me são sugeridas imagens devido a isso. Se as torno ou não em fotografias depende de até que ponto as acho separáveis dessa influência. Se for inseparável, não acho que valha a pena transformar a imagem em fotografia. Recordo-a, tento memorizá-la.
Aliás, é isso que faço a maior parte do tempo, sempre que não tenho a máquina por perto e registo mentalmente uma imagem que nunca poderá tornar-se numa fotografia.
Para mim, uma fotografia necessita de ser um documento, uma materialização de uma imagem. Sim, pode aspirar a ser orgânica.
Em complemento ao que disse no penúltimo parágrafo, aconselho um blog que encontrei há pouco tempo, chamado “The Photographs Not Taken”, começa por se descrever assim: “The Photographs Not Taken is a collection of essays by photographers about the times they didn't use their camera. This collection is a series of photographs not taken with a camera, but, instead, lived and remembered”. O link: http://www.thephotographsnottaken.com/
* OArte Photographica inspira-se na ousadia empreendedora da revista A Arte Photographica (1884-1885), exemplo pioneiro da paixão pelos assuntos estéticos e técnicos da fotografia no Portugal de Oitocentos
4 comentários:
Grande frase!
e que tipo de canção, um fado, um bolero ou trash-metal ???
Uma fotografia não necessita de ser um documento, pode ser uma canção. Não necessita de ser matéria, pode aspirar a ser orgânica
Há já muitos anos que se discute a definição de fotografia, as suas fronteiras e o seu propósito. É sempre uma discussão interessante.
Não acredito de todo nesta definição de Daniel Blaufuks mas percebo o contexto da mesma no trabalho deste autor. Se a palavra "fotografia" fosse substituída por "imagem" aí teríamos um ponto de partida.
Já houve bastantes artistas/fotógrafos que tentaram aproximações diferentes à fotografia, algumas delas muito interessantes.
Recentemente, estou-me a recordar da "TXT", do Colectivo Kameraphoto, na qual não eram exibidas fotografias mas sim textos descritivos sobre uma fotografia. No entanto, a fotografia descrita existia e poderíamos vê-la se assim quiséssemos. Caso contrário, ficaríamos sempre com uma imagem na nossa cabeça. Uma imagem, não uma fotografia.
Acredito que um cego possa “ver” e perceber imagens, mas nunca uma fotografia. Bem, talvez em relevo, mas isso seria uma discussão mais técnica e menos interessante.
Uma fotografia é obrigatoriamente um suporte físico, geralmente em papel. O processo pelo qual lá chega inicia-se na própria luz e percorre caminhos mais ou menos técnicos que sempre evoluíram ao longo do tempo.
Pelo caminho existem todas as influências que fizeram de uma imagem uma fotografia. São muitas. São sempre pessoais. No meu caso, fotografo normalmente sozinho, lentamente e a ouvir música. Sei até que ponto me são sugeridas imagens devido a isso. Se as torno ou não em fotografias depende de até que ponto as acho separáveis dessa influência. Se for inseparável, não acho que valha a pena transformar a imagem em fotografia. Recordo-a, tento memorizá-la.
Aliás, é isso que faço a maior parte do tempo, sempre que não tenho a máquina por perto e registo mentalmente uma imagem que nunca poderá tornar-se numa fotografia.
Para mim, uma fotografia necessita de ser um documento, uma materialização de uma imagem. Sim, pode aspirar a ser orgânica.
Em complemento ao que disse no penúltimo parágrafo, aconselho um blog que encontrei há pouco tempo, chamado “The Photographs Not Taken”, começa por se descrever assim: “The Photographs Not Taken is a collection of essays by photographers about the times they didn't use their camera. This collection is a series of photographs not taken with a camera, but, instead, lived and remembered”. O link: http://www.thephotographsnottaken.com/
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