29 novembro, 2007

*Três perguntas a...


Valter Vinagre, auto-retrato, Lisboa, Novembro de 2007
(© Valter Vinagre)

Valter Vinagre. Nasceu em Avelãs de Caminho, em 1954. Vive e trabalha nas Caldas da Rainha e em Lisboa. Frequentou o Plano de Estudos em Fotografia do Ar.Co em Lisboa, entre 1986 e 1989. Expõe individualmente desde 1988 e colectivamente desde 1989. Publicou mais de uma dezena de livros de fotografia, entre os quais Cá na Terra (texto de Manuel Hermínio Monteiro), Na Cidade (texto de Jorge Calado) e Topografias do Vinho e da Vinha. Está representado em vários colecções públicas e privadas. Faz parte do colectivo [kameraphoto]. Expõe actualmente no Voyeur Project View, em Lisboa, um conjunto de oito imagens a que chamou Sob a Pele, 1996 - 2007.

¿Por que é que fotografas?
Fotografo movido por ideias que me levam a interpelar o mundo que nos rodeia e com a certeza de que a minha percepção das coisas visa não tanto a representação da realidade, mas a realidade da representação.

¿A palavra cartografia aparece muito associada ao teu trabalho mais recente. Por que linhas queres que sigamos?
Sim é verdade que a palavra "cartografia" aparece cada vez com mais frequência associada ao meu trabalho. Quando fotografo sigo várias estratégias na obtenção do resultado final. Não estou preocupado em dar pistas ou forçar leituras a quem vê os meus trabalhos. Pelo contrário, procuro dar liberdade total de interpretação - que cada um retire das minhas imagens a sua história. Interessa-me cada vez mais dar a ver simplesmente o que se nos apresenta como uma evidência.
Tenho utilizado uma estratégia "cartográfica" porque me parece a mais acertada como método e a que melhor se adapta à minha maneira de trabalhar.

¿Em Sob a pele, 1996-2007 temos a representação da mudança carnal num suporte que na verdade a aprisiona na imobilidade fotogénica. Este aparente paradoxo foi um empecilho?
Em Sob a pele, 1996 - 2007 a representação do real do corpo feminino não existe. Existe sim o que chamo realidade da representação - uma representação da evidência que nesta série realizo através de um grau de quase abstracção.
Neste como em outros trabalhos importa-me dar a ver não tanto o que reflecte a realidade por fora, não tanto o manto opaco da aparência , mas a falha nesse manto. Dar a ver por dentro , no ponto mais denso, o ponto de enfoque que vai imiscuir-se na falha da representação, esta encenação da imagem.
Creio que é através da representação das evidências , do questionar o que está para lá da representação da realidade que fujo aos vários empecilhos que cada novo trabalho me pode trazer.

Da série Sob a Pele, 1996-2007
(© Valter Vinagre)

Sem comentários:

 
free web page hit counter