Manifestação anti-imperialista de 2 de Julho de 1954
“Pela primeira vez na minha vida, pus um lenço na cabeça sem reparar que estava todo amarrotado.
Podia sentir com exactidão o meu rosto cavado pela dor, a chuva daquele dia cinzento insinuando-se nos sulcos. Nenhuma maquilhagem. Para quê? Não tenho coragem de me armar em coquette. De qualquer maneira, não teria iludido ninguém sobre o meu estado. Já não tenho coragem para nada, nem mesmo para sofrer.
Diego empurrava a minha cadeira de rodas.
Quis ainda acreditar que há causas mais importantes do que a minha invalidez, do que os meus tormentos. Causas superiores, ao lado das quais os meus males são coisa de pouca monta. De qualquer modo, vendo bem, assim destroçado, o meu corpo já não é digno de interesse.
É preciso sacrificar o individual à grandeza de causas mais universais. Duvidar disto seria um crime contra a humanidade. Acredito nisto.
Olho para uma fotografia minha tirada durante a manifestação.
Tenho ar de quê? O desespero ambulante. A minha cara não traduz senão tristeza.
Não há senão sombras no quadro.
Dramatis personae.
Vou rasgar esta fotografia. Não. Não tenho força para o fazer.”
Rauda Jamis, Frida Khalo, Quetzal
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